Análise: BCs desenvolvidos caminham lentamente rumo à normalização

    Roberta Costa | De São Paulo

    Um dia depois de o Federal Reserve elevar pela terceira vez neste ano as taxas de Juros, Bancos Centrais europeus mantiveram inalteradas suas políticas, mas sutilmente já apontam para uma normalização futura diante de um cenário de rara e sincronizada expansão na economia mundial.

    O Banco Central Europeu (BCE) deixou suas taxas de Juros inalteradas, mas suas novas projeções econômicas preveem agora um forte crescimento para a zona do euro até 2020. Talvez seja o primeiro sinal de uma mudança na orientação futura da política, que deve acontecer ao longo dos próximos meses em preparação ao fim do programa de estímulos. Provavelmente todos os passos da autoridade serão detalhadamente pensados para não causar um aperto nas condições de mercado.

    O Conselho do BCE espera que a economia da zona do euro cresça 2,3% em 2018, revisão respeitável em relação à taxa de 1,8% projetada em setembro. A autoridade continua a esperar que este ano seja o melhor da área monetária desde 2007. Draghi, no entanto, reiterou o mote de que as taxas de Juros “permanecerão em seus níveis atuais por um longo período de tempo” e confirmou o plano de continuar comprando títulos do governo e outros ativos até setembro de 2018, mas em volume reduzido, de € 30 bilhões em média ao mês.

    O motivo de sua cautela é que a recuperação do crescimento ainda não alterou significativamente as perspectivas de inflação. Os economistas do BCE elevaram a previsão para o próximo ano, mas ainda a veem ficar abaixo da meta de pouco abaixo de 2% em 2018 e 2019.

    Como o BCE, os BCs da Suíça e da Noruega não mudaram suas taxas de Juros de referência (-0,75% e 0,5%, respectivamente) e indicaram que um primeiro passo para levar de volta a níveis que eram considerados normais antes da crise global não está longe.

    No caso da Suíça, a política monetária está associada às decisões do BCE, já que parte substancial de sua economia é destinada à zona do euro. Já o BC da Noruega disse que espera um primeiro aumento de Juros no outono de 2018, ante expectativa anterior que isso ocorresse apenas em 2019.

    O Banco da Inglaterra (BoE) também deixou sua taxa de Juros de referência inalterada em 0,5%, embora esteja à frente da maioria de seus pares europeus, já tendo elevado no mês passado a taxa pela primeira vez em uma década. O BC britânico enfrenta um desafio único que é mensurar os impactos do Brexit no início de 2019 sobre a economia. O processo já está atrasando investimentos na região.

    O Comitê de Política Monetária do BoE disse que espera elevar ainda mais sua taxa de referência nos próximos três anos para trazer a inflação anual, que atingiu 3,1% em novembro, de volta a meta de 2%.

    A persistente divergência das políticas entre os principais Bancos Centrais do mundo, uma década após o início da crise financeira global, persiste. Embora o Fed tenha gradualmente elevado as taxas de Juros desde o fim de 2015, o BCE não deverá começar a aumentar as taxas até o fim de 2019.

    Essa divergência ajuda a apoiar a recuperação econômica da Europa, que está em um estágio anterior a dos Estados Unidos, disse Draghi na entrevista. Daí seu discurso “dovish”.

    Horas após a alta de Juros nos EUA, o Banco do Povo (BC da China) seguiu o exemplo, aumentando as taxas que cobra em operações de mercado aberto e em empréstimos de médio prazo. Também a Turquia subiu a taxa da janela de liquidez em 50 pontos-base, para 12,75%.

    Otimismo com economia, cautela com inflação 

    O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, expressou ontem seu otimismo com a economia, mas cautela com a inflação na zona do euro. “Podemos dizer com segurança que o risco de deflação desapareceu, e mesmo o risco de inflação a 0,5%, como há um ano, diminuiu significativamente.” Segundo Draghi, o BCE está mais confiante em alcançar a meta de inflação do que há dois meses. Mais uma vez, Draghi reiterou que um “amplo grau de estímulos ainda permanece necessário” e que “as pressões domésticas sobre os preços ainda precisam se mostrar mais consistentes”.

    Fonte: Valor Econômico

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