Aplicador com mais dinheiro busca alternativa ao Tesouro

    Nathália Larghi | De São Paulo

    O analista comercial Rafael Bambino trocou parte dos seus investimentos no Tesouro Direto por aplicações em renda variável no ano passado. E ele não foi exceção. As aplicações em Títulos públicos caíram em todas as faixas de aplicação, com exceção daquelas de até R$ 1 mil, em novembro de 2017 (dado mais recente da B3) ante novembro de 2016.

    A explicação, segundo especialistas, é que os investidores – principalmente aqueles com mais dinheiro disponível e mais qualificados – fugiram da renda fixa em busca de maiores ganhos após a queda da Selic, que saiu de 14,25% em outubro de 2016 para 7% ao final de 2017.

    No acumulado do ano passado até novembro, todas as faixas de aplicação tiveram alta, mas o aumento foi muito inferior ao registrado nos anos anteriores. As aplicações de até R$ 1 mil, por exemplo, foram as que mais cresceram em 2017 ante 2016, com alta de 55%. Em 2015 e 2016, no entanto, o aumento anual dessa faixa mais que dobrava.

    Nessa comparação anual, ainda se destacam as aplicações de R$ 1 mil a R$ 2 mil e de R$ 3 mil a R$ 4 mil, que subiram 24% e 12%, respectivamente. Todas as demais faixas tiveram aumento percentual de apenas um dígito. Em 2016, as altas variavam de 15% a 101%, e em 2015, de 135% a 219%.

    “Teve uma queda abrupta na taxa de Juros e isso faz com que os títulos do Tesouro tenham rentabilidade menor”, explica Juliana Inhasz, professora de finanças do Insper. “Em 2015 e 2016, apesar da crise, tínhamos atratividade forte, porque, como a taxa era alta e tinha perspectiva de queda, muita gente aplicou e ganhou grana”, diz.

    A professora explica que geralmente quem aplica até R$ 1 mil não busca investimentos mais arrojados porque não tem o suficiente para se arriscar, por isso as aplicações na faixa de até R$ 1 mil continuaram crescendo. Mas quem tem mais dinheiro disponível, afirma, está procurando alternativas como fundos multimercado ou até mesmo operações diretas na bolsa.

    Foi o que fez Bambino, que passou a investir mais em alternativas como fundos de investimento imobiliário (FIIs) e ações. “As taxas não estão mais atrativas como antes”, diz. Pra ele, correr mais riscos em renda variável para obter um rendimento maior tem “compensado mais”.

    Gilberto Abreu, diretor de investimentos do Santander, também percebeu a tendência entre os clientes do banco. Ele conta que em 2017 clientes com um perfil moderado passaram a aceitar mais risco. “E eram investidores mais sofisticados, que sabiam comprar um papel do Tesouro e passaram a buscar essas outras opções quando a rentabilidade caiu”, afirma. Ele explica que anteriormente não havia motivação para que os clientes, ainda que mais experientes no mercado financeiro, saíssem da renda fixa. “Nós acostumamos os investidores à alta rentabilidade, liquidez diária e baixo risco. Algo que só se via aqui”, afirma.

    Além de perceber esse movimento de troca de investimentos de renda fixa por alternativas mais arrojadas, Rodrigo Ayub, gerente executivo da unidade de captação e investimentos do Banco do Brasil, presume que ele deve se intensificar devido à expectativa de que a Selic se estabilize em um patamar menor. Para ele, produtos como fundos multimercados, que oferecem a possibilidade de aumentar a rentabilidade sem representar tanto risco, devem ter um forte aumento na procura.

    Ele considera, no entanto, que o Tesouro Direto vai continuar ganhando adeptos, principalmente entre aqueles que estão começando a investir além da Poupança. “A exigência de valores pequenos e o alto fluxo de informações que o mercado promove acerca desse investimento faz com que ele cresça cada vez mais”, diz o executivo.

    O maior fluxo de informações disponível, no entanto, pode ter sido também o responsável pela saída de alguns investidores do Tesouro. Assim como a divulgação de dados e notícias sobre os títulos do governo atraíram aplicadores nos últimos anos, o aumento de conteúdo sobre investimentos na internet também fez com que as pessoas percebessem que existem alternativas mais rentáveis.

    “O investidor hoje tem mais informação. Isso diminuiu a febre que foi o Tesouro Nacional que vimos nos últimos anos. Todo mundo queria comprar título público. Mas a economia precisou se reinventar para ter mais rentabilidade e as pessoas viram isso e mudaram”, afirma Juliana Inhasz, do Insper.

    Abreu, do Santander, concorda. Ele destaca que atualmente existem mais veículos de informação que são cada vez mais acessíveis. “Com YouTube, mídias sociais e conteúdo on-line, as pessoas começam a aprender. A mudança está aí, antigamente se educar financeiramente era um processo muito demandante, custava muito”, diz.

    O analista de sistemas Tácio Belmonte é um exemplo de investidor que buscou informações sobre outras aplicações na internet. Ele conta que aplica no Tesouro desde 2015, mas resolveu fazer uma retirada em 2017 para investir em aplicações mais rentáveis. Ele afirma que começou a buscar informações sobre essas alternativas em grupos sobre o tema no Facebook e em vídeos postados pelas corretoras nas redes sociais.

    Para Belmonte, o conteúdo disponível não é diretamente responsável por aumentar a quantidade de investidores, mas facilita o trabalho de quem já está interessado no assunto, além de ajudar as pessoas a aprenderem sobre outras aplicações que podem se adequar mais ao perfil de cada um.

    O executivo do Santander, por outro lado, afirma que as inúmeras variáveis que compõem o mercado financeiro, principalmente em aplicações da bolsa, fazem com que a ajuda de profissionais ainda seja importante.


    Fonte: Valor Econômico

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