Ata mantém chance de corte na Selic

    Ata mantém chance de corte na Selic

    Na ata divulgada ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central mostrou uma divisão entre seus membros sobre sinalizar um possível encerramento do ciclo de corte de Juros iniciado em outubro de 2016. Mantidas as condições atuais, o juro ficaria estacionado onde está, mas se ocorrerem surpresas para baixo na inflação haveria espaço para uma redução moderada adicional.

    O documento mostrou consenso sobre a redução de 0,25 ponto percentual feita na semana passada, que levou a Selic a 6,75% ao ano, e detalhou o debate interno sobre o grau de liberdade a ser mantido na comunicação sobre o próximo passo da política monetária, a ser tomado nos dias 20 e 21 de março.

    Alguns membros manifestaram preferência por elevado grau de liberdade, favorecendo comunicação mais simétrica sobre o próximo passo, enquanto outros propuseram sinalizar mais fortemente a possível interrupção do ciclo de flexibilização. No fim, todos concluíram ser apropriado sinalizar que, caso a conjuntura evolua conforme o cenário básico do Copom, a interrupção do processo de flexibilização monetária parece adequada sob a perspectiva atual.

    Entretanto, avaliaram também que cabia comunicar que essa visão para a próxima reunião pode se alterar e levar a uma flexibilização monetária moderada adicional, caso haja mudanças na evolução do cenário básico e do balanço de riscos. Dentro desse debate, o Copom ponderou, por um lado, que a continuidade do ambiente com inflação subjacente em níveis confortáveis ou baixos, com intensificação do risco de sua propagação, abriria espaço para essa flexibilização adicional.

    A ata também mostrou que o mesmo ocorreria no caso de alterações no balanço de riscos que resultem em menor probabilidade de aumento de prêmios de risco e consequente elevação da trajetória prospectiva da inflação.

    Por outro lado, o colegiado afirmou que a evolução da conjuntura em linha com o cenário básico do Copom, a recuperação mais consistente da economia e uma piora no cenário internacional favoreceriam a interrupção do processo de flexibilização.

    O cenário base do Copom é que a recuperação da atividade apresenta maior consistência e que nesse contexto, à medida que a atividade econômica se recupera, a inflação tende a voltar para a meta. Ainda assim, a avaliação é que há ociosidade dos fatores de produção, o que suporta a avaliação do BC de que o quadro atual prescreve política monetária estimulativa.

    No lado da inflação, o colegiado afirma que o cenário tem evoluído conforme o esperado, com algumas medidas de inflação subjacente em níveis confortáveis – condizentes com a meta – e outras em níveis baixos, mais próximos do piso da meta.

    A avaliação sobre o cenário externo é que se mantém favorável, com crescimento econômico bastante disseminado, apesar da volatilidade recente das condições financeiras nas economias avançadas. O BC também citou que surgem sinais de que as condições no mercado de trabalho começam a elevar os salários em algumas economias centrais. E que há perspectiva de retorno das taxas de inflação nessas economias para patamares mais próximos de suas metas.

    O documento reforça a posição já externada pelo Copom de que a política monetária tem flexibilidade e terá reação simétrica a choques inflacionários e deflacionários. E que, após debate, os membros do colegiado entenderam que a permanência de medidas de inflação subjacente em patamares baixos – mais próximos do piso da meta – constitui risco baixista para a trajetória prospectiva para a inflação. Por outro lado, o colegiado disse que permanece a expectativa de que a recuperação da atividade econômica contribua para elevação da inflação subjacente rumo à meta no horizonte relevante.

    Segundo o Copom, o cenário básico para a inflação envolve fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, está a possibilidade de a inflação ficar abaixo do esperado como reflexo do choque favorável de preços de alimentos e propagação inercial do atual baixo patamar de preços. Por outro lado, está a possibilidade de uma trajetória de inflação acima do estimado por uma frustração com a agenda de reformas. Risco que se intensifica em caso de reversão do cenário externo favorável.

    As projeções apresentadas são de IPCA em torno de 4,2% para 2018 e 2019, considerando as estimativas do Focus de Selic de 6,75% no fim de 2018 e de 8% no encerramento de 2019.

    O documento mostra que o Copom não estendeu seu debate para além da reunião de março, afirmando apenas que os “próximos passos” dependerão da avaliação da conjuntura econômica. O colegiado afirma que, por ora, as ações da política monetária colocam foco sobretudo em cumprir a meta de inflação de 4,5% de 2018, já que foi mantida a avaliação de 2019 com “peso menor e gradualmente crescente”.

    BC repete padrão de dissenso em fim de ciclo

    Por Alex Ribeiro | De Brasília

    Banco Central (BC) está dividido sobre as chances de um corte moderado de Juros em março, seguindo o padrão de maior dissenso no colegiado observado na reta final dos três ciclos anteriores de distensão monetária.

    A ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC revela que alguns membros do colegiado queriam fazer uma sinalização simétrica sobre a reunião de março. Ou seja, eles davam pesos iguais para as hipóteses de um corte de 0,25 ponto percentual nos Juros e de interrupção do ciclo de baixa. Já outros membros do Copom queriam sinalizar mais fortemente o fim do ciclo de corte de Juros, deixando apenas uma fresta para a possibilidade de voltar a baixar a taxa básica.

    Combinando a visão desses dois grupos do Copom, as chances de um corte adicional de Juros em março, presentes na reunião da semana passada, eram bem menores do que 50%.

    Naturalmente, o que vai definir se os Juros vão de fato cair é a evolução da conjuntura econômica e dos chamados fatores de risco até a reunião de março.

    Muitos analistas econômicos vinham se apegando a um fator ou outro como o mais importante para a decisão do Copom, como a aprovação da Reforma da Previdência. Mas o documento mostra que a decisão seguirá uma análise mais complexa, com pontos diferentes que podem fazer o Copom baixar os Juros e que podem levá-lo a parar por aqui.

    Uma das forças que poderá fazer o BC baixar mais os Juros é a “continuidade do ambiente com inflação em níveis confortáveis ou baixos, com intensificação do risco de sua propagação”. Nesse ponto, é importante observar que o Copom não está esperando que os indicadores de inflação fiquem baixos para agir. O colegiado menciona “baixos ou confortáveis”. Na nomenclatura do Copom, núcleos baixos são aqueles que perpetuam a inflação em níveis abaixo do piso da meta. Núcleos “confortáveis” são compatíveis com a convergência da inflação ao centro da meta.

    Os núcleos do IPCA divulgados na semana passada vieram todos baixos e, para muitos analistas, se continuarem assim em fevereiro, o Copom poderá cortar mais os Juros. O que o próprio colegiado diz na ata de ontem, porém, é que não basta a inflação subjacente ficar em níveis “baixos ou confortáveis”; tem que haver uma “intensificação” no risco de sua propagação para os índices de preços.

    A propagação da inflação baixa ocorre por meio da inércia e – o que é mais importante num regime de metas – pelas expectativas de inflação. Será preciso observar, portanto, como as expectativas de inflação reagirão a uma eventual continuidade dos núcleos baixos e confortáveis.

    Não é só a inflação baixa que poderia levar a Juros menores. Alterações no balanço de risco “que resultem em menor probabilidade de aumento de prêmios de risco e consequente elevação na trajetória da inflação” também entram na conta. Nesse caso, o Copom parece se referir às perspectivas de aprovação das reformas, em particular a da Previdência.

    A aprovação da Reforma da Previdência levaria a Juros menores? Provavelmente sim. Seria preciso aprová-la para baixar os Juros? Não. O BC vem afirmando que não responde à tramitação das reformas de forma mecânica e binária. Notícias que apoiem as chances de aprovar a reforma no fim deste governo ou no início do próximo podem ser suficientes.

    A ata do Copom também lista três fatores que poderiam interromper o processo de baixa de Juros. Um deles é a conjuntura caminhar dentro do cenário básico. O cenário básico de trabalho do BC é que a inflação suba gradualmente para a trajetória das metas. Outro fator que poderá levar o BC a parar com a baixa de Juros é uma recuperação “mais consistente” da economia. Hoje, o Copom já vê uma recuperação apenas “consistente”.

    Um terceiro fator é uma piora no cenário internacional. O cenário básico do BC, informa a ata, é que a normalização das condições monetárias nas economias avançadas vá ocorrer “de maneira gradual”. Mas o BC pondera que a inflação nas economias desenvolvidas caminha para patamares mais próximos das metas e que os salários estão subindo. Isso poderá provocar volatilidade nos mercados e afetar as condições financeiras para as economias emergentes.

    Como se vê, o Copom estava dividido na semana passada sobre mais um corte de Juros, pendendo mais para deixar a taxa em 6,75%. E deverá analisar um conjunto muito amplo de fatores para a sua decisão de março.

    Mercado aumenta aposta em nova redução dos Juros em março

    Por Lucas Hirata, Lucinda Pinto e José de Castro | De São Paulo
    Se o comunicado da decisão do Copom da semana passada sinalizou apenas uma pequena chance de mais corte de juro, a ata da reunião, divulgada ontem, deu a entender que a extensão do ciclo de afrouxamento monetário é uma possibilidade real.

    O relato da discussão entre os membros do Copom revela que a ideia de encerrar o ciclo de corte de Juroscom a Selic em 6,75% ao ano não foi consensual. E que a evolução da inflação, dos seus núcleos e das expectativas, além da atividade econômica, é que vai definir o próximo passo.

    Para o Santander Brasil, a surpresa com a inflação de janeiro (que veio menor que a esperada) e a expectativa de que os índices de preços mantenham “performance favorável” em fevereiro já justifica revisão para o patamar da Selic de março. O banco espera agora que o juro básico seja reduzido no próximo mês dos atuais 6,75% ao ano para 6,5%, patamar no qual permanecerá até o fim do ano.

    A queda adicional da Selic, porém, não forçará o BC a subir os Juros ainda mais em 2019, de acordo com Maurício Molan, economista-chefe do Santander Brasil, que segue projetando taxa de 8,5% ao término de 2019. Molan diminuiu ainda a estimativa para o IPCA de 2018 de 3,8% para 3,5%, mantendo em 4% o prognóstico para 2019. As previsões seguem abaixo do centro da meta para cada um dos anos: 4,5% para 2018 e 4,25% para 2019.

    Alguns departamentos econômicos, porém, ainda evitaram revisar suas projeções tão logo. De toda forma, ainda que muitos economistas acreditem que a meta Selic não voltará a ser reduzida no encontro de março, a grande maioria reconhece que essa chance aumentou. “O Banco Central destravou a porta, talvez tenha aberto uma janela para um novo corte. Mas meu cenário básico ainda é de manutenção do juro”, diz Tony Volpon, ex-diretor do BC e economista-chefe do UBS.

    De fato, na curva de Juros da B3, a probabilidade de redução de 0,25 ponto percentual da meta Selic em março subiu de 38% na quarta para 41% ontem. Com as taxas curtas perto das mínimas do dia, essa precificação chegou a flertar com 50%.

    Esse nível de aposta é o maior desde o começo de janeiro, quando os contratos de Juros futuros da B3 projetavam chance igual para corte de 0,25 ponto percentual em março e para estabilidade.

    Como UBS, Rosenberg Associados e Bradesco mantêm expectativa de Selic estável em 6,75% em março. Esses últimos dois, porém, admitem aumento de chances de corte em março.

    O comportamento do Câmbio é uma das variáveis mais citadas quando se trata de traçar expectativas de inflação e os movimentos do Copom. Mesmo com a recente alta do dólar por causa da turbulência externa, a moeda americana não chegou a passar de R$ 3,32, patamar que chegou a ser atingido em meados de dezembro passado.

    “As bolsas americanas despencaram, e o dólar foi a R$ 3,30, nível que ainda não altera o cenário de inflação para o ano”, diz o economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, revelando mais confiança na possibilidade de novos declínios do juro básico. Do lado da inflação, Weeks lembra que os preços dos alimentos estão em baixa e o ambiente internacional parece ter se acalmado, ainda que mais volátil. “A conjuntura toda teria que piorar muito para não haver um novo corte”, destaca.

    Apesar de decidir, por ora, manter expectativa de Selic a 6,75% até o fim do ano, o J.P. Morgan reconhece que a aposta para o Copom de março caminha para se consolidar apenas mais próximo da reunião. No entanto, mesmo que as estimativas de inflação do banco americano favoreçam mais corte de juro, a percepção de mais volatilidade nos mercados financeiros internacionais e a descrença na aprovação da Reforma da Previdênciaainda em 2018 jogam contra mais afrouxamento monetário.

    “A consistente retomada econômica e incertezas políticas domésticas e globais vão evitar novo corte de Juros, uma vez que o BC também já enxerga a atual política monetária como expansionista”, dizem economistas do J.P. Morgan.

    Um dos pontos mais comentados da ata é a informação de que alguns membros manifestaram preferência por “elevado grau de liberdade” em termos de indicação sobre o próximo passo, enquanto “outros propuseram sinalizar mais fortemente a possível interrupção do ciclo de flexibilização monetária e manter liberdade de ação, mas em menor grau”. A divisão nesse campo foi interpretada por alguns no mercado como evidência de que o Copom pode estar mais aberto a voltar a reduzir a Selic em março.

    Para o BTG Pactual, porém, isso reflete mais diferenças de visão sobre a conveniência de sinalizar decisões de política monetária do que um racha sobre o rumo da Selic no Copom de março. “Embora o BC tenha deixado a porta aberta para uma redução adicional de 0,25 ponto percentual da Selic, continuamos a acreditar que a avaliação do Copom sobre o balanço de riscos vai amparar a opção de manter o juro estável em março”, dizem Eduardo Loyo e Claudio Ferraz, do BTG.

    Na mesma linha, os economistas Jankiel Santos e Flávio Serrano, do Haitong, entendem que a divisão é uma “simples aceitação” de que o cenário macroeconômico pode transcorrer de modo diferente do contemplado no cenário-base. “Isso nos leva a manter nossa estimativa de que o cenário mais provável é que a Selic seja mantida em 6,75% até o fim do ano.”

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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