Bitcoin para lavar dinheiro no Rio

    Coletiva de imprensa de procuradores e policiais federais: fraudes em contratos em vendas de pães

    Pela primeira vez, policiais federais identificaram uma organização criminosa que utiliza a moeda virtual bitcoin para lavar dinheiro desviado dos cofres públicos. Durante as investigações da Operação Pão Nosso, desdobramento da Lava-Jato, deflagrada, ontem, no Rio de Janeiro, a força-tarefa descobriu que parte dos valores ilícitos obtidos pelos envolvidos foi usada em operações com a moeda. As ações envolveram a Polícia Federal e a Receita. O delegado Marcelo Martins, atual diretor-geral de Polícia Especializada do Rio, e o ex-secretário de Administração Penitenciária da gestão Sérgio Cabral, coronel César Rubens Monteiro de Carvalho, foram presos sob acusação de integrarem o esquema.

    De acordo com a PF, os envolvidos desviaram R$ 73 milhões por meio de fraudes em contratos e na venda superfaturada de pães usados para alimentar presos das cadeias estaduais do Rio. A Receita informou que pelo menos R$ 300 mil foram usados para comprar Bitcoins. Este tipo de moeda não está sob o controle dos órgãos de fiscalização. O objetivo dos criminosos foi driblar a fiscalização e enviar o dinheiro para contas no exterior sem levantar suspeitas das autoridades. Foram cumpridos 16 mandados de prisão, temporárias e preventivas.

    O superintendente-adjunto da 7ª Região Fiscal da Receita Federal, Luiz Henrique Casemiro, contou que o dinheiro foi aplicado na moeda virtual por meio de três operações, e indicam um teste para enganar as autoridades. ‘Nos chamou a atenção com relação a essa operação, é que, pela primeira vez, aparecem operações envolvendo essa moeda virtual. Isso realmente é uma novidade. As pessoas estão tentando sofisticar de alguma forma, talvez tentando voar abaixo do radar da Receita, do Banco Central e do Coaf’, afirmou.

    Cesemiro explicou que, em muitas nações, esse tipo de operação ainda não é fiscalizada. ‘Ao que parece, foi uma tentativa de enviar dinheiro para o exterior, usando um instrumento que não é regulado na maioria dos países’, completou. O delegado Marcelo Martins foi citado no depoimento válido pelo acordo de delação premiada de Carlos Miranda, apontado como operador do ex-governador Sérgio Cabral. De acordo com o Ministério Público, ele recebia propina para ‘atuar em eventual necessidade’, por conta do cargo que ocupava.

    O secretário de Segurança, general Richard Nunes, pediu a substituição de todos os diretores da Polícia Civil do Rio. A medida já tinha sido anunciada, em decorrência da intervenção federal na segurança do estado. A defesa do delegado Marcelo Martins informou que não vai se pronunciar sobre o caso. Os advogados do coronel César Rubens Monteiro não foram localizados.

    Delação de publicitário

    O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou, na tarde de ontem, a delação do publicitário Ricardo Pereira, que atuou para políticos do MDB no Rio de Janeiro. Em novembro do ano passado, o ministro devolveu para a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, o contrato de colaboração do marqueteiro, para que fossem feitos ajustes. O magistrado, na época, também retirou o sigilo de parte do conteúdo fornecido para o Ministério Público. Renato atuou nas campanhas do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, na do ex-prefeito Eduardo Paes e na do ex-governador Sérgio Cabral. Ele acusa o trio de receber repasses de dinheiro em espécie que não foram declarados oficialmente na prestação de contas de suas campanhas eleitorais.

    Fonte: Correio Braziliense

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