Bônus estão mais sobrevalorizados que ações

    James Mackintosh | Dow Jones Newswires

    Os rendimentos dos bônus voltaram a subir e isso está deixando quem investe em ações nervoso. Eles têm razão em se preocupar, mas os bônus ainda não estão criando sérios problemas para o mercado de ações.

    O investimento em bônus têm importância para quem aplica em ações, sendo a mais óbvia o fato de serem a principal alternativa juntamente com as aplicações de curto prazo. As ações estão muito caras comparativamente a seus próprios valores históricos sob quase todos os parâmetros, mas, comparativamente a garantir míseros 2,5% por dez anos, elas não parecem tão ruim assim. Para atribuir alguns números: as estimativas dos analistas dos lucros operacionais futuros representam 5,4% do preço do S&P 500, e a previsão é que continuem a subir nos próximos anos. Por que se contentar com os 2,5% dos bônus quando o retorno das ações é o dobro?

    A pergunta se resume a uma questão de recompensa pelo risco assumido. Os lucros são incertos, portanto os investidores em ações devem receber uma recompensa adicional, comparativamente à certeza oferecida pelos títulos do Tesouro dos EUA. Calcular esse prêmio é controvertido. O princípio é estimar quanto as empresas vão gerar para os acionistas e comparar isso com os bônus. Damos importância ao futuro, e queremos uma coisa de longo prazo, portanto normalmente o foco se centra em estimativas dos lucros operacionais, excetuando-se os extraordinários. Infelizmente, a direção das empresas sabe disso e aumenta artificialmente os lucros operacionais via perdas extraordinárias.

    E, o que é pior, sabemos que, quando os investidores estão exageradamente otimistas, eles superestimam os ganhos, dando a impressão de que a recompensa por deter ações é maior. A maioria dos métodos de cálculo do prêmio de risco sugeria que as ações em 2007 eram mais atraentes comparadas aos bônus, pouco antes de as ações entrarem em colapso e os preços dos bônus dispararem.

    Mesmo a comparação com os bônus é espinhosa; os lucros têm uma ligação frouxa com a inflação, portanto talvez devêssemos compará-las com títulos do Tesouro atrelados à inflação, nos quais o rendimento do de 10 anos é apenas 0,5% superior à inflação.

    O método preferido por Wall Street é comparar o rendimento dos lucros – os lucros futuros de doze meses como proporção do S&P 500 – com o do título de 10 anos, o que sugere que as ações americanas têm o menor prêmio de risco desde janeiro de 2008. Por esse comparativo, os investidores precisam de muito mais confiança que o normal de que o crescimento da economia e dos lucros continuará a ser sólido – uma confiança que não falta neste momento.

    Investidores otimistas podem argumentar que o prêmio de risco de mercado era muito inferior durante períodos de otimismo no passado. Ele até ficou negativo durante a bolha das pontocom, quando os retorno dos bônus eram muito maiores. Os otimistas também podem apontar para a disparada dos lucros do ano passado, e para a possibilidade de a recuperação mundial sincronizada continuar a aumentar os lucros mundiais.

    Por seu lado, os pessimistas se preocupam com a possibilidade de a economia americana estar perto da plena capacidade, ou de já ter chegado a ela, o que reduz a perspectiva de continuidade de um crescimento com baixa inflação. Outra preocupação é a de que as empresas estão investindo muito pouco para manter o crescimento dos ganhos, e que as margens de lucro são insustentáveis.

    Mas mesmo os otimistas deveriam se preocupar com a maneira com que os rendimentos dos bônus têm subido. Os rendimentos nominais têm subido desde meados de dezembro, enquanto os rendimentos reais (descontada a inflação) não subiram. Isso sugere que o mercado de títulos do Tesouro dos EUA prevê uma alta da inflação, mas nenhuma melhora do crescimento. Até agora as mudanças foram razoavelmente pequenas, mas sua direção sugere aumento dos rendimentos sem o crescimento da economia e dos lucros que neutraliza seus efeitos.

    Se esse cenário persistir, comprimirá ainda mais o prêmio por risco de mercado, reduzindo a atratividade das ações comparativamente aos bônus.

    A pergunta decisiva, então, é se os rendimentos dos bônus continuarão a subir. Os investidores acreditam em uma economia nem aquecida nem desaquecida demais, em que a inflação esteja sob controle e o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) encerre suas altas de Juros a um nível mais baixo do que no passado. Se o discurso mudar, os rendimentos dos bônus poderão subir rapidamente. Talvez 2018 seja o ano em que os temores em torno da inflação se instaurem.

    Talvez o argumento mais poderoso em favor do aumento dos rendimentos dos bônus seja o fato de os BCs estarem tirando seu respaldo. O Fed começou a reduzir suas carteiras de bônus, o Banco Central Europeu(BCE) reduziu suas compras à metade e até o Banco do Japão desacelerou as compras de bônus ao priorizar mais para os preços do que as quantidades.

    Previsões de alta significativa dos rendimentos dos bônus se mostraram equivocadas ano após ano. No entanto, a continuidade dos baixos rendimentos não seria motivo para pensar que as ações são ótimo investimento – apenas que são melhores que os bônus. As altas avaliações das ações tendem a significar retornos mais baixos no futuro, e as avaliações estão muito altas comparativamente aos registros históricos.

    Fonte: Valor Econômico

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