Diretor do BC diz que banco tem autonomia operacional

    Por Eduardo Campos | De Brasília

    Pela primeira vez desde que foi jogado na arena eleitoral, o Banco Central (BC) se pronuncia sobre o debate que se desenrola sobre independência ou autonomia da instituição. Questionado sobre o assunto, o diretor de Fiscalização do BC, Athero Meirelles, disse que o banco tem sim autonomia operacional e que em mais de sete anos na casa, sendo um dos mais antigos diretores – perde apenas para o presidente Alexandre Tombini -, nunca recebeu qualquer pedido de sugestão ou coisa parecida.

    “Posso falar da minha experiência. Já estive em mais de 50 reuniões do Copom, todas as reuniões do Comef. O BC funciona com autonomia operacional. As decisões que são tomadas aqui são tomadas com as nossas convicções”, disse após ser questionado pelo Valor sobre o tema e sobre a propaganda de campanha de Dilma Rousseff, em coletiva de imprensa sobre o Relatório de Estabilidade Financeira (REF).

    Ainda de acordo com Meirelles, ele nunca recebeu, sequer, um “pedido de sugestão ou qualquer coisa dessa natureza”. “O BC precisa dessa autonomia”, disse, reforçando que as decisões são tomadas com base nas discussões e convicções de seus diretores.

    Meirelles disse, no entanto, que não ia entrar nesse debate se o BC precisa ou não de independência, ou se isso precisa constar em lei.

    Lançada pela campanha de Marina Silva a proposta de independência formal do Banco Central por meio de projeto de lei, com mandato fixo para presidente, normas para nomeação e destituição de diretores, passou a ser alvo de fortes ataques da campanha da presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff.

    A discussão ganhou outra dimensão na semana passada quando a campanha de Dilma Rousseff veiculou propaganda mostrando que um BC independente seria cooptado por banqueiros e que os trabalhadores poderiam ficar sem comida na mesa.

    A peça publicitária gerou mal-estar no meio empresarial até dentro do governo, mas a presidente-candidata não recuou. Questionada no domingo sobre o teor da propaganda ela disse o BC não é “quarto poder” para ter independência, como o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. E que um BC que não tem como mandato o pleno emprego “tira, sim, comida” e perspectiva dos brasileiros. Para Dilma o BC de seu governo é autônomo.

    Na terça-feira, o Sindicato Nacional de Servidores do Banco Central do Brasil (Sinal) também entrou na discussão emitindo nota de repúdio às duas candidatas. De acordo com o presidente do Sinal, Daro Piffer, há incômodo dos funcionários com a passividade do próprio BC diante desse episódio, já que a instituição não saiu em defesa do trabalho e do corpo técnico da instituição. “É compromisso da diretoria defender o órgão”, disse.

    Segundo Piffer, as duas candidatas tratam o BC como uma entidade amorfa, sem controle. “Somos retratados como marionete ou de banqueiros ou de políticos e não como um órgão de Estado”, disse.

    Em nota oficial, o Sinal disse que “repudia veementemente as afirmações de ambas as candidatas que atentam contra a integridade moral e profissional do corpo funcional, há muito reconhecido pela ética e competência técnica no exercício de suas atividades, que culminam na defesa da estabilidade da moeda e na solidez do sistema financeiro”.

     

    Fonte: Valor Econômico

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