Dólar chega a superar os R$ 3,70 na véspera de Copom

    A pressão sobre os ativos domésticos não deu trégua na terça-feira, levando o dólar a superar a barreira dos R$ 3,70 pela primeira vez desde dezembro de 2002 e empurrando os juros futuros de longo prazo a novas máximas. Além do risco fiscal perene nas análises sobre a economia brasileira, a liquidação dos ativos locais ontem teve um componente externo de peso – a China, onde novos indicadores reforçaram o temor de desaceleração econômica mais forte. 

    No fechamento, o dólar comercial subiu 1,65%, para R$ 3,6872. É o maior patamar de encerramento desde 13 de dezembro de 2002. Durante os negócios, a cotação foi a R$ 3,7044, nível mais elevado desde 16 de dezembro do mesmo ano. Cerca de dois meses antes, em 10 de outubro, o dólar alcançou a até hoje marca recorde de R$ 4,0050. Já o euro fechou a terça-feira em um novo pico histórico, de R$ 4,1666. 

    Segundo profissionais, um forte movimento de compra de moeda estrangeira por parte de estrangeiros foi o principal motivo para mais um dia de disparada da cotação, em um pregão de perdas expressivas para várias outras moedas emergentes e correlacionadas às commodities. E essa demanda dos estrangeiros tem origem, de acordo com os especialistas, na ideia de que o país está cada vez mais perto de perder seu grau de investimento, o que ameaçaria provocar saída maciça de dólares. 

    Por ora, contudo, operadores não têm notado estrangeiros deixando o Brasil de forma consistente, mas apenas um ajuste de posições em busca de “hedge” no mercado futuro por causa tanto da deterioração fiscal quanto da frustração com expectativa de ingressos de recursos, seja para investimento produtivo, seja para tirar proveito do juro alto do Brasil. 

    “O que poderia dar um alívio ao real no curto prazo é um fortalecimento da discussão sobre o projeto de repatriação de recursos”, diz o gestor sênior de câmbio da Absolute Investimentos, Roberto Campos. O Senado Federal pode votar ainda nesta semana o projeto, que poderia render arrecadação superior a R$ 100 bilhões com os recursos a serem repatriados. 

    No mercado de juros, as taxas de longo prazo bateram novas máximas. A pressão sobre os juros se acentuou desde segunda-feira, quando o governo entregou ao Congresso Nacional proposta orçamentária para 2016 prevendo déficit de 0,5% do PIB, uma reviravolta ante a projeção anunciada anteriormente de superávit primário de 0,7%. 

    A forte alta das taxas dos últimos dias, contudo, ainda não levou a maior parte do mercado a migrar de forma sustentável para uma aposta de alta da Selic nem hoje nem até o fim do ano. Mas é fato que tem reduzido o conforto da aposta de que o juro básico terminará 2016 abaixo dos atuais 14,25% ao ano, principalmente pela possibilidade de o Brasil ter de pagar um maior prêmio de risco no ano que vem caso tenha sua nota de crédito soberano rebaixada. E aumento de prêmio de risco, historicamente, é acompanhado por alta de juros. 

    Profissionais ressalvam que o mercado de DI tem estado muito ilíquido, portanto, mais vulnerável a distorções causadas por operações pontuais. 

    Já a Bovespa foi contaminada pelo nervosismo com a economia global. Dados mais fracos da economia chinesa provocaram nova onda de aversão ao risco e derrubaram as bolsas nos Estados Unidos, Europa e Ásia. O mercado não gostou do dado de atividade (PMI) Industrial da China, que recuou de 50 pontos em julho para 49,7 pontos em agosto, enquanto o mercado previa recuo para 49,8. 

    O Goldman Sachs cortou sua previsão de crescimento do produto interno bruto (PIB) da China em 2016 de 6,7% para 6,4%. A projeção para 2017 caiu de um crescimento de 6,5% para 6,1%, enquanto a estimativa para 2018 recuou de 6,2% para 5,8%. Por outro lado, o Goldman manteve sua previsão de crescimento de 6,8% do PIB para este ano, pouco abaixo da meta estabelecida pelo governo, de 7%. 

    O Ibovespa caiu 2,46%, para 45.477 pontos. “Estamos praticamente colados em Nova York. Com o aumento da volatilidade no exterior nos últimos dias, passamos a acompanhar os movimentos das bolsas internacionais mais de perto”, comentou o analista Clear Corretora, Raphael Figueredo. (Colaborou Suzi Katzumata)

     

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    Fonte: Valor Econômico

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