Esforço do BC para domar inflação recebe apoio em seminário

    Banco CENTRAL, que vem sendo criticado pela forte dose do aperto monetário, colheu declarações de apoio durante o seu seminário anual de metas de inflação, no Rio. O economista Afonso Bevilaqua, ex-diretor de política econômica da instituição, disse que é “extremamente importante” o esforço que tem sido conduzido pela autoridade monetária para levar a inflação à meta no ano que vem. 

    “Deve-se evitar que os níveis extremamente elevados de inflação que tem sido observados durante boa parte de 2015 contaminem a inflação futura e, dessa forma, se constituam um obstáculo importante para a retomada da economia brasileira”, disse Bevilaqua, num painel do seminário com trabalhos acadêmicos sobre expectativas inflacionárias. 

    Nas rodas de economistas, também houve declarações de apoio ao Banco CENTRAL. “Respeito a opinião de quem diz que há excessos, mas não concordo”, disse o ex-diretor de política econômica do BC, Mário Mesquita, do Banco Brasil Plural. 

    Conversando com jornalistas, o diretor de assuntos internacionais do BC, Tony Volpon, reiterou algumas vezes que o objetivo do Banco CENTRAL é levar a inflação ao centro da meta, de 4,5%, no fim de 2016. Disse que esse esforço visa, inclusive, tornar o país melhor preparado para enfrentar os efeitos do início da alta da taxa de juros dos Estados Unidos, que pode ocorrer nos próximos meses. 

    Há três semanas, o BC sinalizou que ainda há trabalho a ser feito com a política monetária. Com isso, passou a colher as primeiras críticas de economistas de grandes bancos sobre um eventual exagero na dose, que poderia causar forte retração econômica. 

    Essa mudança na retórica do Banco CENTRAL já teve resultados importantes nas expectativas do mercado, na opinião da economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif. “Toda essa mudança é para influenciar as expectativas. Mas, por causa do zigue-zague que se viu na comunicação nos últimos anos, é natural que uma mudança consistente nas projeções ocorra mais lentamente”, afirma. 

    De todo modo, a economista considera que o recuo nas projeções para 2016, de 5,61% para 5,50%, tem bastante relevância. “Uma coisa é a expectativa cair para 5,5% por causa de razões sazonais, outra é cair por ganho de reputação”, diz. Nesse sentido, ela considera que uma queda das estimativas para a inflação para baixo de 5,5% já pode ser razão para o BC “celebrar”. “O que é muito importante é que a projeção para 2017 esteja em 4,5%”, diz. 

    Os temas do seminário deste ano, que se consagrou como o mais importante fórum acadêmico de discussão de política monetária, estão na ordem do dia. O professor Ricardo Reis, da Universidade de Columbia, abordou na palestra de abertura o futuro da expansão quantitativa em economias avançadas num ambiente de riscos fiscais ampliados. Um painel teve como tema o comportamento das expectativas de inflação, num momento em que o BC tenta resgatar a missão de ancorá-las na meta. Nesse painel, além de Bevilaqua, representantes do BC do Canadá, do Banco CENTRAL Europeu (BCE) e do Federal Reserve (Fed) trouxeram suas pesquisas mais recentes sobre o assunto. 

    Mas o primeiro painel do evento foi considerado emblemático para quem acompanha de perto as discussões relativas ao rumo da política monetária brasileira: o mercado de trabalho. Existe um consenso entre analistas de que essa é uma das variáveis mais importantes para definir o ritmo e o momento em que a inflação irá ceder. 

    Moderador desse painel, Mesquita, do Banco Brasil Plural, afirmou que o mercado de trabalho apresenta uma “distensão” e deve começar a contribuir para o combate à inflação no país. “Depois de atingir o piso em 2014, o desemprego subiu quase dois pontos percentuais e deve subir mais rápido lá na frente”, disse. E a desinflação da economia, afirma, passa pela redução salarial. Para ele, no entanto, “isso pode não ser suficiente, mas é condição necessária”, acrescentou. 

    Ele lembrou dos números crescentes da taxa de desocupação divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Há sinais, portanto, de que o mercado de trabalho poderá contribuir para a desinflação da economia, em contraste com o que vimos nos últimos anos”, afirmou.

     

    Fonte: Valor Econômico

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