Investidores cobram mais retorno em bônus brasileiros

    Por Daniela Meibak | De São Paulo

    As incertezas sobre os próximos passos da política monetária do Federal Reserve (Fed, o Banco Centralamericano) azedaram o humor dos investidores, que passaram a exigir retornos maiores nas negociações com bônus de emergentes no mercado secundário. A maior aversão ao risco tem impacto direto sobre as novas ofertas. Exemplo disso foi a emissão feita esta semana pelo Itaú Unibanco, em volume abaixo do que se esperava.

    O maior banco privado do Brasil, avaliado com rating acima do soberano, foi a mercado com o objetivo de emitir US$ 1,25 bilhão, mas levantou apenas US$ 750 milhões. Isso porque os investidores não aceitaram reduzir a taxa oferecida na abertura da operação – como é praxe -, levando o banco a pagar um prêmio em relação a oferta de dezembro. Estreante, a petroquímica Unigel acabou cancelando ontem uma emissão de US$ 400 milhões, por falta de demanda, segundo apurou o Valor.

    O desempenho do mercado secundário comprova a tendência – desde o “crash relâmpago” do início de fevereiro, desencadeado pela divulgação de dados de emprego nos EUA que levantaram temores com a inflação e o ritmo de alta dos Juros, os bônus externos de empresas brasileiras acumulam perdas.

    Levantamento feito pelo banco Santander a pedido do Valor , com os títulos de dívida mais negociados de 20 companhias brasileiras, mostra que os papéis eram negociados na quarta-feira com uma taxa média de 25 pontos-base acima do nível de 1º de fevereiro, dia anterior ao início da correção dos mercados. Na comparação com o pregão de 25 de janeiro, melhor momento para os papéis e data da última emissão da Petrobras, a diferença vai a 30 pontos – toda vez que a taxa sobe, o preço cai.

    O mercado ainda tenta achar o ponto de equilíbrio após a forte correção do último mês, afirma Eduardo Alhadeff, gestor especialista em bônus e mercados emergentes do J.P. Morgan. As incertezas acerca do ritmo de alta dos Juros nos EUA trouxe volatilidade aos títulos do Tesouro americano, que servem de referência de preços às emissões. Os papéis de dez anos saíram do patamar de 2,5% no início de janeiro, bateram 2,95% em 21 de fevereiro e voltaram para cerca de 2,8%.

    Alhadeff afirma que o grande temor é se o Fed fará quatro aumentos de Juros este ano e três no próximo. Há incertezas também sobre como ficará a política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e o fim da era de taxas de Juros negativas. “Janeiro começou muito forte, com euforia e quase um movimento de manada depois que o mundo se deu conta de que estava vivendo um crescimento sincronizado. Em fevereiro, a situação mudou com o entendimento de que o Fed será mais cauteloso”, diz.

    As incertezas aumentam a volatilidade das Treasuries e impedem que os papéis corporativos voltem aos patamares anteriores. “O que vai fazer o spread fechar vai ser o investidor entrar com mais força em ativos com perfil mais arriscado. Até que se tenha mais conforto sobre a volatilidade, não teremos um movimento mais forte”, afirma Pedro Pereira, executivo da área de mercado de dívida do Bank of America Merrill Lynch. O executivo pondera que as taxas estão se reduzindo de maneira paulatina.

    Segundo ele, a elevação das taxas pagas pelos bônus é resultado de dois movimentos. O primeiro é o próprio aumento do retorno dos títulos americanos. O segundo componente é o prêmio de risco dos papéis corporativos, que também ficou maior.

    Em meio ao movimento de reprecificação dos ativos globais, o mercado externo de dívida ficou fechado para empresas da América Latina por quase um mês, de 8 de fevereiro até a primeira semana de março. A fila de novas operações foi puxada pela emissão soberana do Paraguai; o Itaú Unibanco foi o primeiro risco corporativo.

    A mudança de humor dos investidores foi clara. Em dezembro, a instituição financeira emitiu bônus perpétuos subordinados no valor de US$ 1,25 bilhão, com retorno de 6,125% e uma demanda de US$ 7 bilhões. No início desta semana, o Itaú voltou com títulos similares, levantou apenas US$ 750 milhões, com taxa de 6,5% e demanda inferior a US$ 2 bilhões.

    “Tudo me leva a crer que os fundos dedicados a empresas de países emergentes estão com pouco caixa e não dispostos a adicionar risco em seus portfólios. No mercado secundário, a liquidez também diminuiu”, diz Alhadeff, do J.P. Morgan.

    Embora o apetite dos investidores esteja baixo, empresas seguem com planos de captar recursos. Percy Moreira, diretor de distribuição de renda fixa do Itaú BBA, espera um movimento grande de emissões, mas diz que as companhias precisam ter em mente que não valem mais os níveis de taxa praticados em janeiro.

    Fonte: Valor Econômico

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