IPCA surpreende e pode persistir abaixo da meta

    A inflação começou o ano surpreendendo positivamente e reacendendo a discussão sobre um possível novo corte na Taxa Básica de Juros. A perspectiva de mais uma boa safra, a atividade em retomada gradual e a inércia inflacionária favorável reforçam a tendência de cenário benigno para 2018, mas os analistas ainda estão cautelosos em revisar suas projeções.

    A inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), subiu 0,29% em janeiro, desacelerando em relação à variação de 0,44% registrada em dezembro. O número é o menor para o mês desde a criação do Plano Real, em 1994, e veio abaixo do piso das projeções de economistas colhidas pelo Valor Data, que variavam de 0,33% a 0,45%, com média de 0,41%.

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    Com o resultado, o IPCA acumulado em 12 meses desacelerou de 2,95% em dezembro para 2,86% em janeiro. O indicador voltou a se afastar do piso do sistema de metas, contrariando a expectativa do mercado. A meta de inflação para 2018 é de 4,5%, podendo variar 1,5 ponto percentual para cima ou abaixo.

    A queda no preço da energia elétrica, com a passagem da bandeira vermelha para verde nas contas de luz, e as promoções de vestuário após as festas de fim de ano mais do que compensaram a alta sazonal dos alimentos no mês. No entanto, esses movimentos já eram antecipados pelos economistas. Para eles, a grande surpresa foi um avanço menor do que o esperado da alimentação, além de uma inflação de serviços inesperadamente baixa.

    “Pelo peso que tem no IPCA [cerca de 25%], alimentação é o que fez a diferença”, afirma José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator. Ele estimava alta de 0,92% para o grupo alimentação, que subiu 0,74% no mês passado.

    Gonçalves lembra que as estimativas de safra do IBGE para 2018 saíram de queda de cerca de 15% em relação ao ano passado, para recuo de 5%. “Uma queda dessa não é suficiente para piorar os preços da alimentação”, afirma. Ele aponta as baixas taxas do Índice de Preços ao Produtor (IPA), integrante dos IGPs, como outro sinal de que os alimentos não devem ser um problema em 2018. “O IPA agrícola está surpreendendo. Não é um choque como o de 2016 para 2017, mas é uma surpresa”, diz o economista.

    A inflação de serviços caiu de 0,60% em dezembro para 0,16% em janeiro. Já a inflação subjacente de serviços – que mede a tendência dos preços mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica e é acompanhada de perto pelo Banco Central para a definição da política monetária – recuou de 0,41% em dezembro para 0,18% em janeiro.

    Para Fábio Romão, economista da LCA Consultores, a atividade econômica ainda fraca e a indexação à baixa inflação do ano passado explicam o bom comportamento dos preços de serviços no mês passado. “O IGP-M negativo em 2017 e o IPCA de 2,95% não permitem grandes reajustes no início desse ano”, afirma.

    Romão acredita que, após despencar de 6,5% a 4,6% na passagem de 2016 a 2017, a inflação de serviços deve ficar em 4,3% esse ano. Embora a retomada da atividade deva frear a desaceleração, o nível continuará baixo devido a avanço menor da renda real em 2018, com o reajuste mais baixo do salário mínimo e a aceleração moderada do IPCA.

    Além dos alimentos e dos serviços, outra surpresa positiva no IPCA de janeiro foram os núcleos, que eliminam itens mais voláteis para melhor captar a tendência dos preços. Segundo Alberto Ramos, do Goldman Sachs, a média dos três principais núcleos da inflação foi de 0,15% em janeiro, contra 0,41% em dezembro e 0,40% um ano antes. A taxa acumulada em 12 meses recuou de 3,60% em dezembro para 3,34% em janeiro. Era 6,17% um ano antes.

    “Os núcleos rodam nos menores níveis [da história]. Não digo que estejam desacelerando ainda mais, e sim que pararam em um patamar baixo e sugerem que a normalização da inflação vai se dar de forma muito lenta”, diz Fabio Ramos, do UBS.

    Mesmo com todas essas boas notícias, os economistas se mostram reticentes em reajustar projeções para o ano. O UBS mantém a previsão em 4% e a visão de que o BC encerrou o ciclo de afrouxamento monetário com o corte para 6,75% na quarta-feira. A LCA também mantém a estimativa de um IPCA de 4,4% em 2018, e concorda que a queda da Selic deve ter chegado ao fim. Já o Fator reduziu a projeção para o IPCA do ano de 3,91% para 3,85%. (Colaborou Ana Conceição, de São Paulo)

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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