Mudança de ciclo entra no radar do Fed

    Janet Yellen, presidente do Federal Reserve (Fed), fixou as bases para uma mudança na linguagem do BC americano em março, de modo a preparar os mercados para um novo ciclo da política monetária. Não que isso vá ocorrer necessariamente em meados do ano, como o mercado prevê há meses, tampouco no terceiro trimestre, estimativa para a qual migrou parte dos analistas após a divulgação da ata de janeiro, considerada “dovish”. 

    O Fed olhará o cenário, especialmente o inflacionário (mas não apenas), “reunião a reunião”, disse a presidente. Mas junho ganha, de novo, fôlego e a reunião de 18 de março passa a ser a data mais crítica para a formação de expectativas dos investidores.

    Fundamentalmente, os temas abordados em seu discurso inicial no Senado, antes da sessão de perguntas e respostas, foram os mesmos abordados desde dezembro. De um lado, a economia parece estar mais fortalecida, o que Yellen ponderou com mais ênfase do que o Fed na ata, especialmente se considerados os ganhos no mercado de trabalho, embora o crescimento salarial permaneça lento. A inflação continua a correr, porém, bem aquém da meta de 2%, impondo riscos à economia. 

    A queda dos preços do petróleo foi atribuída ao aumento da oferta global, ao invés de fraqueza na demanda e, segundo a presidente, o PCE (índice de preços preferido do Fed) “parece estar a caminho de registrar um declínio mais significativo neste trimestre por causa da queda dos preços de energia”. O núcleo da inflação, reiterou Yellen, “também diminuiu desde o último verão, em parte refletindo quedas nos preços de muitos itens importados e talvez também por algum repasse de custos mais baixos de energia para os preços ao consumidor”.

    Curiosamente, apesar de citar os preços de importação, a presidente do Fed não falou sobre o fortalecimento do dólar. O ponto fundamental parece ser o fato de que, até agora, as expectativas de inflação seguem ancoradas.

    O nível retraído dos preços é a principal razão pela qual o Fed, em dezembro, optou por usar a palavra “paciente” para descrever sua intenção de manter as taxas de juros em níveis mínimos até haver segurança de que a saída da política altamente acomodatícia não causará tumultos. É o que se chama de “guidance” para os juros.

    Já na ata observou-se muita preocupação entre os participantes do Fomc sobre a retirada desse “guidance”, já que isso potencialmente sinalizaria proximidade maior da alta de juros e criaria um aperto indesejável nas condições financeiras. Yellen tocou diretamente nesse ponto, ponderando que, sim, o comitê mudará a linguagem se as condições econômicas permitirem, mas que “é importante ressaltar que uma modificação da orientação não deve ser lida como indicação de que a comissão vai, necessariamente, aumentar os juros nas próximas duas reuniões”.

    Ficou clara a intenção do Fed de mudar o foco da discussão para o “timing” do aperto, mais do que frisar expectativas de longa manutenção das taxas próximas a zero. Com isso, dá um sinal de que vai promover a mudança na linguagem em março, já que será quando haverá divulgação das novas projeções e entrevista com Yellen. 

    O cenário externo foi visto como um risco potencial para recuperação da atividade nos Estados Unidos. Yellen citou diretamente a China e a área do euro.

     

    Fonte: Valor Econômico

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