Os males do vaivém do BC

    Em vez de consolidar o processo de reconstrução de sua credibilidade, o Banco CENTRAL estimulou a desconfiança dos agentes econômicos ao indicar que o aumento da taxa básica de juros (Selic), a partir de agora, será feito com “parcimônia”. O recado, transmitido no comunicado pós-reunião do Comitê de política monetária (Copom), na qual a Selic subiu 0,5 ponto percentual, de 11,25% para 11,75% ao ano, foi entendido como uma mudança no discurso do BC.

     

    Esperava-se que, ao dobrar a aposta no ataque à carestia – em outubro, os juros haviam subido 0,25 ponto -, a autoridade monetária reforçasse o que vinham dizendo seu presidente, ALEXANDRE TOMBINI, e seu diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton. Ambos têm prometido levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%, até o fim de 2016. Para a maioria do mercado, o que se viu foi um recuo explícito, já que o BC não será tão ativo, mesmo que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continue sistematicamente acima do limite de tolerância, de 6,5%.

    Hoje, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga a inflação de novembro. As apostas são de uma taxa de 0,56%, o que, se confirmado, levará a carestia acumulada em 12 meses para 6,6%. As projeções apontam que, em janeiro, com os reajustes dos alimentos, das passagens de ônibus, da educação e da energia elétrica, além do repasse da alta do dólar para os preços, o IPCA encostará nos 7%, nível que deverá prevalecer por todo o primeiro trimestre de 2015.

     

    Diante dessas projeções, alegam os economistas, seria mais indicado que o Copom economizasse nas palavras do comunicado. Deixasse o mercado comprado com a ideia de que, ao surpreender os investidores em outubro com uma inesperada elevação da Selic, o BC realmente estivesse decidido a enfrentar a inflação com sua melhor ferramenta: os juros. Agora, acredita-se que o compromisso de retomar o controle sobre o custo de vida já não é tão firme como se mostrava. Assim, a tendência é de se ver, nos próximos meses, o que prevaleceu nos últimos quatro anos: expectativas inflacionárias descontroladas.

     

    A resposta do mercado ao descontentamento em relação à decisão do BC foi imediata no mercado futuro de juros. As taxas de curto prazo, que deveriam subir, caíram. E as de longo prazo, em vez de caírem, subiram. Isso encarecerá os financiamentos ao setor produtivo, que anda capengando e, devido à desconfiança em relação ao governo, resiste a retirar das gavetas os investimentos que o país tanto precisa para voltar a crescer.

     

    O recuo do BC reforçou os sinais contraditórios emitidos pelo governo. Nas últimas duas semanas, a presidente Dilma Rousseff tentou convencer os agentes econômicos de que seu segundo mandato será marcado pela responsabilidade fiscal e pelo combate efetivo à inflação. Escolheu Joaquim Levy para comandar o Ministério da Fazenda e Nelson Barbosa para o Ministério do Planejamento. Esse movimento, somado à elevação dos juros em outubro, estimulou um voto de confiança à petista.

     

    Mercado não perdoa

    » Os investidores incomodados com o Banco CENTRAL não perdoam. Dizem que, antes de Dilma dar carta branca à nova equipe econômica, acreditavam piamente que a condução da política monetária estava submetida aos interesses do Palácio do Planalto. Agora, parece estar se evidenciando uma “certa incompetência”. Eles dizem temer que, com Joaquim Levy na Fazenda, o elo fraco da equipe econômica passe a ser a autoridade monetária.

     

    Humilhação de Mantega

    » Auxiliares do ainda ministro da Fazenda, Guido Mantega, andam se perguntando como pode ele aceitar a humilhação à qual está sendo submetido neste fim de primeiro mandato do governo Dilma. Continua na pasta, mesmo não mandando mais nada. Tudo, agora, é decidido por Joaquim Levy. Mais longevo comandante da equipe econômica, ele merecia, no entender de assessores, de uma despedida mais digna.

     

    Mas boa parte desse crédito começou a ruir com o projeto de fim da meta fiscal, com o novo aporte de R$ 30 bilhões no BNDES, com o uso do superavit financeiro para cobrir despesas obrigatórias, como as da Previdência Social, e com um BC mais frouxo. Uma pena.

     

    Irritação com as críticas

    Dentro do governo, foram muitas as críticas contra a reação do mercado ante à “parcimônia” adotada pelo Banco CENTRAL na definição dos juros. Auxiliares da presidente Dilma dizem que a autoridade monetária “fez o que tinha que ser feito”. Se não explicitasse, em seu comunicado, o cuidado no manejo da política monetária, estimularia que, em janeiro e nos meses seguintes, os bancos pressionassem por aumentos mais fortes da taxa Selic, de 0,75 ou mesmo de 1 ponto percentual. Para assessores presidenciais, não há por que o BC pesar tanto a mão nos juros, uma vez que o nível de atividade está muito fraco e o ajuste fiscal será mais consistente em 2015. Argumentam ainda que o maior impacto sobre a inflação virá da recomposição dos preços administrados, sobre os quais os juros não fazem qualquer efeito. Portanto, frisam, o Comitê de política monetária acertou ao ser cauteloso. “O mercado vai entender isso mais à frente”, diz um integrante do Palácio do Planalto.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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