Decisão aumenta o preço da aprovação do texto em 2018

    Autor: Raymundo Costa

    O Palácio do Planalto desperdiçou tempo e energia em sua última e frustrada tentativa de votar a Reforma da Previdência neste ano e, com isso, aumentou o preço de sua aprovação. A negociação voltou à estaca zero, especialmente no que diz respeito a benefícios que a propaganda oficial classificou de privilégios. Se voltar atrás nesses pontos, agora, o governo, que perdeu credibilidade, já senta à mesa de negociação desmoralizado.

    O esforço foi enorme: fez propaganda, mobilizou empresários, pagou emendas e liberou verbas com o intuito de votar a Reforma da Previdência na semana passada. Não deu. A proposta pereceu por inanição de votos. É difícil imaginar o que mais o Planalto pode oferecer para votar a reforma em fevereiro de 2018, mês que antecede definição de candidaturas e novas filiações partidárias.

    Na coordenação descoordenada do governo fala-se em convencimento. Deputados e senadores quando voltam do recesso, depois de “ouvir as bases”, em geral retornam ao trabalho ainda mais exigentes em relação ao governo. Em ano eleitoral, a tendência é piorar, a menos que aconteça um milagre de um governo altamente impopular cair nas graças da população do dia para a noite.

    Pesquisas em poder do Palácio do Planalto indicam que a aceitação da Reforma da Previdência melhorou um pouco depois da campanha de publicidade. Ainda é pouco para transformar candidatos intransigentes em deputados que queiram ser convencidos.

    Pode ser que o governo mude de tom. No Planalto se diz que é preciso “dobrar o Cabo da Boa Esperança”, do contrário a recuperação da economia será comprometida. Aumentaria o risco de rebaixamento da nota brasileira, pode faltar dinheiro para serviços e o estresse do mercado teria impacto no cambio, ao sabor do sobe e desce dos candidatos nas pesquisas de opinião.

    O pior dos cenários é o governo, que já cedeu praticamente tudo o que tinha para ceder, na última hora entregar os pontos no que a reforma tem de melhor, mantendo “privilégios odiosos” que tiram do pobre para dar ao rico, como diz a propaganda.

    O risco existe, sobretudo num governo sem força, em fim de mandato. Mais honesto seria deixar a demanda da Previdência para ser decidida na eleição. O novo governo certamente terá mais apoio e legitimidade para avançar numa reforma que fala tão de perto aos brasileiros.

    Fonte: Valor Econômico

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