Ata do Copom cita “sinais perceptíveis” de retomada

    Menos de dois meses foi tempo suficiente para que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deixasse de lado a incerteza quanto à recuperação da economia, a ponto de reconhecer, na ata publicada ontem, que “já são perceptíveis os primeiros sinais dessa recuperação”, inclusive de empregos, e avaliar que, à medida que a recuperação avança, “o crescimento do consumo deveria abrir espaço para a retomada do investimento”.

    O viés de alta do crescimento econômico é elemento importante nessa ata, na qual uma eventual repercussão inflacionária é considerada. O Copom reconhece o poder da inércia inflacionária – inclusive na formação de expectativas -, mas alerta que “a recuperação da economia atua no sentido contrário, de gradualmente levar a inflação em direção à meta ao longo de 2018”.

    A importância da inflação baixa – estendida às expectativas – tem permitido uma recomposição do poder de compra, contribuindo para a retomada da atividade, reconhece o comitê, que não ignora a relevância do “alto nível de ociosidade” como um risco favorável ao controle da inflação. Contudo, lembra que “a queda intensa dos preços de alimentos constitui substancial surpresa desinflacionária e responde por parcela relevante da diferença entre as projeções de inflação para 2017 e a meta de 4,5% vigente para este ano”.

    A atualização das projeções de inflação e Juros feita pelo Copom pode ser visto como uma régua para avaliar o espaço ainda existente para futuras reduções da Selic. O cenário construído pelo comitê, a partir da evolução monitorada pela pesquisa Focus, mostra o seguinte: enquanto as estimativas para a Selic no encerramento de 2017 e 2018 estavam em idênticos 8% ao ano, o prognóstico para a variação do IPCA era de 3,6% neste ano e de 4,3% em 2018. A ata do Copom de julho traz esses dados.

    A ata do Copom de setembro – que reduziu o juro em mais um ponto, para 8,25% – revela que a inflação de 2017 seria de 3,3% e a de 2018 de 4,4% caso a taxa Selic evoluísse para 7,25% no fim deste ano, declinando a 7% durante 2018, mas voltando a subir a 7,5% até dezembro do próximo ano.

    Nessa trajetória, a Selic sofreria retrocesso capaz engolir os 7,25% esperados pelo mercado para o fim deste ano, retornando a um patamar (7,5%) que poderá ser testado nos próximos três meses, que abrangem duas reuniões do Copom.

    Apenas 0,75 ponto percentual separa a Selic em vigor dos 7,5%. Esse 0,75 ponto tem sido apontado, por economistas e chefes de tesourarias com participação relevante no mercado futuro de Juros na BM&F, como o corte que possivelmente será anunciado em outubro. A ata não diz, mas cabe a pergunta: qual é a chance de 7,5% se tornar referência de piso para a Selic nas atuais condições de temperatura e pressão?

    Na quarta-feira passada – dia em que o Copom anunciou a nova taxa e sinalizou a desaceleração do ritmo de queda -, o mercado futuro alterou radicalmente a projeção para a Selic que seria anunciada duas horas depois do fechamento do pregão. Entrou em cena a irrisória probabilidade de 2% de corte em 1,25 ponto. Esse ajuste insignificante na curva de Juros é atribuído às características das operações na véspera de um fim de semana prolongado pelo feriado da Independência.

    O Copom anunciou a nova Selic – 8,25%, em baixa de um ponto como projetado maciçamente no mercado financeiro – e, na sessão seguinte, sexta-feira pós-feriado, a curva de Juros já havia incorporado o discurso do BC, de desaceleração do ciclo de flexibilização monetária e perspectiva de encerramento. Na segunda-feira, era de 84% a chance de a Selic cair 0,75 ponto na reunião do Copom em outubro e de 16% a possibilidade de redução em 0,50 ponto.

    A redefinição das projeções para a Selic indicou, mais uma vez, que o Banco Central tem superávit de credibilidade junto ao mercado. Também por esse motivo, não dá para errar a mão.

     

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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