Lucas Hirata e Lucinda Pinto | De São Paulo
A moeda brasileira caminha para sua pior semana desde meados de maio, tomada pela alta global do dólar. A desvalorização ante a moeda americana somava 1,75% no período até ontem. Se a tendência for mantida até o fim da tarde de hoje, será a perda mais acentuada desde o recuo de 4,25% na semana em que foram divulgadas as conversas entre o empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer.
Desde aquele evento, as perspectivas de aprovação da Reforma da Previdência seguem estagnadas no Congresso. O discurso do governo é que a tramitação da medida pode ser retomada em outubro. No entanto, a ausência de novidades positivas tem contido a esperança dos profissionais de mercado sobre a aprovação da reforma ainda na administração Temer.
O mercado acredita que as novas denúncias da Procuradoria Geral da República (PGR) contra o presidente não vão prosperar na Câmara. Mas esse evento acaba travando um pouco a disposição dos investidores a assumir riscos, especialmente pelo fato de que a evolução da agenda de reformas também fica mais lenta. E isso contribui para a correção de preços, puxada pelo exterior.
Um dos principais termômetro nos Juros futuros também capta esse cenário. A diferença entre taxas longas e curtas continua a indicar o elevado prêmio exigido pelos investidores para assumir riscos mais estruturais. Na comparação entre os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 e de 2019, por exemplo, a inclinação está na máxima histórica, de 1,54 ponto percentual. Já considerando o trecho mais extenso, de 2023 e 2019, houve leve ajuste para 2,24 pontos, ante 2,25 pontos no fechamento da véspera.
“A perspectiva de curto prazo segue positiva, com recuperação de confiança e a inflação em baixa”, diz o operador Matheus Gallina, da Quantitas. Isso contribui para a queda cada vez maior dos Juros mais curtos e até limita a perda do Câmbio, ante pares emergentes. “Mas para se sustentar a estabilidade de longo prazo, as reformas são necessárias”, acrescenta o profissional.
Para o estrategista-chefe da Votorantim Asset, Marcos De Callis, não está descartada a chance de aprovação da Reforma da Previdência antes da eleição, mas o cenário se mostra cada vez mais difícil. Sem a Previdência nos próximos meses, “vão ser necessárias surpresas positivas da economia para preencher esse vazio e manter os preços nos mesmos níveis”, acrescenta.
A despeito da cautela doméstica, o principal catalisador para a alta do dólar e a pressão nos Juros futuros desta vez é externo: a reavaliação do cenário econômico dos Estados Unidos. Os Juros futuros americanos precificam mais de 70% de chance de novo aperto monetário por lá em dezembro, mais que o dobro das apostas há um mês. A variação dos ativos americanos também contabiliza o crescimento potencial da economia com a reforma tributária proposta pelo presidente Donald Trump. Ainda assim, há quem enxergue com ceticismo a possibilidade de aprovação da medida no Congresso dos Estados Unidos, a exemplo do recente fracasso do republicano em mudar o sistema de saúde.
Ontem, o dólar passou por ajuste e caiu contra boa parte das moedas emergentes. Ante o real, houve baixa de 0,36%, a R$ 3,1823, o que limitou a alta na semana. A taxa do contrato de DI para janeiro de 2021 marcou 8,83% no fim da sessão regular, ante 8,840% na véspera.
O mercado de Câmbio brasileiro também vem trabalhando com a perspectiva de que o BC retirará quase US$ 4 bilhões em Swap cambial que vencem em 2 outubro. Os outros US$ 6 bilhões desse lote foram rolados para outros prazos. O mais próximo é o de janeiro de 2018, quando vencem cerca de US$ 9,638 bilhões.
Fonte: Valor Econômico