Os dados econômicos divulgados nas últimas semanas apenas confirmaram o cenário básico para a inflação traçado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central e, consequentemente, toda a sinalização de política monetária, incluindo uma desaceleração moderada dos cortes de Juros em reunião nesta semana e uma certa indefinição sobre se a taxa básica poderá cair abaixo de 7% ao ano neste ciclo de distensão.
Alguns analistas econômicos, porém, acham que a falta de novidades obrigará o Banco Central a reequilibrar o seu balanço de riscos, que pendia assimetricamente para o lado positivo. Agora, segundo essa linha de raciocínio, a sinalização deve ser neutra.
O mais provável, porém, é que o balanço de riscos a ser divulgado na noite de quarta-feira não tenha uma reorientação importante, além de um eventual ajuste de texto aqui ou ali. Isso porque, a despeito da avaliação em setores do mercado financeiro de que o balanço de risco do Banco Central é assimétrico, o Copom não comunicou nada a respeito.
Em tese, é possível um Banco Central comunicar balanço de riscos assimétrico. O próprio BC brasileiro já chegou a fazer isso algumas vezes, geralmente do lado negativo, como uma preparação prévia para subir os Juros. Mas, sob a gestão de Ilan Goldfajn, o BC nunca comunicou nenhuma assimetria no balanço de riscos. Não está dito em nenhum dos documentos oficiais e, na gestão Ilan, o que não está escrito não foi comunicado.
A ideia de que o balanço de riscos pudesse ser assimétrico, portanto, parece ser mais uma avaliação de parte dos analistas econômicos. A projeção do boletim Focus para a inflação de 2018, divulgada ontem, está em 4,02%, abaixo do 4,3% estimado pelo BC no Relatório de Inflação, tomando como base a trajetória do mercado para Câmbio e Juros. Muitos analistas entendem que a projeção do BC é muito conservadora e que, mais cedo ou mais tarde, a autoridade monetária terá de se render a um cenário mais benigno.
É possível que o mercado esteja certo, mas também que esteja errado. Em fins do ano passado, por exemplo, o mercado projetava uma inflação acima da prevista pelo BC. No fim, tanto o BC quanto o mercado se mostraram muito conservadores, mas constata-se agora que a projeção da autoridade monetária estava mais próxima da inflação efetivamente apurada do que a do mercado.
De qualquer forma, se de fato o BC mantiver intacto o balanço de riscos, é porque continua a atribuir alguma chance de a inflação se sair melhor do que o projetado no cenário básico. Muito provavelmente, será necessário um período mais longo de tempo para avaliar se o balanço de riscos está pendendo para o lado mais positivo, abrindo caminho para a Selic explorar o território abaixo de 7% ao ano.
Fonte: VALOR ECONÔMICO