Tesouro dos EUA muda estratégia e mexe com mercado de juro

    Os planos do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos de vender títulos do governo de prazos mais curtos estão repercutindo nos mercados financeiros. Desencadearam uma discussão sobre o ritmo do aperto da política monetária pelo Federal Reserve (Fed, o BC americano) e a direção a ser tomada pelos rendimentos dos bônus de longo prazo.

    No começo do mês, o Departamento do Tesouro americano sinalizou uma preferência por financiar necessidades maiores de tomadas de empréstimo – num momento em que o Fed começa a encolher seu balanço, de US$ 4,5 trilhões – por meio da venda de títulos de curto prazo, como letras (de um ano) ou notas (de um a cinco anos), após uma reunião trimestral com grandes operadores de mercado e investidores. O Departamento do Tesouro também afirmou estar tranquilo com o fato de o vencimento médio ponderado atual de seus títulos em circulação ser de cerca de 70 meses.

    A composição do endividamento e a preferência do Tesouro por manter o atual vencimento médio ponderado podem coibir os impulsionadores potenciais dos títulos de vencimentos mais longos, de rendimento maior, em meio à persistente redução pelo Fed de seus bônus em carteira e os planos de reforma tributária do atual governo.

    Alguns analistas preveem um ritmo mais acelerado de aumentos das taxas de Juros pelo Fed, caso os rendimentos de longo prazo permaneçam contidos e estimulem condições financeiras acomodatícias, como o incentivo à maior tomada de recursos de longo prazo pelas empresas.

    “A opinião sobre o número adequado de altas é prevista com base numa série de pressupostos, entre os quais o significado da normalização do balanço para as taxas de Juros de longo prazo”, disse Michael Feroli, economista, para os EUA do J.P. Morgan Chase. Ele disse que esses pressupostos podem ter de ser corrigidos diante da redução da pressão altista sobre as taxas de Juros de longo prazo.

    A mudança da estratégia de financiamento do Tesouro intensificou um achatamento ainda maior na diferença da curva de rendimento entre os bônus de curto e longo prazos. A diferença entre os títulos do Tesouro de dois e de dez anos caiu para pouco abaixo de 60 pontos-base.

    “A mudança de estratégia de emissão pelo Tesouro é, sem dúvida, um dos responsáveis pelo achatamento a que estamos assistindo da curva de rendimento… Em termos do impacto sobre a estratégia de taxa de Jurosdo Fed, poderia dar a eles confiança para apertar mais, por meio da fixação de uma meta mais baixa em termos do tamanho do balanço”, disse Randall Kroszner, ex-diretor do Fed e professor da Faculdade de Administração Booth, da Universidade de Chicago. Entre outros fatores que impulsionam o achatamento da curva de rendimentos estão as baixas expectativas inflacionárias e o pessimismo com relação às perspectivas da economia.

    Matthew Hornbach, do Morgan Stanley, estimou que 40% do recente “achatamento” parecem ter sido catalisados pelo anúncio do Tesouro sobre financiamento, no começo deste mês. Mas alguns analistas observaram recentemente que a reação do mercado é exagerada e que também serão necessários aumentos das emissões de vencimentos longos.

    “Eles têm de emitir mais na ponta de longo prazo”, disse Subadra Rajappa, estrategista de Juros do Société Générale. “Só pela via da reforma tributária, isso vai aumentar o Déficit, e isso vem se somar ao fato de que o Déficit vai aumentar de qualquer forma. Eles não conseguem financiar tudo isso com letras.”

    Analistas da Wrightson Icap observaram recentemente: “A nova diretriz de vencimento médio do Tesouro sugere que o risco de aumentos desproporcionais na tomada de empréstimos com vencimento de mais de dez anos arrefeceu, mas isso não significa que os segmentos de dez e 30 anos vão sair incólumes quando o Tesouro finalmente começar a reforçar as emissões, no ano que vem”.

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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