Mercado vê Selic cair a 7% na última reunião do ano

    O mercado chega às vésperas da última reunião do ano do Comitê de Política Monetária do Banco Central(Copom) convencido de que a taxa Selic, hoje em 7,5%, deve marcar um novo piso histórico. E com grandes chances de haver cortes adicionais em 2018. De 39 economistas ouvidos pelo Valor, 37 dizem acreditar que o comitê reduzirá o juro básico em 0,5 ponto percentual na quarta-feira, enquanto outros 2 esperam um corte menor, de 0,25 ponto, para 7,25% – nível que equivale à atual mínima histórica do juro, marcada em outubro de 2012.

    Mas a eleição presidencial de 2018, que pode trazer volatilidade ao Câmbio, é um elemento de risco citado pela maioria dos analistas, inclusive pelos que acreditam que a inflação dá espaço para uma taxa Selic abaixo de 7% no curto prazo.

    Para 2018, há uma dispersão importante das projeções. Do total, 19 economistas contam com uma redução adicional da Selic no próximo ano. Outros 13 economistas afirmam que a taxa básica terminará o ano em 7%, enquanto sete contam com uma elevação do juro. Embora todos os consultados vejam riscos vindos do cenário político, a diferença de projeções para o juro neste momento se baseia no debate em torno de qual será o ritmo de recuperação econômica em 2018 e, consequentemente, de redução da ociosidade e seu efeito sobre a inflação.

    Para Fabio Maciel Ramos, economista do UBS, a Selic deve cair a 7% e permanecer nesse patamar durante todo o ano de 2018 porque, nesse ponto, estará em nível estimulativo. Dessa forma, ao longo dos próximos meses o hiato do produto deve diminuir e a inflação convergir para a meta.

    “Uma normalização da política monetária, somente a partir de 2019”, diz o economista, que conta com uma elevação de um ponto percentual do juro ao longo daquele ano. Uma queda adicional da taxa, segundo ele, não deve ser necessária porque, neste momento, já há sinais claros dos efeitos da política monetária sobre a economia e a inflação: o desemprego está diminuindo, a inflação atingiu um piso e os núcleos de inflação pararam de cair. “O Banco Central tem que olhar para frente e o que se vê é que a inflação e a atividade estão voltando a acelerar lentamente”, afirma Ramos.

    Em um primeiro momento, observa o economista, o efeito de uma piora do humor doméstico vindo das eleições ou mesmo da frustração com as reformas pode ser desinflacionário, na medida em que eleve o juro de longo prazo, desestimule investimentos e abale a confiança. “O problema é que o juro estará baixo e com um diferencial muito menor em relação ao exterior”, observa. “Nessa situação, o BC pode ter que agir para controlar o juro de longo prazo, o que pode influenciar a condução da política monetária”, diz.

    Já Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, diz acreditar que o Copom deve cortar o juro básico em 0,5 ponto nesta semana e fazer um ajuste adicional na primeira reunião de 2018, marcada para fevereiro.

    “O Copom deve deixar em aberto qual será o próximo passo, se mais uma queda adicional de 0,25 ponto ou de 0,5 ponto, diante da incerteza quanto ao grau de retomada da economia e de uma inflação que vem surpreendendo para baixo”, afirma. Para a economista, no entanto, como existe uma chance real das expectativas de 2018 e 2019 reagirem significantemente até a primeira reunião de 2018, “seria mais prudente não fechar as portas para uma queda adicional, ainda que estejamos chegando bem próximo do fim do ciclo”. Mas a normalização da política monetária, em sua visão, deve começar já no próximo ano, levando a Selicpara 7%.

    Solange também alerta que, se o risco eleitoral aumentar consideravelmente, elevando a incerteza com a solvência fiscal de longo prazo, poderia haver uma depreciação mais expressiva do Câmbio. Nesse cenário, as expectativas de inflação de curto e médio prazos poderiam ser desancoradas, o que forçaria o Banco Centrala iniciar o processo de subida da taxa de Juros antes do esperado.

    Outra preocupação é que essas incertezas sobre o próximo governo ocorram num momento de reversão do ambiente positivo para emergentes. “O cenário externo favorável já dura muitos anos e em algum momento teremos uma reversão. Sem a menor garantia de que o próximo governo a ser eleito enfrentará a Reforma da Previdência, estamos bem vulneráveis à reversão do humor externo”, afirma Solange.

    O economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, já embute em seu cenário alguns riscos domésticos e externos que podem levar o juro de volta aos 8% no próximo ano – depois de tocar a mínima de 7% em dezembro.

    “Nosso cenário básico é que os mercados irão passar a considerar de modo mais claro as estratégias de retirada de estímulos do Fed [o Banco Central americano], o que pode encontrar o Brasil mais vulnerável em função dos riscos fiscais e políticos”, afirma Padovani. “O resultado é uma maior pressão cambial, o que reforça nosso cenário para Juros. Um quadro externo tranquilo, no entanto, permitiria Juros estáveis.”

    Na ponta mais otimista, está o sócio da 4E Consultoria, Juan Jensen, que trabalha com uma taxa Selic de 6% no fim de 2018. Esse cenário se sustenta diante da atividade econômica ainda lenta, que contribui para um nível de ociosidade muito elevado, quadro que tem pouca chance de ser revertido no próximo ano. Jensen admite, no entanto, existir o risco de haver um impacto mais forte sobre a taxa de Câmbio por razões externas.

    “Mas esse fenômeno deve ser encarado como um choque de oferta pelo Banco Central, fazendo com que a política monetária combata apenas os efeitos secundários desse choque e não seus efeitos primários. Assim, o impacto sobre política monetária seria pequeno”, afirma.

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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