Apetite por risco cresce e pode trazer turbulências no longo prazo, diz BIS

    O Banco de Compensações Internacionais (BIS) alerta que os mercados ignoraram iniciativas tomadas por grandes Bancos Centrais, a começar pelo Federal Reserve dos EUA, para reduzir estímulos à economia, e o apetite pelo risco se intensificou.

    Em relatório sobre a atividade bancária global, o BIS, espécie de banco dos Bancos Centrais, avisa que a calma no curto prazo nos mercados se obtém às expensas de possíveis turbulências no longo prazo.

    Fed aumentou quatro vezes a taxa de juro no ciclo de aperto monetário iniciado no fim de 2015, e a previsão é de pelo menos mais três altas da taxa em 2018.

    Paradoxalmente, apesar do gradual aperto monetário, as condições financeiras mundiais continuaram a se flexibilizar, num contexto de maior preocupação pela sobrevalorização dos preços dos ativos, conforme o banco.

    Caiu a rentabilidade adicional que os investidores exigem para aplicar em títulos de longo prazo em vez de optar por um prazo mais curto. Com relação à estrutura de preço dos ativos, o BIS nota que permanece a incerteza sobre o funcionamento exato dessa compressão ao longo do tempo, e sobre como poderiam reagir os rendimentos de títulos uma vez lançada realmente a normalização das políticas dos Bancos Centrais.

    Para o BIS, a persistência de baixos rendimento da renda fixa e a fraca volatilidade, sobretudo nos EUA, lembram o “enigma” do mercado de títulos de dívida mencionados em 2005 pelo então presidente do Fed, Alan Greenspan, quando os rendimentos no mercado de obrigações permaneceram baixos apesar da subida das taxas de Juros.

    Claudio Boro, chefe do Departamento Monetário e Economico do BIS, destaca que no plano economico a situação continuou a melhorar. As capacidades não utilizadas diminuíram e a inflação, que guia a ação dos BCs, continuou globalmente moderada.

    E o apetite pelo risco aumentou, como mostram as diferenças de rendimento nas obrigações de empresas, que continuaram a cair. O mesmo aconteceu no caso de títulos soberanos de economias emergentes. Os fluxos de capitais para os emergentes prosseguiram, embora num ritmo menos rápido, e os mercados continuaram a fazer uma escolha anormalmente favorável a emissões de títulos de entidades não convencionais.

    Para Bório, uma das razões do contraste entre aperto monetário e condições financeiras mais favoráveis é que os atores dos mercados preveem taxas de Juros e possíveis taxas de inflação ainda mais baixas do que o BC tem indicado.

    Também pode ser a combinação de gradualidade e previsibilidade. O ritmo da alta de juro diminuiu e deveria ser desta vez o mais lento jamais observado. A previsibilidade faz baixar as “primes” de risco, o que provoca um aumento do endividamento e da tomada de risco.

    A inquietação do BIS é de que companhias e famílias continuem a acumular dívidas e comprometer o crescimento economico no futuro.

    Para Bório, a questão não está resolvida. Diz que o aperto monetário parece não ter realmente começado. E alerta que tampouco desapareceram as fragilidades formadas em torno do mundo durante o período pouco habitual de taxas de Juros extremamente baixas.

    Os níveis de dívida continuam elevados tanto em moeda local como em divisas. O mesmo ocorre com as valorizações elevadas, sustentadas pela fraqueza do rendimento de títulos de dívida pública, que servem de referência para os preços de todos os ativos. Para o BIS, quanto mais a tomada de risco se prolonga, maiores podem chegar a ser as exposições subjacentes nos balanços.

    “Um aperto monetário pode ser considerado como eficaz se é evidente que as condições financeiras melhoraram?”, indaga Bório. E se a resposta é “não”, o que deveriam fazer os Bancos Centrais? Ele não dá respostas.

    O relatório do BIS inclui uma análise da reatribuição do risco no sistema bancário internacional na última década, através de transferência de risco de crédito, garantias, derivativos e colateral. Constata que os bancos com presença internacional continuaram a transferir esse risco desde centros financeiros e economias emergentes para economias desenvolvidas. Mas aumentaram suas exposições nos países emergentes da Ásia. Isso refletiu a presença internacional crescente de empresas e instituições bancárias desses países e a vontade maior dos credores de conservar essas exposições em seus balanços.

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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