Atacado acelera e puxa IGP-Di, mas sem sustos

    A recente aceleração dos preços no atacado deve tornar mais rápida a volta ao terreno positivo da inflação acumulada em 12 meses pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), mas isso ainda está longe de significar pressão sobre os preços para 2018. A afirmação é de Salomão Quadros, superintendente-adjunto de Inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), para quem mesmo uma alta de curto prazo da inflação deve ficar concentrada no atacado e em poucos produtos.

    Ontem, o Ibre-FGV informou que o IGP-DI de novembro ficou em 0,80%, depois de avançar apenas 0,10% em outubro. Com isso, a inflação acumulada em 2017 até novembro, segundo o IGP-DI, é negativa em 1,15%. Em 12 meses, o IGP-DI acumula variação de -0,33%.

    A maior parte da alta de novembro foi causada pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que subiu 1,06% em novembro depois de recuar 0,03% no mês anterior. Quadros ressaltou que essa mudança de trajetória do IPA – com peso de 60% no IGP-DI – ficou concentrada em minério de ferro e combustíveis.

    No caso do minério, ainda houve queda de preços no mês passado. O produto, que pesa cerca de 5% no IPA, passou de uma variação de -12,35% em outubro para -3,75% no mês passado, mas indicando uma aceleração que, segundo Quadros, deverá entrar no terreno positivo em dezembro. Já combustíveis e lubrificantes avançaram de 0,54% em outubro para 7,02% em novembro.

    “O minério está em fase de aceleração este mês. Estava na faixa de US$ 60 por tonelada e agora está na faixa de US$ 70 por tonelada. O minério tende a acelerar e ele pesa mais de 5% no IPA”, diz Quadros, que calcula a influência do minério em novembro em cerca de 0,3 ponto percentual do total de 1,06% do IPA. “Foi quase 30% do IPA”.

    O minério é o único produto relevante que pode exercer forte pressão no atacado no mês que vem, segundo Quadros. Por isso, o mais provável é que o IGP-DI acumulado em 12 meses volte ao terreno positivo apenas em janeiro, diz.

    Sobre uma eventual pressão inflacionária em 2018, Quadros diz que o risco é baixo. Segundo ele, não há sinais de aquecimento de preços. Ele pondera que os alimentos deverão ficar “menos comportados”, mas longe de causar preocupação. Ressalvando que “o clima sempre supreende”, Quadros ressalta que os seguidos períodos de deflação de alimentos não deverão se repetir.

    “É muito improvável que uma supersafra como a deste ano se repita ano que vem. Mas os alimentos, por enquanto, apontam que vão se manter comportados, longe de oferecerem pressão para o consumidor. Talvez gerem uma aceleração de 1,2 ou 1,3 ponto percentual na inflação, o que está longe de ser um problema.”

    Ele frisa que um bom sinal deverá vir dos serviços, que sofrem de uma inércia natural, pois são alimentados pela inflação passada. Com isso, a inflação baixa deste ano traz expectativa de preços sem grande aceleração dos serviços em 2018.

    Ainda dentro do IGP-DI de novembro, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com peso de 30% no IGP-M, subiu 0,36% em novembro ante 0,33% no mês anterior. Com os 10% restantes do IGP-DI, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) teve em novembro a mesma taxa de variação de outubro: 0,31%.

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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