Análise: Copom deixa porta aberta para a próxima decisão

    A sinalização principal da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central para a reunião de fevereiro é um corte de 0,25 ponto percentual na taxa Selic. Mas o documento deixa uma porta aberta para uma baixa de 0,5 ponto e outra para nenhuma redução nos Juros.

    No parágrafo 24 da ata, o Copom indica a intenção de desacelerar o corte de Juros em fevereiro, para 0,25 ponto, mas pondera que essa sinalização está mais suscetível a mudanças “na evolução do cenário e seus riscos do que nas reuniões anteriores”.

    O recado já havia sido dado em comunicado divulgado na semana passada, e muitos analistas entenderam que ele pendia para o lado conservador, pesando mais os riscos negativos do que os positivos no horizonte. Ou seja, poderia cortar 0,25 ponto percentual ou cortar nada.

    Com o documento divulgado ontem, é bom incluir a possibilidade de um corte de 0,5 ponto. No parágrafo 23 da ata, fica claro que o balanço de riscos é simétrico. Nesse trecho, o colegiado pondera, com a mesma ênfase, tanto os riscos positivos (“diversas medidas de inflação subjacente em níveis confortáveis ou baixos”) quanto negativo (uma frustração das reformas acompanhada de virada no cenário externo).

    E o que o BC está de olho para decidir se corta mais os Juros? O parágrafo 17 da ata revela que os membros do Copom estão em dúvida se a chamada inflação subjacente é compatível com o cumprimento da meta.

    Até a ata da reunião anterior, de outubro, o BC dizia que os núcleos “apresentam níveis confortáveis e uma trajetória compatível com a convergência da inflação em direção à meta”. A ata divulgada ontem diz que os membros do colegiado debateram “em que medida” os núcleos “são compatíveis com a convergência da inflação em direção à meta no horizonte relevante para a política monetária”.

    As discussões dentro do BC, provavelmente, refletem os dilemas existentes entre os analistas do mercado. Um grupo acredita na perpetuação da inflação baixa, com núcleos em torno de 3,5%. Outros esperam que, à medida em que a economia reage, os núcleos caminhem para a meta. Do ponto de vista do BC, se os núcleos continuarem fora da trajetória das metas, será preciso cortar mais os Juros.

    Muitos analistas têm afirmado que um corte de 0,5 ponto em fevereiro é incompatível com a sinalização de que o Copom pretende agir com “cautela na condução da política monetária” nas reuniões seguintes. Faz sentido cortar 0,5 ponto em fevereiro e assumir uma postura de mais cautela logo em seguida? Sim, quando se consideram as defasagens de política monetária. Se os núcleos não convergirem à meta, o Copom provavelmente terá que concentrar os estímulos no começo do ano para influenciar a inflação de 2018.

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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