Governo não vai substituir vices da Caixa

    MINISTÉRIO PÚBLICO HAVIA RECOMENDADO AFASTAR EXECUTIVOS, MAS AGU ENTENDE NÃO HAVER DENÚNCIAS RELEVANTES

    GABRIELA VALENTE
    valente@bsb.oglobo.com.br

    -BRASÍLIA- O governo não acatará a recomendação do Ministério Público Federal (MPF) de afastar todos os vice-presidentes da Caixa Econômica Federal. Segundo técnicos ouvidos pelo GLOBO, a Advocacia-Geral da União (AGU) entende que não haveria denúncias relevantes sobre todos os executivos. Parte deles, entretanto, é investigada pela ligação com Eduardo Cunha e o ex-ministro Geddel Vieira Lima e possível atuação que teria favorecido o grupo político dos dois, presos na Operação Lava-Jato.

    A presidente do Conselho de Administração da Caixa é a secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi, que defende maior rigor na designação de vice-presidentes no novo estatuto do banco, que está prestes a ser votado. Ele determinará que consultorias (head hunters) façam a seleção. A medida já estava na Lei das Estatais, mas a Caixa deve fixar normas ainda mais rígidas. Até lá, a atual cúpula deve permanecer.

    — A Caixa não tem autonomia para nomear ou demitir vice-presidente. Quem nomeia é o presidente da República — disse uma fonte da instituição.

    Essa blindagem ganhou força no mês passado, quando o escritório de advocacia Pinheiro Neto fez um relatório independente. Foram ouvidos os vice-presidentes e analisadas as informações de quatro operações do MP e da Polícia Federal, que envolvem diretamente a Caixa: Cui Bono, Sépsis, A Origem e Patmos. O documento apontou várias interferências políticas. Como a do exdeputado Eduardo Cunha para Antônio Carlos Ferreira, vice-presidente corporativo.

    REUNIÕES COM CUNHA

    O MP cita o fato de Ferreira ter contado que Cunha colocou condições para mantê-lo no cargo. Entre elas, encontrar-se com o deputado. Outra condição era fornecer listas de operações acima de R$ 50 milhões para ajudar a “rentabilizar seu mandato”.

    Ferreira também teria dito que quatro consultores que trabalhavam com Geddel poderiam ser fontes de vazamento de informações privilegiadas da Caixa. E que, depois do afastamento de um deles, Rodrigo Rocha Loures (ex-deputado flagrado com uma mala de propina) teria procurado o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, para tratar de operações de interesse da Rodrimar, empresa que opera no Porto de Santos.

    Outro alvo das investigações é Deusdina dos Reis Pereira, exdiretora executiva de Fundos de Governo, hoje à frente da VicePresidência de Fundos de Governo e Loterias. Ela disse aos investigadores ter suporte político do PR. Trabalhou diretamente com o ex-vice-presidente Fábio Cleto, preso na Operação Sépsis e ligado a Cunha.

    Sobre Roberto Derziê de Sant’Anna, vice-presidente de Operações Corporativas, os procuradores dizem que ele alternou diversas indicações políticas.

    O presidente Michel Temer também aparece no relatório. Quando era vice-presidente, teria enviado e-mail, em 28 de outubro de 2015, para fazer uma indicação, pedido que teria sido encaminhado por Derziê. Este disse ainda ter recebido de Geddel uma mensagem com seus dados de conta pessoal, na qual o ex-ministro dizia monitorar operações da Caixa que interessassem a parlamentares.

    Derziê, Ferreira e Deusdina ainda mantinham reuniões frequentes com Cunha sobre operações da Caixa.

    A investigação interna também constatou que José Henrique Marques da Cruz, vice-presidente de Redes, mantinha relações com Geddel e Cunha, que mostravam interesse nas operações do banco com Marfrig, Seara e J&F, de Joesley Batista.

    BANCO ESPERA NOVO ESTATUTO

    Depois de receber o relatório, o MP recomendou a destituição de todos os vice-presidentes. Segundo um dos investigadores, que não quis ser identificado, o documento mostra que “a interferência política continua”.

    Procurada, a Caixa informou ter encaminhado ontem as respostas ao MPF. “Quanto à sugestão específica ‘Troca imediata dos vice-presidentes’, a Caixa esclarece que respondeu ao MPF. Por inexistir regra na Lei das Estatais, a Caixa entende que o novo estatuto do banco disciplinará as futuras indicações e nomeações de vice-presidentes, não cabendo sua aplicação aos atuais ocupantes”, afirmou em nota.

    Fonte: O Globo

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