Mercado estende postura mais cautelosa em semana decisiva

    Os mercados de Câmbio e renda fixa começaram a semana ainda com tom conservador, estendendo o sentimento dos últimos dias, quando dólar e Juros voltaram a mostrar viés de alta com investidores buscando proteção diante da ansiedade com o julgamento de recurso do ex-presidente Lula.

    O julgamento pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) de recurso da defesa do ex-presidente da República acontecerá amanhã. Mas já na semana passada o mercado operou em modo mais cauteloso. Com isso, quem buscou reduzir riscos nos últimos dias prefere agora esperar os desdobramentos do julgamento. “As movimentações estão muito pontuais. O mercado está tentando ler o máximo possível sobre se o ex-presidente pode de fato ser impedido de concorrer [às eleições]”, diz Luis Laudísio, operador da Renascença.

    As dúvidas se justificam porque, mesmo em caso de condenação em segunda instância, a defesa de Lula pode recorrer a processos relacionados ao julgamento pelo tribunal. Caso essas ferramentas não atendam às demandas da defesa do petista, recursos dirigidos ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF) ainda são possíveis.

    Nas mesas de operação, tem ficado mais acirrado o debate sobre potenciais cenários derivados dos possíveis resultados do julgamento. A expectativa é que um placar de 3 a 0 contra o ex-presidente ainda gere queda do dólar e dos Juros. Um resultado de 2 a 1, por outro lado, serviria de argumento para alta da moeda e das taxas de Depósito Interfinanceiro (DI) negociadas na B3. Essa oscilação, porém, seria discreta perto da pressão esperada no caso de resultado ainda mais favorável ao ex-presidente Lula.

    Até lá, a sensação de investidores é que o melhor a fazer é evitar grandes aberturas de posições. Ainda assim, as oscilações mais moderadas são no sentido de um mercado mais arisco. O dólar acabou fechando em alta de 0,29%, para R$ 3,2098. A moeda ficou bem mais perto da máxima do dia (R$ 3,2103) do que da mínima (R$ 3,1837).

    Nos Juros, a taxa do contrato de DI para janeiro de 2021 – mais negociado da sessão – ficou estável, valendo 8,920% ao ano. O DI janeiro de 2019 teve leve alta para 6,925%, de 6,915% no fechamento anterior. Chama mais atenção, porém, o acréscimo de 5 pontos-base na Selic média projetada para o primeiro trimestre de 2019, de 7,97% ao ano para 8,02%.

    O acautelamento do mercado quando se observam os preços dos ativos financeiros, no entanto, por ora não afetou as expectativas de inflação. A mediana das expectativas permaneceu na semana passada em 3,95% para o IPCA de 2018, conforme o relatório Focus do Banco Central. O Bank of America Merrill Lynch espera taxa ligeiramente abaixo (3,9%), mas destaca o potencial de depreciação cambial por causa de ruídos eleitorais como fonte de riscos ao cenário para os preços.

    James Swanston, economista da consultoria Capital Economics, lembra que os temas políticos abriram espaço para valorização do Câmbio emergente no ano passado, o que, para ele, não deve se repetir em 2018. “Como um todo, acreditamos que o recente rali das divisas emergentes está se aproximando do fim e que a maioria das moedas desse universo fechará este ano em patamares mais fracos que os atuais”, diz o economista.

    O índice MSCI para moedas emergentes sobe 1,66% neste ano, oscilando nas máximas desde agosto de 2011.

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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