Investidores do mercado de Juros voltaram a apostar na possibilidade de novo corte da Taxa Básica de Jurosem março. Ao mesmo tempo, consolidaram expectativas num declínio de 0,25 ponto percentual da Selic em fevereiro, precificação que havia sido reduzida recentemente após a piora dos prêmios de risco e das leituras de inflação do fim do ano passado.
Os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) da B3 – com os quais investidores podem operar expectativas para os resultados das decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central – fecharam a sexta-feira embutindo 28% de chance de o Copom reduzir a Selic em 0,25 ponto percentual em março. Como comparação, na segunda-feira passada essa leitura era zero.
Com a volta das apostas de queda da Selic em março, o mercado elevou a 100% a probabilidade de redução do juro na reunião do Copom de 6 e 7 de fevereiro. Na segunda-feira passada, a precificação era de 88%, taxa que chegou a 83% no último dia 12.
O mercado havia começado o ano mais convicto na ideia de que o BC estenderia o ciclo de distensão monetária para fevereiro, com boas chances de a queda dos Juros incluir também março. Mas a divulgação, no dia 9, do IPCA de dezembro, que veio em 0,44%, bem acima da taxa de 0,31% esperada, eliminou da curva de DI as apostas de Selic menor em março. A probabilidade no dia 9, que era de 40%, caiu a zero na sessão seguinte.
Mas em seguida o IBGE reportou o IPCA-15 de janeiro, que surpreendeu ao vir abaixo do esperado e ajudou a recuperar a confiança do mercado na sinalização do BC de ampliação do ciclo de queda dos Juros. Porém, o reforço mais consistente veio na semana passada, quando a expressiva queda dos prêmios de risco e do dólar – pelo exterior benigno e pelo resultado do julgamento do ex-presidente Lula – fortaleceu o cenário de inflação comportada para o ano. Para se ter ideia, entre a máxima e a mínima da semana passada, o dólar caiu 3,8%, batendo R$ 3,12, menor valor em quatro meses.
“Pode ser que o mercado agora reduza as expectativas para o dólar, o que, claro, mexe com o modelo do Banco Central para inflação”, diz Rodrigo Alves, economista-chefe da Icatu Vanguarda.
Mais do que as decisões de curto prazo do Copom, no entanto, analistas acreditam que a melhora das medidas de risco tende a mexer sobretudo com as perspectivas quanto à manutenção da Selic no patamar a que for levada ao fim do ciclo de afrouxamento monetário. E também a curva de DI evidencia o peso dos eventos da semana passada nesse cálculo. A Selic projetada nos contratos de Juros para o fim de 2018 caiu de 8,23% ao ano no começo da semana para 7,94% na sexta-feira, menor patamar desde o começo de 2018.
“Se você acredita numa probabilidade maior de um governo pró-reforma ser eleito em outubro, você traz isso a valor presente, o que acaba mexendo com o cenário para os Juros tanto no curto prazo, quanto – e principalmente – no médio e longo prazos”, afirma Renato Botto, gestor sênior de renda fixa da Absolute Investimentos.
De acordo com o último Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado em dezembro passado, o BC projeta inflação de 4,2% para 2018 (abaixo do centro da meta, de 4,5%). A taxa de 4,2% também é estimada para 2019, mas nesse caso o IPCA já estaria muito próximo do centro da meta para aquele ano, definido em 4,25%.
Num cálculo rápido, Botto, da Absolute, conclui que a queda do dólar para perto de R$ 3 poderia levar o IPCAde 2018 a 4%. Esse movimento aliviaria também a inflação de 2019. E isso daria mais tranquilidade para o BC não só cortar os Juros, mas ainda mantê-los nas mínimas por mais tempo.
A perspectiva de queda dos Juros pelo BC também em março – ou mesmo além – torna mais atraentes posições vendidas em DIs curtos. Mas profissionais do mercado ainda defendem que os melhores vértices para aplicação estão na chamada “barriga da curva”, trecho que corresponde principalmente aos vencimentos 2020 e 2021. O motivo é a relação risco/retorno, uma vez que oferecem juro “extra” atraente com menor exposição a risco que prazos ainda mais longos. A título de comparação, se a Selic média embutida na curva de DI para o primeiro trimestre de 2019 está 80 pontos-base acima do juro básico atual (7% ao ano), a taxa média projetada para o ano de 2020 está 330 pontos-base mais elevada, ou seja, em 10,3%.
Nessa toada, o BNP Paribas segue aplicado nessa taxa média de Juros para 2020, com alvo de 9,75%. O banco francês trabalha com corte da Selic em fevereiro e março, mas considera que a elevada inclinação da curva de Juros torna mais atrativas aplicações com vencimentos de médio prazo. A diferença entre os Juros com vencimento em janeiro de 2021 e janeiro de 2019, por exemplo, ainda está próxima de 200 pontos-base, nível considerado bastante elevado.
“Vamos manter nossas posições otimistas em Brasil, tanto via Juros quanto Câmbio“, diz Gustavo Mendonça, estrategista do BNP, para quem o valor justo da moeda no curto prazo está perto de R$ 3,11.
Fonte: VALOR ECONÔMICO