TAXA RECUA 163 PONTOS EM 2017 COM MUDANÇA NAS REGRAS DO ROTATIVO
-BRASÍLIA, SÃO PAULO E RIO- As condições do crédito melhoraram em 2017, principalmente para pessoas físicas, mas o nível dos Juros ainda continua bastante elevado, sobretudo nas modalidades mais caras, como cartão de crédito e Cheque especial, que permaneceram acima de 300% ao ano. Segundo informou ontem o Banco Central (BC), com a entrada em vigor das medidas que limitaram o uso prolongado do Crédito rotativo, a taxa do cartão fechou o ano em 334,6% ao ano, com queda de 163,1 pontos percentuais em 12 meses. Mas, para parcelar a dívida do cartão, o consumidor passou a ter um custo maior. Neste caso, o percentual atingiu 169,2% ao ano (alta de 15,4 pontos na comparação com dezembro de 2016).
Quem ficou pendurado no Cheque especial não ficou longe disso: teve de arcar com Juros médios de 323% ao ano — apenas 5,6 pontos percentuais a menos que um ano antes. O BC vem discutindo com os bancos medidas para reduzir o custo dessa modalidade de crédito.
De acordo com Virgínia Prestes, professora de finanças da Faap, o consumidor deve se programar para evitar o cartão e ter acesso a um crédito mais barato:
— O banco pega carona na falta de educação financeira das pessoas. Por isso, a indicação é utilizar o cartão o menos possível, e jamais quando for para financiar o consumo.
Com relação ao Cheque especial, a especialista ressalta que este também cai na questão do descontrole do consumidor:
— Na verdade, em vez de esperar que haja alguma medida que reduza os Juros dessa linha, o correntista precisa mudar seus hábitos e se programar.
Ao divulgar os dados, o chefe do Departamento Estatístico do BC, Fernando Rocha, também recomendou evitar o uso frequente dessas duas modalidades de crédito, devido às taxas elevadas.
— As pessoas devem planejar seus orçamentos e gastos, a fim de que permaneçam no Cheque especial e no cartão o menor tempo possível — disse Rocha, acrescentando que, em dezembro, os consumidores usaram o 13 º para sair do especial e comprar à vista no cartão de crédito. OPERADORAS QUEREM FIM DO ‘SEM JURO’ Enquanto isso, a Associação Brasileira das Empresas de Cartões (Abecs) tenta mudar a dinâmica dos Juros no país. A entidade apresentou ao BC uma proposta para substituir o chamado parcelamento “sem Juros” por uma forma de crediário que terá as mesmas taxas em todos os estabelecimentos. O argumento é que, na verdade, o custo financeiro desse parcelamento para os lojistas fica embutido no preço do produto — ou seja, mesmo quem não opta por parcelar arca com os Juros.
O BC, porém, ainda não decidiu se acata ou não o pleito das operadoras de cartão. Procurada, a Abecs informou que “o tema está em estudo e sendo discutido com os reguladores, mas ainda não há nada de concreto para apresentar”.
Mas as administradoras de cartão já trabalham para ajustar os seus sistemas ao novo padrão de parcelamento. Nele, as taxas de Juros seriam mais baixas, e o lojista receberia o dinheiro da venda de uma só vez, em até cinco dias após a operação. No parcelamento sem Juros, o lojista só recebe a primeira parcela passados 30 dias. A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) informou que não tem uma posição sobre o assunto. QUADRO FAVORÁVEL ÀS PESSOAS FÍSICAS O BC informou ainda que os Juros médios nas operações de crédito com recursos livres (que podem ser emprestados livremente pelos bancos) alcançaram 40,3% em 2017 para pessoas físicas, recuo de 17,3 pontos em relação ao ano anterior. Para as empresas, o custo ficou em 21,5 % ao ano, queda de 6,6 pontos.
Segundo o economista João Morais, da Tendências Consultoria, esse cenário, mais favorável às pessoas físicas, deve se manter graças ao risco menor, com queda na inflação e recuperação do emprego.
Com a trajetória declinante da taxa básica (Selic), hoje em 7% ao ano, o spread (diferença entre o custo de captação dos bancos e o valor cobrado do consumidor) recuou 8,5 pontos percentuais, fechando 2017 a 31,8 % ao ano.
O saldo das operações de crédito do sistema financeiro alcançou R$ 3,086 trilhões em dezembro, com alta de 0,7% frente ao mês anterior e redução de 0,6% em 12 meses. Isso se deve à queda nos financiamentos para empresas, em meio à lenta recuperação da economia após a recessão. Enquanto o montante total do crédito para pessoa física subiu 5,6% em 2017, para as empresas houve recuo de 7% — reflexo da redução dos empréstimos do BNDES.
Fonte: O Globo