Santander reforça aposta no varejo para ampliar rentabilidade
Por Talita Moreira | De São Paulo
Rial vê expansão em consignado, imobiliário e ambição “ilimitada” em cartões
O Santander Brasil planeja repetir em 2018 a fórmula que garantiu ao banco um salto em rentabilidade no ano passado: foco em operações de varejo e aumento das receitas por cliente. Crédito consignado, financiamento imobiliário e uma ambição “ilimitada” em cartões devem nortear o crescimento da instituição, afirmou o presidente do Santander, Sergio Rial.
O banco colocou o pé no acelerador já no ano passado, enquanto o mercado de crédito encolhia, e planeja continuar nessa toada – um volume maior de operações pode ajudá-lo a compensar a pressão da queda da Selic sobre os spreads das operações. Spread é a diferença entre a taxa que uma instituição financeira paga ao captar recursos e a que cobra dos clientes.
Rial afirmou que a carteira de crédito do Santander deve crescer mais neste ano que em 2017, mas ponderou que é cedo para saber se a taxa ficará acima ou abaixo de 10%. De qualquer forma, é uma visão mais otimista que a dos bancos em geral, que têm falando numa expansão de 4% a 6% do estoque de empréstimos e financiamentos.
O Santander fechou dezembro com R$ 347,9 bilhões em sua carteira de crédito ampliada, o que significa expansão de 7,8% em um ano. O banco enfatizou operações com pessoas físicas e pequenas e médias empresas, mais rentáveis, e desacelerou os negócios com grandes companhias.
Com isso, atingiu lucro líquido ajustado de R$ 9,953 bilhões no ano passado. Foi o melhor resultado da história do Santander no país e 35,6% superior ao desempenho de 2016. Somente no quarto trimestre, o lucro foi de R$ 2,752 bilhões, com alta de 38,4% em relação aos três últimos meses do ano anterior. “Alcançamos crescimento com rentabilidade. Não é apenas uma questão de market share”, destacou Rial.
O banco entregou um retorno sobre o patrimônio líquido médio anualizado (ROAE, na sigla em inglês) de 18,3% no quarto trimestre do ano passado, bem acima dos 13,9% apresentados no mesmo período de 2016. O resultado agradou o mercado, e as ações do banco subiram 0,53%, para R$ 35,84. Para analistas do Credit Suisse, o retorno apresentado pelo Santander no quarto trimestre “era impensável alguns anos atrás”.
A questão, agora, é saber se o Santander vai conseguir manter esse ritmo de crescimento mais forte que os concorrentes. Na leitura de analistas do Goldman Sachs, esse ciclo pode estar perto do fim. Em relatório, o banco americano mencionou um ganho menor com operações de tesouraria – área que vinha ajudando o resultado do Santander – e um aumento nas provisões como pontos fracos do balanço.
A inadimplência também piorou. A proporção de operações com atraso superior a 90 dias passou de 2,9% em setembro para 3,2% em dezembro. O movimento foi atribuído a um caso específico de uma grande empresa, não detalhado pelo banco. Segundo Rial, a situação já está sob controle e não preocupa.
Para o executivo, a melhora do indicador de rentabilidade ao longo dos últimos trimestres é a “prova cabal” do comprometimento do Santander em reduzir a diferença em relação ao retorno de Itaú Unibanco e Bradesco – mais próximo de 20%. No ano passado como um todo, o Santander apresentou rentabilidade de 16,9%. Recuos pontuais não estão descartados, porém, segundo Rial. “Não é um processo linear. O importante é manter a direção correta.”
Esse caminho passa por aproveitar as oportunidades que um cenário de taxa Selic estruturalmente baixa possibilita. Uma dessas frentes é o crédito imobiliário. O objetivo é alcançar uma geração mensal de R$ 1 bilhão em financiamentos já a partir do segundo trimestre. O Santander também quer usar imóveis como lastro de empréstimos, o chamado “home equity”. Entre as nuvens que podem atrapalhar os planos, o presidente do Santander apontou um cenário eleitoral em que não prevaleça uma agenda de equilíbrio fiscal. “Sem isso, temos uma espada na cabeça como nação.”
Fonte: VALOR ECONÔMICO