Mercado começa a prever mais altas de juro pelo Fed
A decisão do Federal Reserve (Fed, Banco Central americano) gerou, com certo atraso, uma reação mais visível nos mercados. Na quarta, logo após a divulgação do comunicado em que foram mantidas as principais premissas com as quais o BC vem trabalhando nos últimos meses, pouco se viu de impacto nas bolsas e nos “yields” (retornos) dos Treasuries.
Mas em relatórios de economistas ontem, o que se observa, na média, é uma leitura de que o tom o Fed foi “levemente hawkish” (inclinado ao aperto).
Outra mudança perceptível é a movimentação do mercado em direção à expectativa mediana do Fed para os Juros neste ano, que é de três altas. Segundo levantamento do Bank of America Merrill Lynch, hoje o mercado precifica 2,75 altas de 0,25 ponto ao longo de 2018 e apenas 1,2 alta em 2019. Para o banco, o fato de o mercado estar precificando um pouco mais que 90% do que o Fed sinalizou na mediana dos pontos de 2018, significa que qualquer nova reprecificação das expectativas da “Fed Fund rate” provavelmente ocorrerá mais “para fora da curva”. A casa continua esperando três altas de Juros neste ano.
A saída de Janet Yellen e a entrada de Jerome Powell na presidência do Banco Central também gera especulações. Como Powell sempre votou com a maioria e não expressou opiniões muito diferentes do consenso, não se sabe como ele irá agir no comando da instituição.
A economia em rota de aquecimento e a possibilidade mais palpável de a inflação encostar na meta nos meses à frente deveriam, em tese, corroborar uma linha de aperto monetário mais forte e isso poderia acontecer já em março, não apenas com o aumento de 25 pontos-base dos Juros, mas com uma revisão para cima do “gráfico de pontos”. Antes disso, em fevereiro, Powell fará seu testemunho semestral ao Congresso, a primeira grande oportunidade para se conhecer suas posições.
Naka Matsuzawa, estrategista do Nomura, diz que o Fomc foi um “sucesso perfeito” em expressar uma posição “hawkish” na medida do possível, em uma reunião na qual o comunicado “é a única oportunidade para enviar mensagens”. Para ele, “isso reduziu a ansiedade do mercado sobre se o Fed está atrasado” [na normalização dos Juros]. A instituição espera nova alta em março e mantém a projeção de três no ano.
O UBS revisou a projeção para o PIB americano de 2018 em 0,4 ponto percentual, para 2,8%, destacando o peso do setor de energia, que impulsionou principalmente o aumento no investimento no ano passado. O banco também mantém a projeção de três apertos de Juros neste ano.
Já o Royal Bank of Canada (RBC) e a Capital Economics esperam mais Juros nos Estados Unidos.
Para o primeiro, o Fed plantou no comunicado “uma semente para uma eventual mudança de três para quatro altas em 2018, talvez já na reunião de março. Para a Capital, “o argumento a favor de quatro apertos neste ano certamente está se construindo”; os dados são bons e “as condições financeiras permanecem excepcionalmente frouxas”, já que “os yields de longo prazo aumentaram, mas o estreitamento dos spreads significa que os custos de empréstimos para as empresas estão próximos de baixas históricas”. Também concorda com a tese de que a maior depreciação do dólar este ano irá contribuir para uma forte recuperação da inflação – o que “forçará o Fed a subir os Juros quatro vezes”.
O BNP Paribas comenta que “embora o comitê tenha ampliado o escopo do que é visto como sólido [indicadores de atividade e inflação], continua a ver os riscos de curto prazo como equilibrados”. Assim, o comunicado da reunião de janeiro sugere que há riscos de alta para a visão do Fed – e a do próprio banco – para o cenário de três aumentos de Juros neste ano.
Wall Street tem pregão morno à espera de dados
As bolsas de Nova York tiveram um dia fraco, mas relativamente perto da estabilidade, antes da divulgação de balanços de peso e dados econômicos dos EUA. Os investidores também analisaram uma série de balanços, privilegiando ações individuais. A alta dos rendimentos (“yields”) dos Treasuries persistiu, com o título de dez anos renovando máximas desde 2014 e o de 30 anos furando a barreira de 3%. Em mais uma sessão instável, o Dow Jones terminou em leve alta de 0,14%, aos 26.186,71 pontos, mas deve ter um declínio semanal na ordem de 1,6%, que seria o pior desde a queda de 2,2% na semana encerrada em 9 de setembro do ano passado. O S&P 500 caiu 0,06%, aos 2.821,98 pontos, e o Nasdaq recuou 0,35%, aos 7.385,86 pontos.
Fonte: VALOR ECONÔMICO