Com surpresas positivas na produção industrial e prestação de serviços em dezembro, a atividade econômica fechou o ano ganhando tração. O resultado, acima do esperado pelos analistas, traz viés de alta para as projeções de crescimento para 2018.
Divulgado ontem pela autoridade monetária, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou alta de 1,41% em dezembro, em relação a novembro e feito o ajuste sazonal, após três meses de avanços entre 0,30% e 0,42% de setembro a novembro. O número veio mais forte do que a média de 1,1% das estimativas dos economistas.
No quarto trimestre contra o terceiro, o indicador registrou avanço de 1,26%, e em comparação com igual período de 2016, o crescimento ficou em 2,56%. Com isso, a atividade econômica fechou 2017 com incremento de 1,04%, na primeira variação positiva anual do IBC-Br desde 2013.
O resultado de dezembro deixa uma herança estatística positiva para o primeiro trimestre de 2018 e também para o ano como um todo. No cálculo de Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, o carregamento estatístico para o primeiro trimestre é de 1%. Isso significa que, se a atividade permanecer estável de janeiro a março ao mesmo nível de dezembro, ainda assim ela avançaria 1%. Para 2018, a herança estatística é ainda maior, de 2,3%.
“O quarto trimestre vinha acima do esperado e dezembro confirmou essa tendência”, afirma Marco Caruso, do Banco Pine. Após a divulgação do IBC-Br, o economista revisou para cima sua projeção para o PIB do quarto trimestre, de uma alta de 0,4% para 0,6%, na comparação trimestral dessazonalizada. “Com isso, já há um ‘carrego’ melhor para 2018”, afirma.
O Pine estimava alta de 2,5% para o PIB este ano, mas Caruso avalia que essa projeção já está defasada. Segundo ele, o consenso do mercado – atualmente em 2,8%, conforme a mediana Focus -, tende a caminhar para algo entre 3% e 3,5%.
“As surpresas positivas estão por todos os lados”, afirma, citando como exemplos o crédito para pessoa física melhor do que o esperado, que impulsiona o consumo; risco-país reduzido, com efeito positivo sobre o investimento; e o setor externo favorável, devido ao crescimento mundial disseminado.
Mais contido, o Haitong também tem viés de alta para sua projeção de crescimento de 2,2% para o PIB em 2018, mas ainda não acredita num avanço acima de 3%. O banco se mantém mais conservador do que a média por acreditar que o crescimento do primeiro semestre será limitado pelo desemprego elevado, que tende a restringir o consumo.
Para Felipe Serrano, economista do Haitong, a alta do IBC-Br no ano passado corrobora a expectativa de um avanço de 1,1% do PIB em 2017 – o número será divulgado pelo IBGE em 1º de março. “A atividade teve momentos distintos ao longo de 2017, com um primeiro trimestre de forte crescimento na agricultura, um segundo trimestre puxado pelo consumo devido ao saque das contas inativas do FGTS e um bom desempenho da indústria a partir do terceiro trimestre”, diz.
No quarto trimestre, a indústria manteve o bom desempenho e serviços começaram a ensaiar uma retomada, o que traz um bom sinal para 2018. “A recuperação começa a ficar mais difundida, ela foi num primeiro momento muito concentrada em alguns fatores específicos, agora o ritmo de crescimento diminuiu um pouco, porque não há nada se destacando, mas ao mesmo tempo há uma dispersão maior do crescimento”, afirma Serrano.
Para janeiro, os economistas esperam uma desaceleração da atividade na indústria, após um dezembro muito forte (2,8%). No comércio, ao contrário, o desempenho poderá ser melhor, devido à comparação com uma dezembro fraco (-1,5%), prejudicado pela antecipação de compras da Black Friday, cujo efeito ainda não é totalmente eliminado pela dessazonalização, por tratar-se de evento relativamente novo.
Uma desaceleração da atividade em janeiro, devido à base forte de dezembro, não prejudica a expectativa de um primeiro trimestre positivo, avalia Thiago Xavier, da Tendências Consultoria.
“A economia vem ganhando tração e isso está ancorado em fundamentos: geração de vagas, concessão de crédito e confiança do consumidor apontam para uma melhora da situação financeira das famílias que deverá ser o grande vetor da economia neste início de ano”, diz Xavier, acrescentando que os investimentos também dão sinais de melhora desde o terceiro trimestre.
Fonte: VALOR ECONÔMICO