Por Lucas Hirata | De São Paulo
As apostas para nova queda da Selic devem ser colocadas à prova nesta sexta pelos números de inflação do começo do mês. As coletas de preços até o momento têm sido benéficas e uma desaceleração mais ampla da inflação poderia estar a caminho, de acordo com alguns profissionais de mercado. Até que o cenário se confirme, entretanto, os investidores preferiram assumir uma postura um pouco mais cautelosa.
O mercado deve operar também nos Juros de prazos mais longos, repercutindo a decisão de ontem do Conselho Monetário Nacional (CMN) de alterar o prazo médio exigido em aplicações de fundos de previdência. A regra anterior gerava distorções no mercado de renda fixa. O coordenador-geral de Operações de Dívida Pública, Leandro Secunho, disse esperar queda na inclinação da curva de Juros.
Nos trechos mais curtos, a quinta-feira foi de elevação nas taxas. O DI de janeiro de 2019 subiu para 6,585%, ante 6,560% do fechamento. Já o DI de janeiro de 2020, contrato mais negociado no dia, avançou a 7,620%, de 7,610%.
Com base nos contratos de Juros da B3, a probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual da Selic em março está em torno de 62%. Mas a Selic projetada para o fim de 2018 subiu 13 pontos-base, para 7,41% ao ano. A Selic está hoje em 6,75%.
O ajuste nos Juros futuros acompanhou também a cautela posta na inflação projetada em contratos derivativos conhecidos como DAP. Até o começo da semana, esses contratos apontavam inflação “implícita” de 0,29% para o mês de fevereiro, mas subiram para cerca de 0,35% na quinta-feira.
Para que o mercado reforce suas apostas em um novo corte da Selic será preciso que os indicadores de preços fiquem ainda mais baixos até a próxima reunião do Copom, em março.
Hoje, é a vez do Índice de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15), que mede a inflação do começo do mês, abrir espaço para ajustes das expectativas. Economistas consultados pelo Valor Data projetam alta de 0,38% para o indicador deste mês, ligeiramente abaixo da taxa registrada em janeiro. Caso se confirme, a inflação acumulada em 12 meses pelo IPCA-15 deve desacelerar de 3,02% para 2,86% na passagem mensal.
Mais do que o próprio resultado geral do IPCA-15, o que tende a definir o espaço para o corte da Selic é o comportamento de itens mais sensíveis à política monetária, como os preços no setor de serviços. “Uma nova surpresa nos núcleos de inflação é mais um passo para a queda da Selic e, se dependesse só dos preços, daria até para ir além da taxa de 6,50%”, afirma o executivo de uma gestora carioca. “Mas o ponto mais relevante não é o ponto final, mas quanto tempo ainda ficará baixa”, acrescenta.
Na avaliação do estrategista-chefe do banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, seria necessário um conjunto de fatores para garantir a Selic mais baixa, incluindo a pressão externa. Este cenário exigiria nova apreciação do Câmbio, com dólar mais próximo de R$ 3,15, além das surpresas positivas com a inflação.
“Caso contrário, o trabalho do BC em cortar os Juros já foi feito, a economia está dando sinais de recuperação e a inflação está bem controlada”, diz. E o risco de uma flexibilização adicional seria uma normalização mais dura no futuro. “Ao evitar o excesso de estímulo agora, o BC abre espaço para a Selic ficar baixa por mais tempo e diminui a necessidade de altas mais pronunciadas”, afirma Rostagno.
A alta dos DIs de curto prazo contrastou com a queda de 0,43% do dólar, para R$ 3,2470. A sessão foi positiva também para o mercado de ações. O Ibovespa subiu 0,74%, aos 86.686 pontos, novo recorde. (Colaboraram José de Castro, Lucinda Pinto e Juliana Machado)
Fonte: Valor Econômico