A pouco mais de uma semana da reunião do Copom, a expectativa de um novo corte da Selic, já contemplada pelo mercado de Juros, ganha espaço também nos cenários traçados pelos economistas. Pelo menos três bancos – Itaú, Mizuho e Fator – alteraram suas projeções para o rumo do juro e contam com um corte de 0,25 ponto no próximo encontro. Um deles, o Fator, vê o ciclo prosseguir depois disso, até chegar a 6% na reunião de junho.
Ao longo da semana passada, os contratos de Juros futuros passaram a trabalhar com uma probabilidade de pouco mais de 80% de a Selic voltar a cair em março, para 6,75%. Até a semana anterior, as chances embutidas pelos contratos de haver uma nova queda da taxa era próxima a 60%.
O que levou investidores a reforçar as fichas na extensão do ciclo foi um conjunto de indicadores de inflação e atividade mais baixos do que o esperado. E, principalmente, a declaração do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, de que a inflação, de fato, está surpreendendo.
Essa afirmação foi entendida pelo mercado como um sinal de que o BC poderia abrir mão de seu cenário base – o encerramento do ciclo de alívio monetário – para dar um estímulo adicional à economia.
Mas foi o IPCA de fevereiro, divulgado na sexta-feira, que respaldou esse movimento e levou analistas também a ajustarem seus cenários. A mudança mais radical foi feita pelo Fator, que revisou suas projeções para a Selic nos próximos meses e já vê a Taxa Básica de Juros em 6% no fim de junho. Nas contas de José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco, serão três cortes consecutivos de 0,25 ponto percentual nas reuniões de março, maio e junho. O patamar de 6% será mantido até o fim de 2018, estima o economista.
“Esperamos queda da Selic para 6,50% na próxima reunião do Copom e que não se exclua queda adicional. E que se mantenha a ressalva de que pode haver interrupção da queda e não fim do ciclo”, afirma Lima Gonçalves, em relatório.
Gonçalves cita um conjunto de fatores que ampara a perspectiva de inflação e Juros menores neste ano. As expectativas para o IPCA, segundo ele, estão “ancoradas” abaixo do centro da meta para 2018 (4,5%) e em “leve queda” para 2019. A indexação segue “cadente” pelo comportamento dos diferentes índices de preços. E há “baixa” probabilidade de choque cambial “relevante”, leitura que se estende aos preços dos alimentos.
O banco Itaú, que passou a trabalhar com o fim do ciclo com a Selic a 6,75% após o comunicado da última reunião do Copom, voltou a trabalhar com uma queda adicional, de 0,25 ponto, em março. De acordo com relatório assinado pelo economista-chefe, Mario Mesquita, os dados de inflação divulgados desde a última decisão de Juros parecem compor “surpresa significativa o suficiente para levar o Copom a desviar de seu plano de voo e adicionar um estímulo final na próxima reunião”.
Na leitura do Itaú, os dados mais fracos de inflação e atividade econômica justificam o corte neste mês. Mas, diz Mesquita, “não esperamos que a taxa de Juros da política monetária caia além de 6,5%, dado que o Copom deve continuar enxergando convergência em direção à meta em 2019 (que gradualmente se converte no horizonte relevante de política monetária)”.
Também pesam nessa direção, segundo o banco, o quadro de recuperação da atividade econômica, os efeitos defasados da política monetária – que ainda devem continuar a trazer impulso adicional para a economia – e o balanço de riscos no cenário internacional, que se tornou menos favorável recentemente devido à perspectiva de mais altas de Juros nos EUA e incertezas eleitorais na Europa. O Itaú manteve a projeção para inflação deste ano em 3,5% e, para 2019, em 4,0%.
O banco Mizuho do Brasil também revisou sua projeção para um novo corte de 0,25 ponto da Selic depois da divulgação do IPCA de fevereiro, na sexta-feira. Uma queda adicional da taxa não é descartada, mas isso dependeria de surpresas no campo inflacionário. O IPCA subiu 0,32%, em linha com o esperado. Mas a média dos núcleos, no acumulado de 12 meses, caiu de 3,36% para 3,30%, enquanto o setor de serviços, em trajetória semelhante, foi de 4,31% para 4,20%, nos cálculos do banco.
Esse ambiente de inflação baixa e Juros em queda é um dos elementos que devem contribuir para a valorização da bolsa ao longo das próximas semanas, na visão dos analistas. Não à toa, ações de empresas dos segmentos financeiro e de consumo – dois setores beneficiados por um ambiente de Juros menores – mostraram recuperação na sexta-feira, após a divulgação do IPCA. Naquela sessão, o Ibovespa teve alta de 1,63%, 86.371 pontos. O Índice de Consumo (Icon), que reúne papéis de varejo e ligadas ao consumo local, terminou o dia em alta de 1,6%, enquanto o Índice Financeiro (IFNC) teve ganho de 1,4%. (Colaborou Thais Carrança)
Fonte: VALOR ECONÔMICO