Servidores do BC aprovam greve e Planalto teme impacto no Pix Funcionários pedem reajuste salarial e reestruturação de carreira

    Brasília

    Por reajuste salarial e reestruturação de carreira, os servidores do Banco Central vão entrar em greve por tempo indeterminado a partir de 1º de abril.

    A decisão foi aprovada em assembleia nesta segunda-feira (28), com o apoio de mais de 90% dos 1.300 servidores da ativa que participaram da deliberação, segundo o Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal). A autoridade monetária ainda não se pronunciou sobre o assunto.

    A aprovação da greve acendeu um alerta no Palácio do Planalto. Fontes ouvidas pela Folha relatam temor de que a paralisação comprometa a atividade do BC —sobretudo as operações de câmbio e o Pix, meio de pagamento instantâneo considerado um trunfo pelo governo pela alta adesão dos usuários.

    Em janeiro, servidores do BC protestaram em frente à sede do Banco Central, em Brasília – Pedro Ladeira – 18.jan.2022/Folhapress

    A ala política do governo também monitora eventuais desdobramentos da greve dos servidores do BC. Outras categorias, como auditores do Tesouro Nacional e analistas de planejamento e orçamento, farão assembleia nesta terça-feira (29) para decidir sobre eventual paralisação.

    Integrantes do STF (Supremo Tribunal Federal) já alertaram o time do ministro Paulo Guedes (Economia) para o risco de outras carreiras pedirem na Justiça a equiparação dos aumentos, com chance de sucesso.

    O cenário é considerado delicado, mas a avaliação na ala política é que o governo tem até 3 de julho para conceder algum tipo de aumento para determinada categoria, ou um reajuste linear que fique abaixo da inflação.

    O prazo mais restritivo de 2 de abril se aplicaria apenas à adoção de um reajuste que recomponha toda a defasagem desde o último aumento. Por isso, ainda não há uma decisão final sobre como a questão será encaminhada.

    Sem uma proposta oficial do governo, os funcionários do BC votaram a favor do recrudescimento da mobilização. Os servidores já vinham realizando paralisações diárias das 14h às 18h desde o dia 17 de março e atuando em operação-padrão.

    O Sistema de Valores a Receber é um dos serviços que podem ser afetados com a greve dos servidores. Nesta segunda, o BC deu início a uma nova repescagem de pagamento do dinheiro esquecido nos bancos para todos os públicos. O cronograma, que vai até 16 de abril, vale para todas as pessoas e empresas que ainda não fizeram a retirada nesta primeira etapa de saques.

    Além da greve, os servidores também organizam a entrega conjunta de cerca de 600 cargos comissionados até quarta-feira (30), de acordo com o presidente do Sinal, Fabio Faiad.

    Mais cedo, o BC comunicou que as notas econômico-financeiras relativas ao mês de fevereiro não serão divulgadas ao longo desta semana, como previsto.

    As estatísticas do setor externo, que incluem os investimentos diretos de estrangeiros no Brasil, por exemplo, seriam publicadas nesta segunda, às 9h30. Já as estatísticas monetárias e de crédito estavam previstas para quarta-feira (30) e as fiscais, para quinta (31), ambas no mesmo horário.

    “Oportunamente, informaremos as datas de publicação das notas relativas ao mês de fevereiro de 2022”, disse o BC, sem comentar o motivo do adiamento.

    A mobilização dos servidores do BC tem provocado uma série de atrasos na rotina da autoridade monetária, especialmente na divulgação de indicadores.

    A publicação da pesquisa Focus, com as previsões dos economistas sobre inflação, PIB e outros dados, foi impactada pela segunda semana consecutiva. Os dados, anunciados às segundas, por volta de 8h25, só foram ao ar às 10h.

    Além disso, nas últimas semanas, houve atraso na publicação dos dados do fluxo cambial, do resultado do questionário pré-Copom e da apuração da taxa ptax (taxa de câmbio) diária, além de interrupções no monitoramento preventivo do Pix e do SPB (Sistema de Pagamentos Brasileiro).

    No último sábado (26), membros das entidades representativas dos servidores do BC se reuniram com o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, sem avanço nas pautas reivindicadas.

    A categoria quer um reajuste salarial de 26,3%. No BC, analistas recebem um salário bruto que vai de cerca de R$ 19 mil a R$ 27 mil, enquanto a remuneração de técnicos varia em torno de R$ 7,5 mil a R$ 12,5 mil. Entre os pedidos prioritários relativos à pauta não salarial, os funcionários pedem a mudança da nomenclatura de analista para auditor, por exemplo.

    Participaram do encontro membros do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal), da Associação Nacional dos Analistas do Banco Central (ANBCB) e do Sindicato Nacional dos Técnicos do Banco Central (SinTBacen).

    Em coletiva na última semana, após a divulgação do relatório trimestral de inflação, o presidente do BC disse respeitar o direito dos funcionários de exercer qualquer tipo de manifestação.

    “Entendo que eles têm um enorme senso de responsabilidade com a qualidade e as entregas de serviços para a sociedade e que nós temos esquemas de contingência caso algo mais severo aconteça”, afirmou.

    O movimento dos servidores do BC faz parte da mobilização nacional do funcionalismo público por recomposição salarial depois que Bolsonaro acenou conceder aumento para policiais federais, rodoviários federais e agentes penitenciários. A verba disponível no Orçamento para elevar a remuneração dos servidores é de R$ 1,7 bilhão.

    Em 21 de fevereiro, Bolsonaro fez um novo gesto à Polícia Rodoviária Federal e um apelo a outros setores do funcionalismo público. “Espero a compreensão das demais categorias, dos servidores no Brasil”, disse. Mas o presidente ainda não oficializou qualquer reajuste. Antes disso, havia sinalizado que o aumento para policiais poderia ficar para 2023.

    O primeiro ato dos servidores do BC ocorreu em 18 de janeiro, quando 50% dos funcionários cruzaram os braços durante duas horas. Na ocasião, cerca de 200 pessoas fizeram um protesto em frente à sede do órgão, em Brasília, enquanto outros participaram de forma remota.

    Fonte: Folha de S. Paulo

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