
Em nota, Sinal RS rebate matéria do Valor Econômico
Diante da matéria do Valor Econômico de 17 de setembro de 2025, intitulada “Independência do BC reduz desigualdade, segundo estudo” (link ao final), o Conselho Regional do Sinal RS, em parceria com o Sinal DF, enviou nota ao jornal, expondo fragilidades metodológicas presentes no referido estudo e alertando a respeito dos potenciais riscos ensejados por um Banco Central totalmente independente do Poder Executivo.
A reportagem inicial publicada no Valor Econômico desconsidera estudos importantes, como o do Banco Mundial, de 2021 (link ao final), o qual indica que a independência de bancos centrais pode, em diversos contextos, aumentar as disparidades socioeconômicas.
A nota do Sinal RS e do Sinal DF, todavia, foi publicada apenas parcialmente na seção Carta de Leitores da edição do Valor Econômico do dia 19 (link ao final), tirando nossas conclusões do contexto, ao suprimir justamente as explicações provenientes de análises realizadas por colegas economistas, professores universitários e doutores em Ciências Econômicas.
O estudo objeto da matéria publicada no Valor, ao tempo em que apresenta conclusões otimistas, contém falhas importantes em sua metodologia. A principal delas é a causalidade reversa, uma questão que não foi devidamente aprofundada: é possível que não seja a independência do Banco Central que cause a redução da desigualdade, mas sim o contrário, que países com menor desigualdade já estabelecida tendem a adotar esse modelo. Outro ponto fraco do estudo é a excessiva agregação de dados de países em diferentes estágios de desenvolvimento. Essa abordagem genérica deixa de lado as particularidades de cada nação, especialmente as do Brasil. Em nosso contexto, fatores como a estrutura tributária regressiva, um mercado de trabalho precário e a baixa inclusão financeira podem anular qualquer benefício de uma eventual independência do Banco Central.
Outro ponto crítico do estudo está em ignorar a heterogeneidade institucional: países de alta renda, com sistemas financeiros maduros e instituições sólidas, a exemplo dos membros da OCDE, podem ver uma redução da desigualdade com a independência do Banco Central, mas o efeito tende a ser o oposto em economias emergentes e periféricas como a brasileira. O próprio Banco Mundial já demostrou que a independência dos Bancos Centrais somente está associada à diminuição da desigualdade em nações que possuem sistemas financeiros e instituições sólidas — uma realidade bem diferente da brasileira.
A independência do Banco Central, além de não constituir uma solução mágica, e pode gerar problemas graves. Para muitos economistas, o BC, ao priorizar o controle da inflação com juros altos e contenção de gastos públicos, restringe excessivamente a capacidade do Estado de agir. Para esses especialistas, o modelo limita por demais a flexibilidade da política fiscal, dificultando a implementação de programas sociais, investimentos em infraestrutura e em políticas industriais. Ademais, juros excessivos aumentam a pressão sobre a dívida pública e reduzem o espaço para ações que buscam redistribuir a riqueza.
A desregulamentação financeira, muitas vezes ligada à independência dos Bancos Centrais, não só aumenta a concentração de renda e de riqueza, como também enfraquece o sistema financeiro, tornando-o vulnerável a atividades ilícitas, como lavagem de dinheiro. Nas últimas quatro décadas, países que adotaram esse modelo de independência do Banco Central, como Estados Unidos e Reino Unido, viram a renda do 1% mais rico crescer de forma exponencial, ao passo que os salários médios ficaram estagnados. Não seria um perigoso risco trazer esse modelo para o Brasil, um país já desigual ao extremo?
Ante o exposto, a PEC 65/2023 desperta justa preocupação ao desconsiderar alertas robustos como esses e por não estabelecer as salvaguardas necessárias para mitigar seus possíveis efeitos negativos para a sociedade. Reiteramos, portanto, nosso desejo e nosso compromisso com um debate qualificado e democrático, que respeite a complexidade do tema e os reais desafios socioeconômicos do Brasil.
Seguem os links das referidas matérias e estudos:
https://c.valuescomunicacao.com.br/bancocentral/site/m020/noticia.asp?cd_noticia=215227527
Porto Alegre, 22 de setembro de 2025.
CONSELHO REGIONAL
SINAL – Seção Regional de Porto Alegre