Edição 40 - 15/08/2011

BOCA PAULISTA ELETRÔNICO nº 40, de 15.8.11: Política sindical em tempos de recessão

 

BOCA PAULISTA ELETRÔNICO

São Paulo, 15 de agosto de 2011 – nº  40

POLÍTICA SINDICAL EM TEMPOS DE RECESSÃO

“Aqueles que exigem cortes são como médicos medievais que tratam os pacientes com sangramento, tornando-os ainda mais doentes.” P.Krugman, 31.7.2011

Estamos em plena campanha salarial e este é o melhor motivo para exigir coerência. O governo anterior teve a sabedoria de, ante a crise externa, fortalecer o mercado interno. É esta a coerência esperada. Enfraquecer a economia agora vai prejudicá-la a longo prazo, o que por sua vez vai reduzir a arrecadação futura: pública (tributos) e privada (receitas).

O recado do FED (BC americano) não poderia ser mais claro. A crise ao que parece será longa, com um horizonte de depressão contínua para a economia mundial. Esse cenário ratifica e fortalece a aposta no mercado interno como única e benéfica alternativa. Seria muita incoerência do governo nesse cenário cortar os seus gastos, já que isso deprimirá ainda mais a economia. Ademais, no contexto de uma crise global provocada essencialmente pelo setor financeiro, também respeita a coerência que se busque o fortalecimento da regulação bancária, o aprimoramento de seus controles, o treinamento e a valorização de seu corpo técnico.

O texto no contexto

Constantemente recebemos informações de que o mundo (globalizado) está em crise. O Brasil também estaria nessa situação? Não sabemos, mas achamos que não (ainda). O que vem acontecendo lá fora é importante para a nossa análise.

O que tem isso a ver com a campanha salarial? Como dizia o lendário sultão Salah ad-Din (mais conhecido como Saladino), reconquistador de Jerusalém (para os muçulmanos), em 1187: TUDO e ao mesmo tempo NADA.

Por que NADA? Porque crise econômica na Europa e nos EUA (já que o Japão está estagnado há quase 20 anos) não tem nada a ver com o Brasil. Ou, ao menos, não deveria ter. Ou melhor, se o mundo não fosse tão globalizado não significaria nada. Se tivéssemos um mercado próprio, independente (ou quase) desses poderes centrais, passaríamos ao largo. Durante o governo passado, a diplomacia brasileira buscou essa desvinculação e foi duramente criticada por “Ricardianos” de plantão, a serviço do capital financeiro.

Por que TUDO? Porque qualquer “espirro” de um setor produtivo lá fora gera boatos de quebradeira geral. Com isso, “o Brasil tem que se preparar para o pior, cortar gastos e apertar o cinto”. Mas será exatamente o TUDO contra o NADA?

Em tempos globalizados, todas as economias estão interligadas e os mais cautelosos dão razão ao “contágio” internacional. Estarão certos? Provavelmente, sim, mas, na ótica da cautela. Em tempos globalizados, também a mídia é rápida e, com ela, os boatos que se espalham para favorecer (ou desfavorecer) certas políticas, com o mote de que “devemos estar preparados para a crise”. Ou seja, como bons capitalistas, alguns devem tirar vantagem da arbitragem da informação. Em outras palavras: utiliza-se a conjuntura da crise externa para ajustar os salários internos (apertar o cinto).

O Brasil e a crise

Vamos, então, analisar a economia atual e avaliar onde os representantes dos servidores públicos podem atuar.

Com os países desenvolvidos em crise (EUA e a União Europeia), há o risco real de os mercados entrarem em recessão. Com esses mercados em recessão, o Brasil venderá menos. A China também venderá menos para esses mercados e, com isso, o Brasil venderá menos para a China. A arrecadação diminui, os empréstimos ficam mais difíceis (já encontramos um paradoxo em tempos de Quantitative Easing), o governo fica mais vulnerável, as contas externas se deterioram. E isso é só o começo.

Motivo para ficarmos “antenados”? Com certeza. Mas é bom notar que há mais aproveitadores da situação do que argumentos técnicos. Há mais interesse na “arbitragem” (tradução: ganhos com os desequilíbrios) do que estudiosos interessados em suplantar a crise, ou, quem sabe, até ganhar com ela.

Na crise de 2008, o governo brasileiro tinha tudo para tomar as mesmas medidas recessivas. Afinal, as boas, velhas e anacrônicas leis da economia (liberais, neoliberais, ou monetaristas?) dizem que quando as coisas vão mal, o melhor a fazer é se recolher (e encolher) e ficar bem quietinho até elas passarem. Keynes, já em 1936, dizia diferente. Introduziu aquilo que hoje chamamos de “políticas anticíclicas”. Na crise de 2008, Lula teve peito e coragem para sugerir uma política anticíclica. Estimulou o mercado interno, exorcizou toda e qualquer recessão, estimulou os salários e o consumo.

Efetivamente: o vitorioso governo anterior valorizou o mercado interno. Tornou-se paradigma da política anticíclica e de sucesso (quem não se lembra da “marolinha”?). Hoje, em nova e mais potente crise (antes que passe batido: crise diferente; crise dos países desenvolvidos), respeitados economistas, pensadores e estudiosos dizem que países que possuem um forte mercado interno (forte no sentido de potencial de crescimento) têm mais chance de sair da crise. Assim, seria lógico esperarmos do governo brasileiro um comportamento semelhante ao adotado quando da crise de 2008.

Mas a política econômica que fez com que o Brasil suplantasse com sucesso a crise da década passada despertou os alvissareiros do mercado. Inconformados com a “distribuição de renda” (verdadeiro vetor anticrise), esses já enviam recados de que “a inflação e o descontrole fiscal são sérios fatores que poderão desviar o Brasil do seu rumo e mergulhá-lo na crise”.

Concluindo

Como se vê, políticas anticíclicas estimulam o mercado interno e melhoram a renda dos trabalhadores. Funcionou na crise passada. Já se sabe que, para o Brasil, deverá funcionar nesta, pois o nosso mercado interno consegue resistir até às injustas e pesadas taxas de juros. É um momento fabuloso para o Brasil.

Assim, nestes tempos de recessão mundial, a existência de um mercado interno em crescimento, como é o caso do Brasil, deve ser a razão para os sindicatos de servidores públicos buscarem apoio e incentivo às políticas anticíclicas.

No atual contexto, há espaço para se conseguir algo do governo com tal argumento? Entendemos que sim, pois o fortalecimento do mercado interno passa também pela concessão de reajustes salariais, o que beneficia não apenas os servidores públicos (e trabalhadores), mas toda a economia do país.

Conselho Regional do Sinal-SP

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