Amigos, muitas têm sido as críticas ao atual governo enfocando os inúmeros escândalos de toda ordem, os conluios entre políticos envolvendo até mesmo parte da chamada oposição, os programas demagógicos, assistencialistas, o inchaço brutal da máquina governamental a consumir uma arrecadação que tende a crescer pela idéia fixa na criação de novos impostos cujos objetivos jamais são aqueles declarados oficialmente, a corrupção desenfreada, desavergonhada e incontrolável, embora esta não tenha “nascido” hoje neste país, entre outras coisas. Todas essas críticas, na minha visão, são justas, e eu mesmo as tenho feito. Isso me leva, porém, ao que costumo ver nesta internet escrito por pessoas que sequer assumem a autoria do que divulgam ou mesmo, e pior ainda, que copiam textos, enxertam com palavras suas, aumentam o tamanho das letras, fazem-no com cores variadas, e ainda nos “ordenam”: “REPASSEM”… “ISTO PRECISA CHEGAR AO CONHECIMENTO DE TODOS”… entre outras palavras de ordem. O nome do autor, colocado ao final do texto que acaba por ficar meio carnavalesco, nem sempre é confiável. Já descobri diversas falsificações. Mas há sempre quem repasse aquilo julgando estar a fazer uma crítica correta, ou a colaborar com uma. Da minha parte, geralmente desconfio das intenções de quem se esconde no anonimato ou se vale de falsa autoria para divulgar suas idéias, ou suas críticas. E bem sabemos que neste espaço virtual habita gente dessa laia. Infelizmente há também os incautos ou “desavisados” que acabam repassando mesmo sem conhecer a origem ou a autoria do que quer que seja. Poderiam ser mais cautelosos. O pior é que quando fazemos ver isso a alguns, com a melhor das intenções, nem sempre vemos nossa atitude ser bem acolhida. Por outro lado, há os que nos agradecem e até procuram se redimir pedindo desculpas aos seus amigos. Mas vamos agora ao que me levou a escolher o título acima para esta crônica. Outro dia chegou-me certa mensagem que trazia um anexo. Neste estavam o que chamaríamos de “fichas corridas” de diversas pessoas, entre elas o atual Presidente da República, Lula, e membros do seu governo. Mas não apenas eles, havia lá figuras que não conheço e até uma artista antiga, ainda em atividade, pela qual tenho o maior respeito e é merecedora dos nossos melhores aplausos. Naquele autêntico “fichário” constava, no alto da folha de cada um, a palavra “Terrorista”. Pelos dizeres que li em todas elas havia uma espécie de histórico de cada um durante o regime militar. Claro que tendo fotos atuais de cada personagem tudo não passava de uma montagem, mas os dizeres, estes sim, podem ter sido copiados dos antigos arquivos da ditadura. A palavra “terrorista” é perfeitamente explicável, pois os que se empenharam, cada um à sua maneira, buscando ter de volta a liberdade, contra o então regime de exceção onde prevalecia uma forte censura a todos os meios de comunicação, onde a liberdade de expressão fora cassada, onde o Congresso fora fechado por um simples Ato Administrativo, onde muitos dos que foram pegos pelejando contra o regime vigente, ou apanhados por informações dos chamados “dedos duros”, chegaram a ser presos, outros torturados, outros mortos (lembram do jornalista Wladimir Herzog?), etc, estes eram naturalmente considerados “terroristas”. Porém, na mensagem que me chegou, o autor do encaminhamento (não a pessoa que me enviou) quis dar a entender que todos ali eram, além de “terroristas”, comunistas. Que alguns fossem comunas, não discuto, mas generalizar é ser mal intencionado e isso me preocupa e me assusta a esta altura da vida. Aliás, me lembra o execrável slogan do regime… “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Pelas palavras usadas, o autor me levou a crer não admitir que muitos brasileiros pudessem não apoiar o regime imposto à força, que tirou do poder um governo legitimamente constituído, e que de alguma forma tentassem manifestar seu desagrado, sua repulsa, sem serem comunistas, mas brasileiros e patriotas, sim senhor. Será que ele o é? Onde esteve durante os anos 60 e 70? Já teria nascido? Confesso, tomara esteja errado, que o autor mais pareceu ter oculta uma segunda intenção, a de justificar aqueles anos de um regime de severa ditadura que só nos oferecia duas opções: ser a favor ou contra ele. Ser contra, era ser comunista, pensar diferente, era ser comunista, imaginem enfrentar o regime?! Se ele pretendeu fazer campanha contra o atual governo, seus desmandos e escândalos, eu lhe mando um recado: prezado, isso não é fazer uma campanha séria, ética, dignificante, contra tudo que nós também condenamos e que nos tem levado a uma oposição severa, porém, tendo consciência da responsabilidade do que dizemos, do que criticamos, do que denunciamos, sem embaralhar situações completamente diferentes em regimes totalmente opostos. Não é por aí. Lembro ao autor que se hoje ele não tivesse liberdade de expressão, se não estivéssemos numa democracia, jovem, capenga, mas verdadeira, ele jamais teria montado aquele imbróglio e muito menos o teria divulgado e se jactado de defensor de um regime democrático que ele parece confundir com autocracia. Me permito ver no seu gesto e nas palavras contundentes usadas no encaminhamento um certo tom de saudosismo do regime de exceção. Mal disfarçado, é verdade. Hoje fico por aqui, todavia prometo voltar ao assunto breve para mostrar que não apenas “comunistas” foram perseguidos por aquele regime. Para encerrar lembro apenas o nome de Carlos Lacerda, político reconhecidamente de direita, que apoiou o Golpe e logo depois teve que fugir do país, pois queriam prendê-lo, mesmo ocupando o cargo legítimo de Governador da Guanabara. Eu vi os tanques de guerra, em certa madrugada, passando pela Rua do Catete e dirigindo-se ao Palácio das Laranjeiras, sede do Governo Estadual. Mas Lacerda já fugira. Até a próxima conversa, amigos.
Inicial SAUDADES DA DITADURA?!