Por Eduardo Campos | De Belém
O melhor período da inflação deste ano já ficou para atrás e o Banco Central (BC), apesar da atividade econômica fraca, considera que os benefícios para o país decorrentes da atuação da autoridade monetária têm sido maiores do que os custos derivados da alta da taxa de juros.
A dupla avaliação é do diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton, e foi apresentada ontem, em Belém, no Pará, durante divulgação do boletim regional da instituição. A inflação de 0,03% medida em julho pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE, segundo Hamilton, deve ser a menor taxa mensal do ano.
“A inflação de julho foi de fato baixa, bastante baixa, mas é um ponto fora da curva. Inflação próxima de zero é exceção, não regra”, disse Hamilton durante entrevista, completando que em agosto e nos próximos meses as taxas mensais serão mais elevadas. “Nossa visão é que as taxas mensais serão maiores a partir de agora, mas, apesar dessa expectativa, acreditamos que a inflação em 12 meses tende a recuar neste semestre.”
Para o diretor do BC, os benefícios trazidos pela ação da autoridade monetária – na forma de melhora da confiança dos agentes, redução nos prêmios de risco, aumento nos horizonte de financiamento e redução de perdas salariais por perda da inflação – suplantam o custo do aumento das taxas de juros decorrentes do aumento da Selic.
A avaliação foi feita ao responder a pergunta sobre como o BC pretende elevar a confiança de famílias e empresas, se a alta de juros reduz a inflação ao deprimir o ritmo de atividade, aumento o desemprego e gerando redução de demanda. Segundo Hamilton, o BC tenta melhorar a confiança de um modo geral, tanto de empresas quanto de consumidores. “Conforme você aciona a política monetária, você sinaliza aos agentes uma redução do risco inflacionário e isso aumenta a confiança”, disse.
De acordo com o diretor do BC, é “ilusão” falar que não há repasse dos movimentos da taxa de câmbio para a inflação. O repasse “é fato”, mas segundo o diretor a condução adequada da política monetária mitiga o risco inflacionário decorrente do movimento de depreciação do câmbio.
Além de irregular, o crescimento econômico de cada região do país tem sido desigual, de acordo com análise feita no boletim regional do BC, divulgado ontem e com dados ainda relativos a maio. A autoridade monetária informou que a agropecuária tem contribuído para o bom desempenho do Sul, enquanto o Norte, por exemplo, registrou queda de atividade por conta da indústria extrativa.
A região Sul, por sinal, foi a única a registrar aceleração do crescimento entre o trimestre encerrado em maio e aquele terminado em fevereiro. A alta foi de 6,5% no trimestre encerrado em maio, bem acima da expansão de 1,4% registrada em fevereiro.
Para o BC, apesar dos percalços econômicos, o emprego deve continuar a puxar o consumo. “O mercado de trabalho, não obstante o ritmo mais moderado, segue em expansão e representa um suporte para o consumo.”
No Norte, segundo o BC, a atividade arrefeceu no trimestre encerrado em maio, em parte devido ao desempenho negativo da indústria extrativa. O Índice de Atividade Econômica Regional da região (IBCR-N) recuou 0,6% em relação ao trimestre finalizado em fevereiro, quando registrou estabilidade, considerados dados dessazonalizados.
No Nordeste, o ritmo de crescimento também diminuiu -avanço de 0,5% no trimestre terminado em maio, ante alta de 2% no período encerrado em fevereiro. A produção industrial da região recuou 0,3%, com destaque para a queda da atividade têxtil, 8,2%, e de máquinas, aparelhos e materiais elétricos, 3,1%. Houve crescimento em vestuário e acessórios, 9,1%, e calçados e artigos de couro, 5,4%.
No Centro-Oeste, houve o mesmo movimento, com a expansão regional cedendo para 0,5% em maio, após alta de 1,3% em fevereiro. A atividade econômica do Sudeste, refletindo a acomodação das vendas do comércio ampliado e da produção industrial, também arrefeceu no trimestre finalizado em maio, com queda de 0,3%, após alta de 1,4% em fevereiro.
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