‘Não podemos repetir o erro de 2011’, diz economista

    JOSETTE GOULART – O Estado de S.Paulo

    A doutora em economia e professora Laura Barbosa de Carvalho, da Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP), é voz divergente entre economistas e analistas e defende que o País vive momento de inflação pelo custo e não pela demanda. Se estiver certa, um corte de gastos para manter a meta de superávit primário retardaria a retomada da economia sem aliviar os efeitos da inflação.

    Por que a sra. acha que vivemos uma inflação de custo?

    O câmbio está pressionando os preços, o crescimento está lento, a capacidade instalada da indústria está ociosa e o emprego mostra desaceleração. O fato da inflação ser de custo não está ligado só a este momento. O Brasil tem economia indexada. Na medida em que temos inflação em um ano, gerada por choque de demanda ou custos, os trabalhadores têm os salários reajustados e a empresa repassa os custos aos preços. Para parar esse processo, o governo sobe juros. Mas, nesse momento, os juros funcionam mais para atrair capital externo e apreciar o câmbio, reduzindo o custo de importados, do que para controlar crédito e demanda. Desde o início do regime de metas, os anos em que se conseguiu cumprir a meta coincidem com os anos em que o câmbio se valorizou, com exceção de 2008. Está correta a preocupação do Banco Central em evitar desvalorizações rápidas que podem trazer impacto inflacionário. Mas há outros instrumentos de política cambial que, ao contrário do juro, não têm impacto negativo na demanda.

    Há uma retração da demanda?

    Sem dúvida. E é por isso que o governo precisa manter investimentos. Não podemos adotar política contracionista para fazer valer a meta do superávit primário, sob o risco de comprometer o crescimento. Não podemos repetir o erro de 2011. Em 2010, tivemos crescimento elevado, com consumo acelerado e a inflação começou a subir. Desvalorizou-se o câmbio, o que aumentou ainda mais a inflação. Para fazer a desvalorização reduziu-se os juros para atrair capital e cortou-se gastos para conter a demanda. O que aconteceu em 2012? Matou o crescimento e a inflação continuou alta. É preciso que se adote a desindexação para acabar com a espiral. É necessário, mas impopular.

    Por que o mercado entende que a inflação é por demanda?

    Os analistas pedem corte de gastos por dois motivos. O primeiro é o endividamento público. Mas temos uma dívida sustentável e baixa em relação ao resto do mundo, não há motivos para preocupação. O segundo é a inflação. Quanto mais gastos, há mais pressão de demanda inflacionária. Mas se a inflação for de custos, não adianta cortar demanda. Os gastos que aumentaram foram investimentos públicos, transferência de renda, educação e saúde. Se reduzir o investimento contrai a demanda e tem efeito no custo de infraestrutura. E estes são os pontos que mais influenciam decisões de investimentos privados. A lógica do mercado financeiro é pedir juro mais alto pois beneficia este setor. Pedir também austeridade fiscal entrou na moda com a crise europeia.

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