ANA CAROLINA DINARDO – Correio Braziliense
Comprar a prazo ou tomar empréstimos em bancos está cada vez mais caro. Pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostra que, em agosto, pela quarta vez seguida, os juros ao consumidor subiram. A taxa média no período atingiu 5,51% ao mês (90,34% ao ano), o maior nível desde novembro de 2012. A alta foi puxada, sobretudo, pelo cheque especial, cujos encargos chegaram a 7,81% ao mês. Das seis linhas de crédito analisadas no estudo, apenas a do cartão de crédito se manteve estável, em 9,37%.
Os juros do comércio, por sua vez, tiveram uma leve alta: passaram de 4,10% em julho para 4,11% no mês passado. Os do financiamento de veículos subiram de 1,58% para 1,61% na mesma base de comparação. Já a taxa dos empréstimos pessoais em banco variaram de 3,08% para 3,10% no oitavo mês do ano, e a dos feitos em financeiras, de 6,99% para 7,03% (veja quadro).
Para o coordenador de Estudos Econômicos da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira, a tendência de aumento dos juros nos últimos meses deve continuar. “Tendo em vista os atuais indicadores mostrando pressões inflacionárias, o Banco Central possivelmente vai optar por uma nova elevação da taxa básica (Selic)”, analisou.
Taxas abusivas
Os altos encargos têm pesado no orçamento familiar. A autônoma Francisca Laurinda, 51 anos, desistiu de pegar um empréstimo pessoal de R$ 1 mil. Ela queria usar os recursos para quitar uma parcela do carro no valor de R$ 995 que estava atrasada, mas pensou duas vezes ao comparar os juros das duas linhas de crédito. De acordo com Francisca, pelas contas do banco, para quitar o valor, ela teria de desembolsar R$ 2,7 mil, quase o triplo do solicitado. “Decidi apertar as contas em casa e pagar a multa de R$ 119 da fatura”, explicou a autônoma.
A estudante Lorena Araújo, 19, também resolveu dar um basta nas taxas abusivas. Depois de acumular uma dívida de R$ 700 por causa da cobrança de juros sobre juros, ela resolveu cancelar o cartão de crédito e agora só usa a modalidade de débito. Lorena conta que, às vezes, pensa em adquirir outro cartão, mas que, quando pensa nos juros, desiste. “Não posso repetir os mesmos erros. Tenho que aprender a lidar com isso primeiro”, comentou.
» Satisfação desacelera
A desaceleração da economia ameaça o bem-estar do brasileiro. Segundo um estudo do Itaú Unibanco, com a piora da atividade nos últimos dois anos, a sensação de contentamento da população cresceu a um ritmo menor em 2012 na comparação com 2011. A instituição avalia que o país passou a gerar menos empregos, diminuiu a velocidade de expansão da renda e não obteve avanços significativos em educação, saúde e segurança. “Essa desaceleração do bem-estar levou às manifestações deste ano. O Brasil chamou a atenção para o fato de que não quer parar onde chegou”, observou Caio Megale, economista do Itaú Unibanco.
» Peso no bolso (Em %)
Custos dos financiamentos disparam e devem
inibir empréstimos e financiamentos
Linhas de crédito Ao mês Ao ano
Comércio 4,11 62,15
Cartão de crédito 9,37 192,94
Cheque especial 7,81 146,55
Veículos 1,61 21,13
Empréstimo em bancos 3,10 44,25
Empréstimo em financeiras 7,03 125,98
Fonte: Anefac