Revista britânica, que comparou o País a um foguete na capa de uma edição de novembro de 2009, diz que a presidente Dilma deve mudar de rumo
Fernando Nakagawa
CORRESPONDENTE / LONDRES
De um foguete que já apontava para o alto para uma aeronave desgovernada nos céus. Essa é a comparação feita pela capa da revista britânica The Economist ao tratar da evolução do Brasil nos últimos quatro anos. A edição distribuída na América Latina, que chega às bancas neste fim de semana, tem na capa uma imagem do Cristo Redentor fazendo piruetas no céu doRio de Janeiro com a pergunta: “Has Brazil blown it?”. A questão pode ser traduzida como “O Brasil estragou tudo?” ou “O Brasil se perdeu?”.
A reportagem especial de 14 páginas sobre o Brasil é assinado pela jornalista Helen Joyce, correspondente da revista no País. “Na década de 2000, o Brasil decolou e, mesmo com a crise econômica mundial, o País cresceu 7,5% em 2010. No entanto, tem parado recentemente. Desde 2011, o Brasil conseguiu apenas um crescimento anual de 2%. Seus cidadãos estão descontentes – em julho, foram às ruas para protestar contra o alto custo de vida, serviços públicos deficientes e a corrupção dos políticos”, diz a revista.
“Pode Dilma Rousseff, a presidente do Brasil, reiniciar os motores?”, indaga a publicação. “Será que a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos oferecerão ajuda para a recuperação ou simplesmente trarão mais dívida?”, questiona. O conteúdo da revista ainda não está disponível na íntegra na internet.
Na capa, a Economist fez uma autorreferência a uma capa daprópria publicação que ficou conhecida no Brasil ao mostrar o mesmo Cristo Redentor decolando como um foguete. “O Brasil decola” foi capa da edição de 12 de novembro de 2009, quando a revista rasgava elogios ao País que, naquele momento, crescia rapidamente, apesar da crise financeira global.
Voo de galinha. A reportagem afirma ainda que Dilma Rousseff tem sido relutante ou incapaz de enfrentar problemas estruturais do Brasil e interfere mais que o antecessor na economia, o que tem assustado investidores estrangeiros para longe de projetos de infraestrutura e mina a reputação conquistada a duras penas pela retidão macroeconômica.
Para a revista, a falta de i ação do governo Dilma é a principal razão para o chamado “voo de galinha” do País, em referência ao baixo crescimento econômico. “A economia estagnada, um Estado inchado e protestos em massa significam que Dilma Rousseff deve mudar de rumo”, resume o editorial. O texto reconhece que outros emergentes também desaceleraram após o boom que teve o auge em 2010 para o Brasil. “Mas o Brasil fez muito pouco para reformar seu governo durante os anos de boom.” Um dos problemas apontados é o setor público, que “impõe um fardo particularmente pesado ao setor privado”.
O Ministério da Fazenda disse que não iria comentar o assunto. Para a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, o País “está dentro do contexto internacional, com o mundo em crise” e os principais parceiros comerciais em recuperação, como a Europa. / COLABOROU MARIANA DURÃO
Fonte: O Globo