Teto da dívida e reunião do BCE agitam semana

    Por Roberta Costa | De São Paulo

    A semana reserva uma série de eventos que podem ter relevante impacto sobre o mercado. A volatilidade tende a aumentar depois de certa calmaria pós-Fed.

    Amanhã é o primeiro dos dois “deadlines” da discussão do teto da dívida americana. Em tese, o Congresso deve aprovar um novo orçamento até o dia 1º de outubro ou desencadear uma paralisação parcial do governo. A próxima data crítica será 17 de outubro, quando, segundo o secretário do Tesouro, Jacob Lew, o teto de US$ 16,7 trilhões será atingido e o governo não teria mais como honrar seus compromissos. Sem dúvida, a tensão em torno deste tema deve aumentar ao longo dos próximos dias com potencial de afetar, de fato, os preços dos ativos – ainda que em menor intensidade do que foi em agosto de 2011.

    O presidente Barack Obama tem sustentado o discurso, como em 2011, de não negociar o teto da dívida. O foco de negociação da oposição ao governo é o esvaziamento da reforma na saúde.

    Também nos EUA, um indicador crucial para os desenvolvimentos da política monetária sairá na sexta: o relatório do mercado de trabalho. Do ponto de vista da criação de vagas e taxa de desemprego, as expectativas são de poucas mudanças. Importante lembrar que, apesar da queda da taxa para 7,3% no mês passado, as revisões de meses anteriores e a queda da taxa de participação da força de trabalho transformaram a boa em má notícia. E uma recuperação mais ampla é definitiva para endossar a redução dos estímulos pelo Fed (o banco central americano).

    Na zona do euro, o BCE (Banco Central Europeu) tem reunião de política monetária na quarta-feira. Não são esperadas quaisquer mudanças de política ou anúncios de ações, sendo provável que o presidente Mario Draghi repita que a recente melhora de confiança entre outros dados apoiam a visão de uma recuperação lenta no terceiro trimestre, embora riscos para as perspectivas econômicas permaneçam do lado negativo.

    Após a reação favorável do mercado ao adiamento da redução do programa de compras de ativos do Fed, a valorização do euro pode ser tomada como um risco (para baixo) para a inflação, que deve se manter abaixo da meta de 2% até ao menos o fim do ano que vem, segundo analistas.

    Draghi deve enfatizar a mensagem da “orientação para o futuro” (“forward guidance”), prometendo manter as taxas de juros em níveis baixíssimos por um longo período de tempo. A possibilidade de uma nova rodada de LTRO (operações de refinanciamento de longo prazo), aventada pelo presidente do BCE em discurso no Parlamento Europeu no dia 23, foi bem recebida pelo mercado, mas não deve acontecer tão cedo.

    É, sem dúvida, uma das armas usadas pelo presidente do BCE para manter as taxas longas de juros contidas, especialmente na iminência de um impacto negativo vindo das esperadas ações do Fed.

    Além de Draghi, um dos membros do Conselho Executivo do BCE, Benoît Coeuré, também fez discurso enfático na semana passada. Coeuré disse que a “orientação para o futuro” tem ajudado a ancorar as taxas de curto prazo do mercado interbancário e que o BC “tem espaço para cortar mais os juros, se necessário”.

    Na Ásia, além das divulgações finais dos PMIs (índices de gerentes de compras) da China relativos ao mês de setembro – com grande peso para o mercado -, o Japão deve dominar a cena. Por um lado, o anúncio da decisão do governo de Shinzo Abe em aumentar o imposto sobre as vendas, que deveria acontecer na terça, ainda não foi confirmado. Ao mesmo tempo, a possibilidade de reduzir os impostos corporativos deve ter um desfecho nos próximos dias. O imposto agregado de 40% para as corporações é o segundo maior entre os países da OCDE.

    A perda de receita fiscal é um dos pontos de controvérsia ao plano de Abe, pois poderia comprometer a promessa de reduzir à metade o déficit orçamentário nos próximos dois anos. O anúncio de um novo pacote de incentivos à economia para compensar os efeitos negativos da alta do IVA de 5% para 8%, a partir de abril de 2014, pode também ser anunciado em breve.

    Além das questões fiscais, o banco central do Japão também reúne-se na sexta. Não deve haver anúncio de mudanças nos juros ou no programa de estímulos japonês. A “não decisão” do Fed, apesar de ter fortalecido o iene, valorizou as ações e fez os “yields” (retornos) dos bônus japoneses caírem.

    Semana quente pela frente.

     

    Fonte: Valor Econômico

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