Copom eleva Selic a 11% ao ano em decisão unânime

    O Comitê de política monetária (Copom) elevou a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 11% ao ano, ontem, conforme esperava o mercado. No comunicado, divulgado logo após a reunião, o comitê preservou graus de liberdade para decidir o que fará no próximo encontro marcado para 27 e 28 de maio: O Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, elevar a taxa Selic em 0,25 p.p., para 11,00% a.a., sem viés. O Comitê irá monitorar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária .

    Ao usar a expressão neste momento e dizer que vai monitorar a evolução do cenário , o colegiado não se compromete de antemão com a continuidade e nem com o encerramento, desde já, da trajetória de aperto monetário. O Banco CENTRAL terá cinco semanas para observar o comportamento dos preços dos alimentos – que passam por um novo choque -, assim como os rumos dos preços administrados que estão com os aumentos represados.

    Esse foi o nono aumento consecutivo do juros básico, cujo ciclo de aperto começou em abril de 2013 e acumula uma alta de 3,75 pontos percentuais. A Selic está, agora, mais alta do que os 10,75% ao ano que vigoravam em 1º de janeiro de 2011, quando Dilma Rousseff assumiu a presidência da República.

    Mesmo com todos os aumentos, a elevação do custo do dinheiro ainda não se revelou suficiente para conter as expectativas de inflação que apontam para 6,30% este ano, segundo a pesquisa Focus, ou 6,42% conforme as indicações do Top 5 (as cinco instituições que mais acertam suas projeções).

    No último relatório de inflação, o cenário de referência do Banco CENTRAL é de que o IPCA feche em 6,1%, só inferior aos 6,5% de 2011. Antes de cair para o patamar esperado, a inflação deste ano pode ter um repique durante a Copa do Mundo e superar o teto da meta (de 6,5%) no terceiro trimestre, nas vésperas das eleições de outubro.

    A decisão do Copom foi unânime e o ciclo de aperto monetário em curso já se igualou ao que foi realizado entre setembro de 2004 a maio de 2005, quando também houve um aumento de 3,75 pontos percentuais na taxa básica e a Selic, na ocasião, passou de 16% ao ano para 19,75% ao ano.

    O consenso em torno de uma nova alta na reunião de ontem foi forjado pelo próprio presidente ALEXANDRE TOMBINI, que em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) duas semanas atrás, reconheceu a existência de um choque de alimentos, que embora temporário e com tendência de reversão, exige atuação da política monetária para que seus efeitos se circunscrevam ao curto prazo. Avaliação que foi reiterada pelo relatório de inflação divulgado em março.

    A despeito do longo ciclo e da elevação de 3,75 pontos percentuais nos juros, as expectativas de inflação seguem desancoradas e em alta. Os núcleos mostram resistência e os índices de difusão ainda estão elevados – na média dos últimos três meses eles mostram que 68,4% dos preços livres que compõem o índice estão contaminados pelos aumentos de preços.

    A taxa real de juros (considerando-se o swap 360 dias, descontado pela inflação projetada em 12 meses) mais que dobrou desde abril de 2013, quando teve início o ciclo de aumento da Selic. O juro real médio que era de 2,42% subiu para 5% no mês passado, enterrando um dos objetivos do governo Dilma Rousseff, que era o de encerrar seu mandato com juros reais de 2%. 

    Além dos choques adversos, da inércia inflacionária, da política fiscal expansionista e de um corte muito forte na taxa de juros – que nesta gestão chegou a 12,50% e caiu para 7,25% ao ano – pesou contra a missão do BC de conduzir a inflação para a meta de 4,5%, a excessiva tolerância do governo com uma inflação na casa dos 6% ao ano.

    Ontem mesmo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse em entrevista a um programa de TV que é questão de honra para nós que (a inflação) permaneça baixa . Logo em seguida, porém, ele comentou que mesmo que haja inflação, o importante é que o poder aquisitivo da população esteja crescendo mais do que a média dos preços .

     

    Fonte: Valor Econômico

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