Por Roberta Costa | De São Paulo
Mario Draghi, presidente do Banco CENTRAL Europeu (BCE), defendeu ontem, em evento em Amsterdã, a comunicação e a transparência dos bancos centrais como ferramentas importantes para a execução da política monetária, tanto nas últimas como nas próximas décadas.
Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed) até janeiro deste ano, também exortou o papel da transparência em discurso em Toronto na terça-feira, admitindo que o Banco CENTRAL americano poderia ter se comunicado melhor com o público durante a crise. Esta foi uma menção clara ao imbróglio que sucedeu sua previsão de que o “tapering” (redução do programa de ativos) estava próximo em maio do ano passado, causando grande turbulência no mercado, especialmente entre os emergentes – quando, de fato, isso só ocorreria em dezembro.
Draghi, por outro lado, foi hábil em contornar o estresse dos investidores no pior momento da crise na zona do euro, quando os países periféricos sofriam com escaladas de alta de juros nos títulos soberanos, desconfiança na capacidade de financiamento e queda generalizada nos preços dos ativos. Em julho de 2012, em conferência em Londres, fez a promessa que mudaria o rumo da crise: “Dentro do nosso mandato, o BCE está pronto para fazer o que for preciso para preservar o euro. E acredite em mim, será suficiente”.
Foi convincente no momento a ponto de reverter os piores picos de volatilidade vistos desde a eclosão da crise americana.
Em setembro do mesmo ano, mostrou a “bazuca”, como foi chamado o programa de compra de títulos soberanos no mercado secundário, denominado OMT (Outright Monetary Transations). Tal programa nunca foi acionado pelos países em dificuldades, já que impõe condicionalidades aos pleiteantes.
Depois da adoção de um “forward guidance” (não quantitativo, como o do Fed e do Banco da Inglaterra na primeira fase desse instrumento para orientar a mudança do viés de juros), Draghi agora aponta para um passo mais institucional na questão da comunicação. Isso ocorre num momento em que as especulações em torno do anúncio de medidas, como a compra de ativos em larga escala (QE), entram definitivamente no radar dos investidores.
Segundo ele, o BCE está refletindo sobre a publicação de atas das reuniões “com uma explicação mais detalhada sobre o raciocínio por trás das decisões do Conselho e dar um sentido da discussão e os seus principais argumentos”. Mas manteve a preocupação em reafirmar que qualquer relato deve “preservar a independência dos membros do Conselho de Administração”, tema que está sempre em voga na diretoria do BCE.
Entender melhor a “função de reação” da autoridade monetária é o fio condutor dessa medida, como fazem outros bancos centrais importantes, como nos EUA, Japão e Reino Unido.
Sobre as possíveis ações que podem ser tomadas para combater um cenário de deflação na zona do euro, Draghi enumerou o que parecem ser os passos, dizendo que o conselho “também simplificou ainda mais a função de reação, estabelecendo algumas contingências que justificariam uma reação da política monetária“.
Em primeiro lugar citou “um aperto injustificado da política monetária (a partir de desenvolvimentos nos mercados monetários de curto prazo, de títulos globais ou de câmbio), que poderia ser combatido através de medidas mais convencionais”. Em segundo, “maior comprometimento na transmissão da política, em particular através do canal de empréstimos bancários, para o qual um LTRO [programa de refinanciamento de longo prazo] ou um programa de compra de ABS [ativos securitizados] podem ser a resposta certa”. Em terceiro lugar, “um agravamento das perspectivas de médio prazo para a inflação, o que justificaria um programa de compra de ativos de base mais ampla”.
Nas palavras do presidente, “o conselho será igualmente ativo na proteção contra a inflação e a deflação”. Se o BCE está preparando o terreno para anunciar medidas ou apenas ganhando tempo, é o que se verá em breve.
Fonte: Valor Econômico