Banco Central autônomo

    Celso Ming

    Os principais candidatos da oposição às eleições presidenciais já adiantaram que defenderão a institucionalização, em lei, da autonomia operacional do Banco CENTRAL. Este pode não ser um tema de forte apelo eleitoral, mas aponta para a solução de um problema que é foco de insegurança desde 1988.

    Entre as esquerdas brasileiras, ainda há muito debate sobre o assunto. Muitos ainda definem um modelo centralizado de governo, que também não pode abrir mão do controle total sobre as políticas executadas pelo Banco CENTRAL.

    A plena autonomia decorre da necessidade de preservar um dos mais importantes patrimônios do País, a moeda, do assédio dos políticos. Deixar a decisão de emitir nas mãos de quem só pensa em expandir as despesas públicas seria nomear o lobo para tomar conta da carneirada. Em condições assim, não é possível garantir nem estabilidade econômica nem estabilidade política.

    A objeção de que não se pode, numa democracia, entregar tanto poder agente que nem é escolhida pelo voto, como ainda se argumenta por aí,não se sustenta. Os membros do Judiciário também detêm enorme parcela de poder. Os juízes absolvem ou condenam, soltam ou prendem e impõem sanções. E, no entanto, não são escolhidos pelo voto da população. Operam com total autonomia, tanto de fato quanto na lei.

    Durante o governo Fernando Henrique, a autonomia do Banco CENTRAL foi relativa. Quando em 1999 o então nomeado presidente do BancoCENTRAL, Chico Lopes, inventou aquele “câmbio de banda endógena que se movimenta em diagonal”, que ninguém entendeu, o pânico se instalou na economia e o então ministro da Fazenda, Pedro Malan, não vacilou em intervir. Destituiu o presidente do Banco CENTRAL e, por algumas horas, comandou pessoalmente a mesa de câmbio.

    Ao longo do governo Lula, a direção do Banco CENTRAL teve relativa independência, mais por decisão do governo do que por imposição das circunstâncias. E neste primeiro mandato Dilma, o Banco CENTRAL perdeu credibilidade porque a autonomia ficou prejudicada pelas notórias interferências do Palácio do Planalto. 

    O regime atual, em que qualquer diretor do Banco CENTRAL é nomeado pelo governo e que, a qualquer momento e com o simples manejo de uma esferográfica, pode ser destituído “ad nutum”, é ruim porque deixa o sistema financeiro vulnerável a pressões.

    Há quem argumente que a autonomia do Banco CENTRAL não tem de ser institucionalizada; tem de ser conquistada todos os dias, como o amorno casamento. Mas, também como nos casamentos, isso só funciona episodicamente. Se os dirigentes de qualquer Banco CENTRAL agem sob coação da demissão, não podem sempre adotar a melhor opção em defesa da moeda. A autonomia só fica garantida com mandatos fixos, não coincidentes com os dos chefões do poder executivo, e só passíveis de interrupção em casos graves.

    O artigo 192 da Constituição prevê lei complementar que regule todo o sistema financeiro e também o Banco CENTRAL. O principal anteprojeto nesse sentido, cujo relator é o senador Francisco Dornelles (PP-RJ), está parado no Congresso desde 2007. 

     

    CONFIRA

    • Encomenda aos chineses

    A respeito do comentário do leitor Hugo Wisenberg publicado nesta Coluna no dia 23 de abril, a Enseada Indústria Naval esclarece:

    “(1) A Odebrecht não tem participação societária no Estaleiro Cosco contratado pela Enseada Indústria Naval para as etapas iniciais de conversão das Plataformas P-75, P-76 e P-77.

    (2) A Enseada Indústria Naval é formada por Odebrecht, OAS, UTC e Kawasaki Heavy Industries. No Rio de Janeiro, a Enseada atua no Estaleiro Inhaúma, sob gestão da Petrobrás. A P-74 está sendo integralmente convertida no Brasil e parte dos serviços de desmontagem e renovação estrutural dos demais navios está sendo feita no Cosco. Os demais serviços na P-75, P-76 e P-77 serão finalizados pela Enseada e outras empresas no Brasil.

    (3) A conversão do casco da P-74 será concluída ainda este ano. A dos demais cascos, em 2015. Concluída essa etapa, a construção e a integração de módulos (topsides) serão feitas no Brasil. A Enseada gerou cerca de 5 mil empregos na conversão da P-74, efetivo que será mantido para a conclusão das demais plataformas”.

    Fonte: O Estado de S.Paulo

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