As perspectivas de uma robusta recuperação global foram novamente atenuadas pelo Fundo Monetário Internacional. O crescimento do PIB mundial este ano perderá 0,3 ponto percentual ante a estimativa de abril e deverá evoluir 3,4%. Uma expansão na casa dos 4% continua sendo o cenário mais provável para o ano que vem.
Quatro surpresas negativas foram responsáveis por frear a recuperação. Pairando sobre todas elas, com potencial de provocar estragos na economia mundial, está a política de normalização monetária dos Estados Unidos, cujo ritmo pode provocar novas e fortes turbulências nos mercados e redirecionamento dos fluxos de capital, como ocorreu em meados do ano passado.
O acúmulo de estoques e um clima extremo fizeram a economia americana levar um tombo e encerrar o primeiro trimestre com uma contração de 2,9%. Dados posteriores indicaram que a retração é coisa do passado, mas ainda assim reduzirá a taxa de crescimento no ano para 1,7%. Se novas surpresas desagradáveis não ocorrerem, especialmente no campo monetário, o país poderá se expandir em 3% em 2015. Mas o mal do início do ano já está feito.
Do lado da China não vieram notícias francamente animadoras. O FMI espera que o PIB chinês cresça 7,4% este ano e 7,1% no próximo, perto da fronteira que os dirigentes chineses traçaram como tolerável, enquanto tentam mudar os rumos da economia em direção ao maior consumo doméstico. O governo chinês enfrenta uma bolha imobiliária e uma bolha de crédito e tem adotado até agora uma abordagem pragmática e muito cautelosa. Como resultado, os problemas de inadimplência que batem no sistema bancário estão sendo amortecidos, mas não resolvidos, com medidas paliativas como redução de compulsórios, por exemplo. Há excesso de capacidade em vários setores da indústria, resultado de uma taxa de investimento muito alta durante anos.
Na zona do euro, os riscos para a recuperação ainda estão muito presentes, entre eles, como aponta o FMI, o de estagnação a médio prazo. O Fundo estima que a política de juros muito baixos e os estímulos ao crédito decididos pelo Banco CENTRAL Europeu podem fazer com que o bloco monetário cresça 1,1% este ano e 1,5% no próximo.
Os riscos geopolíticos se elevaram, aponta o Fundo, e eles têm como principal protagonista a Rússia e suas intervenções na Ucrânia. Eles estão fazendo não só com que a economia russa caminhe para perto de uma contração (previsão de avanço de apenas 0,2% este ano) como também exercendo pressão altista sobre os preços do petróleo.
Peso importante no cenário menos otimista tiveram vários países emergentes, entre eles o Brasil, que realizaram apertos monetários e cujas economias estão se contraindo ainda. A contração não se dá apenas pelos efeitos das medidas monetárias mas, em vários casos, por problemas do lado da oferta da economia que detêm sua expansão. Essa claramente é a situação do Brasil, o país cuja perspectiva de crescimento foi a mais rebaixada pelo Fundo, de 1,9% para 1,3% este ano, ou 0,6 ponto percentual menos. A previsão da instituição para 2015 é de um crescimento ainda baixo, de 2%. Ambas as estimativas são maiores do que as feitas pelos analistas e consultores domésticos. Os países emergentes deverão avançar bem mais rapidamente que o Brasil, com exceção da Rússia. A média estimada para o ano é de 4,6% e, para 2015, de 5,2%.
Uma virada inesperada da política monetária, com um ritmo de elevação da taxa de juros mais rápido que o previsto, com uma mudança na orientação dos mercados de fuga dos ativos de alto risco poderia ensombrecer um quadro econômico que, seis anos depois da crise financeira, ainda está longe de ser brilhante ou tranquilizador.
Se as previsões do Fundo se materializarem, as correções de rumo que o Brasil precisa realizar não deverão contar com grande estímulo externo. O comércio mundial está evoluindo a ritmo menor que o previsto – 4% em 2014 – e poderá chegar um pouco mais perto das taxas anteriores à crise em 2015, com 5,3%. Entretanto, as previsões para os preços das commodities, exclusive petróleo, são de baixa moderada este ano (-1,7%) e um pouco mais acentuada no ano que vem (-3,6%). Os termos de troca continuarão desfavoráveis ao Brasil.
Fonte: Valor Econômico