Por Antonio Perez | De São Paulo
Os juros futuros mais ligados às expectativas para o rumo da política monetária avançaram ontem na BM&F. Longe da calmaria típica das segundas-feiras, o pregão foi agitado, com boa liquidez e oscilações relevantes das taxas ao longo do dia. Enquanto os contratos ligados diretamente às expectativas para o rumo da taxa básica Selic terminaram a sessão em alta, à espera do discurso de hoje do presidente doBanco CENTRAL, ALEXANDRE TOMBINI, no Senado, os mais longos recuaram acompanhando o ambiente externo.
Segundo operadores, a incerteza sobre o rumo da política monetária pautou os negócios. Se antes a dúvida era se haveria corte da taxaSelic, a ordem agora é se proteger contra uma eventual alta. Riscos de depreciação da moeda brasileira durante o processo eleitoral e o realinhamento dos preços administrados turvam o cenário para a inflação. E isso se tra duzir em um aumento das taxas.
O mercado quer saber se o presidente do BC vai chancelar em sua sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) as declarações do diretor de assuntos internacionais do BC, Luis Awazu Pereira, em entrevista exclusiva ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, na sexta-feira.
Awazu afirmou que os juros subiram acima “de qualquer medida razoável de neutralidade” e permanecerão neste patamar pelo tempo “adequado”. Embora não seja possível traduzir com precisão o adjetivo adequado em número de reuniões do Comitê de política monetária(Copom), o recado pareceu claro para o mercado: não deve haver alteração da Selic neste ano.
“O mercado avalia a possibilidade de o TOMBINI se mostrar mais firme, focando mais na resistência da inflação e menos na perda de dinamismo da atividade”, afirma Fernando Aldabalde, gestor da Áquilla Asset Management.
O contrato DI de janeiro de 2015 – que abriga as apostas para o rumo da Selic neste ano – subiu um degrau, de 10,81% para 10,82%. Com mínima de 11,24% e máxima de 11,36%, o contrato para janeiro de 2016 – reflexo das expectativas para a taxa básica daqui até o fim de 2015 – fechou a 11,31%.
O dia também foi de volatilidade entre os contratos mais longos. Os DIs com prazo a partir de janeiro de 2017 devolveram uma dose dos prêmios de risco adquiridos ao longo da semana passada. O mercado busca ajustar a inclinação da curva em meio a dois riscos: o resultado das eleições e o ritmo de normalização da política monetária americana.
As tesourarias, que haviam celebrado o avanço da oposição na corrida presidencial com um corte expressivo dos prêmios de risco, esperam agora a pesquisa do Ibope, na quinta-feira.
O fim da calmaria externa, contudo, pode impedir que o mercado se entregue de todo a especulações eleitorais e tente achatar as taxas em caso de avanço das intenções de voto da oposição na corrida presidencial.
As movimentações na semana passada mostraram que o período de baixíssima volatilidade pode ter ficado para trás, à medida que aumenta a sensibilidade do mercado aos indicadores da economia americana. Uma elevação dos “yields” (retornos) dos Treasuries (títulos do Tesouro dos EUA) pode pegar muita gente no contrapé e fazer estragos em que busca lucrar com um eventual fechamento da curva a termo.
Com mínima de 11,56% e máxima de 11,69%, o DI de janeiro de 2017 fechou a era negociado a 11,59% (ante 11,63% na sexta-feira). Entre mínima de 11,88% e máxima de 12%, o DI de janeiro de 2021 fechou a 11,87%, ante 11,97% na sexta-feira.
Fonte: Valor Econômico