Dólar e juros sobem com corrida eleitoral

    Por José de Castro e Lucinda Pinto | De São Paulo

    O dólar e os juros futuros voltaram a subir com força ontem, influenciados novamente pelo noticiário eleitoral doméstico e pelo ambiente de cautela no exterior. No caso dos juros, a alta da moeda e dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano marcaram o movimento do dia.

    O dólar fechou em alta de 1%, a R$ 2,2864, renovando a máxima de encerramento em duas semanas. Em apenas dois dias, o dólar subiu 2,10% ante o real. Embora mais forte, essa alta está alinhada às verificadas ante outras divisas emergentes. No mesmo período, o dólar subiu 1,77% contra a lira turca, 2,07% frente ao rand sul-africano e 1,31% na comparação com o peso mexicano. Ante uma cesta composta por seis moedas de países desenvolvidos, a valorização é bem menor, de 0,35%.

    Após dias de variações modestas, investidores tornaram a operar com mais força em cima de expectativas sobre o rumo da política monetáriaamericana, a cerca de uma semana da reunião do Fed (Banco CENTRAL dos EUA). Os ajustes começaram na segunda, depois da divulgação de um estudo do Fed de San Francisco, segundo o qual os agentes econômicos podem estar subestimando os riscos referentes à velocidade com que oBanco CENTRAL americano pode elevar os juros.

    O J.P. Morgan diz que o fim da “Grande Moderação 2.0” – expressão utilizada pelo Banco para definir o período de baixa volatilidade nos preços dos ativos financeiros – pode estar mais próximo do que o antecipado. Para o estrategista-chefe de juros e câmbio internacionais do Banco, John Normand, olhando apenas para os rendimentos dos Treasuries (títulos do Tesouro americano) de dois anos, a leitura ainda é de que a economia americana ainda não deve entregar um crescimento sustentável de 3% no segundo semestre.

    “Mas com o BCE [Banco CENTRAL Europeu] e a Escócia trazendo mais surpresas do que o imaginado, o movimento está ocorrendo antes do esperado”, afirma, referindo-se ao aumento da volatilidade. Normand avalia que a volatilidade ainda está abaixo do seu “valor justo”, o que sugere haver espaço para uma correção de alta à frente.

    A perspectiva de aumento da volatilidade, no entanto, ainda não é acompanha por uma aposta clara de aumento antecipado de juros nos EUA. “Não há sustentação nessa ideia de que o Fed pode subir o juro antes. O Fed vai precisar de alguns meses para avaliar o estado da economia no pós-tapering, e isso quer dizer que o aumento de juro vai vir mesmo no segundo semestre de 2015, como se espera”, afirma o operador de câmbio de uma corretora. “Passado esse estresse agora, o dólar volta um pouco, embora ainda siga mais forte.”

    Além do cenário externo, as atenções aqui seguem voltadas para as eleições. Até o fim da semana são esperados resultados de pesquisas Datafolha, Vox Populi e Ibope. Ontem, a pesquisa CNT/MDA mostrou que a vantagem de Marina Silva (PSB) sobre Dilma Rousseff (PT) no segundo turno caiu para 3 pontos percentuais, metade da verificada na pesquisa divulgada no dia 27 de agosto.

    Não bastasse a questão eleitoral, o mercado teve de lidar ainda com a notícia de que a agência de classificação de risco Moody”s rebaixou a perspectiva para o rating soberano brasileiro de “estável” para “negativa”. A agência reafirmou a nota do país em “Baa2”, mas citou riscos de crescimento baixo e piora em indicadores de dívida.

    O mercado de juros futuros também teve um dia instável e terminou com as taxas em firme alta. Os investidores prosseguiram com o ajuste iniciado na segunda, após três semanas de queda forte. Ao fim da sessão, o contrato DI para janeiro de 2021 fechou em 11,38%. O DI de janeiro de 2017 avançou a 11,55%.

     

    Fonte: Valor Econômico

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