Tombini se transforma em rainha da Inglaterra

    Não bastasse ter transformado o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em um morto-vivo, ao obrigá-lo a ficar no cargo por mais quatro meses, mesmo estando demitido, a presidente Dilma Rousseff destruiu de vez a credibilidade do Banco CENTRAL. No vale-tudo para se manter no poder, ela afastou qualquer possibilidade de autonomia operacional da autoridade monetária para definir a taxa básica de juros (Selic) e combater a inflação.

    Desde que tomou posse, em janeiro de 2011, Dilma deixou claro o seu objetivo de derrubar a Selic. Era questão de honra para ela ostentar um troféu político. Para tanto, obrigou o BC a cortar os juros ao menor nível da história, 7,25% ao ano, mesmo com a inflação próxima ao teto da meta, de 6,5%. Aproveitou o feito para tripudiar dos críticos do governo e sustentar seu elevado nível de popularidade à época.

    A façanha, no entanto, durou apenas seis meses. Em abril de 2013, o BC, mesmo a contragosto do Palácio do Planalto, teve de elevar a taxa básica, pois a carestia dava sinais de descontrole. O processo de aperto monetário durou um ano, com a Selic atingindo 11%, nível superior aos 10,75% que Dilma havia recebido de seu padrinho político, o ex-presidente Lula. O mais impressionante foi que, mesmo com o arrocho e o país mergulhado na recessão, a inflação se manteve, intacta, no limite de tolerância ou acima dele.

    Boa parte dessa resistência inflacionária está na desconfiança dos agentes econômicos em relação ao real compromisso do Banco CENTRAL de manter o custo de vida em patamares aceitáveis. Todos acreditam que a autoridade monetária foi cooptada pelo Planalto, eliminado os aspectos técnicos da política de juros. O presidente do BC, ALEXANDRE TOMBINI, rebateu o quanto pôde essa visão. Mas não conseguiu recuperar a credibilidade que a instituição precisa para seguir à risca a sua missão: preservar o poder de compra da moeda.

    Agora, se havia alguma chance de o BC reconquistar a confiança para ancorar as expectativas de inflação no centro da meta, de 4,5%, ela se desfez por completo. Na busca pela reeleição, Dilma deixou claro que é contra a autonomia da autoridade monetária, sobretudo se a independência for prevista em lei. Com o intuito claro de atacar Marina Silva, do PSB, que defende um Banco CENTRAL independente e pode derrotá-la no segundo turno, a petista bradou aos eleitores: ” Isso (autonomia do BC) significa entregar aos banqueiros um grande poder de decisão sobre sua vida e sua família. Os juros que você paga, seu emprego, preços e até salário”.

    Ou seja, Dilma já avisou: caso reeleita, o BC fará o que ela quiser. TOMBINI, cotado para permanecer no cargo, e sua diretoria serão apenas rainhas da Inglaterra. Os rumos da Selic, como já acontecia, mas poucos tinham certeza, serão definidos no Palácio do Planalto. As reuniões do Comitê de política monetária (Copom) se transformarão apenas em palco de encenação. O BC fingindo que é autônomo e a maioria da população fingindo que acredita que os juros estão carregados de aspectos técnicos.

     

    Pá de cal na credibilidade

    A crise de confiança que mina o Produto Interno Bruto (PIB) deve se agravar em um eventual segundo mandato da presidente Dilma. Ao jogar uma pá de cal na credibilidade do Banco CENTRAL, a petista destruiu um bem precioso: a previsibilidade. Os agentes econômicos e os consumidores precisam olhar para a frente e ter a certeza de que poderão investir sem traumas e consumir se o temor de perder seus empregos. Se, antes de Dilma assumir publicamente que quem define a política de juros é ela, o nível de confiança de investidores e população estava no chão, imagine como ficará agora que estão cientes do total descompromisso com o combate à inflação?

     

    Fiando-se em Meirelles

    » O Palácio do Planalto acredita que, mesmo com o discurso contra a autonomia do Banco CENTRAL, os investidores terão de dar o braço a torcer com a nomeação de Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda em um eventual segundo mandato de Dilma. A petista praticamente definiu o nome do sucessor de Guido Mantega depois de Lula retirar de Meirelles a garantia de que ele não apoiaria publicamente a candidatura de Marina Silva.

     

    Novo golpe em Mantega

    » A opção de Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda é, por sinal, mais um ataque frontal de Dilma contra Guido Mantega. Não é segredo para ninguém que Meirelles e Mantega são inimigos. Assim que assumiu a chefia da equipe econômica de Lula, em 2006, Mantega fez de tudo para limar Meirelles do BC. Não conseguiu, graças aos níveis baixíssimos de inflação entregues pela autoridade monetária, que ajudaram a potencializar a renda dos trabalhadores e dos beneficiários do Bolsa Família, peças vitais para a reeleição de Lula a despeito do escândalo do mensalão.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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