Por Antonio Perez e Lucinda Pinto | De São Paulo
À espera da decisão do Comitê de política monetária (Copom) do Banco CENTRAL (BC) amanhã à noite, os investidores trataram de empurrar as taxas dos contratos de Depósitos Interfinanceiros (DI) curtos ainda mais para cima ontem na BM&F.
Principal veículo para as apostas sobre o tamanho da alta da taxa básica de juros (Selic) neste mês, o DI com vencimento em janeiro de 2015 dominou as negociações. Com giro de mais de 440 mil contratos, a taxa do derivativo avançou de 11,48% para 11,51%. Cálculos da gestora de recursos Quantitas mostram que os juros futuros, no fechamento de ontem, espelhavam 96% de chances de uma alta da Selic em 0,50 ponto percentual, para 11,75% ao ano.
Ecoam ainda pelo mercado declarações recentes tanto do diretor de Política Econômica do Banco CENTRAL (BC), Carlos Hamilton Araújo, quanto do presidente da instituição, ALEXANDRE TOMBINI, dando conta de que o Copom está “especialmente vigilante” e de que não será “complacente com a inflação”, a fim de garantir a “convergência” do IPCA para o centro da meta (4,5%) no “horizonte relevante” da política monetária, ou seja, em 2016.
Depois de se surpreenderem com o aperto em outubro, os investidores interpretam as palavras dos dirigentes do BC como um sinal claro de disposição para aumentar o ritmo de alta da Selic. A despeito da fraqueza da atividade, o reajuste dos preços administrados e a depreciação do real mantêm acesa a expectativa de que o IPCA termine 2015 perto do teto da meta, de 6,5%.
Segundo analistas, embora a nova equipe econômica já tenha acenado com ajuste da política fiscal, não haveria como trabalhar com juros menores sem correr o risco de ver a inflação se afastar ainda mais da meta. Não faltam comentários sobre a rigidez inflacionária provocada pelo elevado grau de indexação da economia. A tese corrente é que, ao aumentar o ritmo de aperto, o BC reduziria o sacrifício para desinflacionar a economia. Além disso, o BC aproveitaria para ratificar sua autonomia operacional, contribuindo para confirmar o perfil mais ortodoxo da política econômica daqui para frente.
Para a chefe de estratégia do grupo americano Jefferies para América Latina, Siobhan Morden, a decisão do Copom será a “primeira amostra” da gestão da equipe econômica no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. ” Não podemos descartar um ritmo mais veloz, com alta de 0,50 ponto, se o BC estiver procurando dar um choque positivo para reduzir as expectativas de inflação e tentar restaurar a confiança”, afirma Siobhan, que, por ora, ainda espera um ciclo de aperto mais moderado, que termine com a Selic em 11,75% ou 12%.
A favor da manutenção do ritmo de alta em 0,25 ponto está o histórico do próprio BC, que na gestão de ALEXANDRE TOMBINI deu preferência a uma estratégia gradualista. Além disso, três dos oito integrantes do Copom votaram contra a alta de 0,25 ponto, para 11,25% ao ano, no encontro de outubro. Eles não apenas teriam que aderir à ideia do aperto como votar agora por um ajuste mais intenso.
Fonte: Valor Econômico