A troika Sarney-Renan-Braga era o esteio do governo no Senado. Resta apenas Renan, que está insatisfeito com o Planalto devido ao veto presidencial ao nome do senador Jucá
O novo esquema de articulação política do Palácio do Planalto já opera como quem tem conhecimento da lista de políticos citados nas “delações premiadas” pelo doleiro Alberto Youssef e pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa na Operação Lava-Jato da Polícia Federal, que apura o escândalo da estatal. Oficialmente, somente têm acesso à lista o juiz federal do Paraná, Sérgio Moro; o procurador-geral da República, Rodrigo Janot; e o ministro Teori Zavascki, relator do processo no Supremo Tribunal Federal(STF). A decisão do governo é jogar ao mar nas eleições da Câmara e do Senado os aliados envolvidos no escândalo.
Na disputa pela presidência da Câmara, cresce o otimismo do Planalto com a candidatura do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). Na avaliação do conselho político do governo, suas chances de derrotar o candidato do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), seriam reais, embora o peemedebista tenha sólido apoio da cúpula de seu partido e da bancada federal, além de engajamento do seu próprio grupo político, que tem forte influência em outras legendas, como é o caso do PP. Cunha rechaça qualquer insinuação de que estaria envolvido no escândalo da Petrobras, contando para isso com um desmentido formal da defesa do doleiro Alberto Youssef de que estaria citado em seu depoimento.
A disputa pela Câmara tem mais um candidato, o líder do PSB, Júlio Delgado (MG), que conta com o apoio do PSDB e do PPS. O Palácio do Planalto aposta numa eleição em dois turnos, na qual a oposição se veria diante do dilema de ter que escolher entre Chinaglia e Cunha se Delgado não for derrotado já no primeiro turno. Diante da crise que se instalará no Congresso a partir da denúncia dos políticos envolvidos no escândalo da Petrobras, estrategistas do Planalto acreditam que é melhor para o governo perder com Chinaglia do que vencer com Cunha. Nesse caso, o desgaste político com sua atuação iria para a oposição e não para o governo.
A nova troika
Mais surpreendente na nova estratégia do Palácio do Planalto são as articulações no Senado. Com a ida do ex-líder do governo Eduardo Braga para o Ministério de Minas e Energia, que era um feudo do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que é candidato não declarado à reeleição, tenta emplacar no cargo o senador Romero Jucá (PMDB-RR). A presidente Dilma Rousseff, porém, vetou a indicação do senador, que já serviu neste posto aos governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
A troika Sarney-Renan-Braga era o esteio do governo no Senado. Resta apenas Renan, que está insatisfeito com o Planalto devido ao veto presidencial ao nome de Jucá. O líder do PMDB, senador Eunício de Oliveira (CE), é outro amuado com o Palácio do Planalto, desde a campanha eleitoral, por causa das eleições no Ceará, nas quais foi derrotado pelo petista Camilo Santana, candidato do então governador Cid Gomes (Pros), que acaba de assumir o Ministério da Educação. Eunício pleiteava o Ministério da Integração Nacional, mas foi preterido por Dilma, que nomeou para o cargo um apadrinhado do PP, Gilberto Ochi, ex-ministro das Cidades.
As relações entre Renan e Eunício já foram melhores. Nas negociações da reforma ministerial, a presença do político cearense na Esplanada não foi uma prioridade de Renan, mas sim a nomeação do ministro do Turismo, o ex-gerente da Assessoria Internacional do Sebrae Vinicius Lages. Nada impede que ambos se acertem, até por uma questão de sobrevivência. Mas Eunício pode querer ser presidente do Senado já, revezando com Renan na liderança do PMDB. Ao Palácio do Planalto, não interessa que o novo líder do governo seja ligado aos dois, como é o caso de Jucá. Isso significaria a formação de uma nova troika peemedebista no Senado, com grande poder de fogo, ainda mais se Cunha vencer as eleições na Câmara.
Fonte: Correio Braziliense