A tensão permanente entre a necessidade de medidas austeras para retomar o crescimento econômico e o desconforto político que elas trazem, fizeram com que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, encontrasse os primeiros limites a sua atuação durante a viagem a Davos, na semana passada.
Não há dúvidas no governo de que Levy tem o respaldo da presidente para levar adiante as medidas de ajuste fiscal. Já quebrou tabus, como restabelecer o realismo tarifário no setor elétrico.
Mas, no governo Dilma, até Levy tem limites. “Ele não é responsável por um novo projeto de desenvolvimento para o país. Tem carta branca para fazer o ajuste fiscal”, diz um privilegiado interlocutor do governo.
Depois que entrevistas do ministro ao Financial Times e a Dow Jones foram publicadas na sexta-feira, a assessoria de imprensa da Fazenda teve que fazer duas notas à imprensa por exigência do Palácio do Planalto.
No primeiro “esclarecimento”, divulgado às 19h12, o ministro explicou que apenas havia tentado contribuir para ampliar o debate quando afirmou que o seguro desemprego estava “defasado”.
Na segunda, que chegou ao email dos jornalistas após as 20h, Levy tentou negar que tivesse falado em racionamento de energia elétrica.
De acordo com mais de uma fonte ouvida pelo Valor, o número de telefonemas e reclamações que autoridades do Planalto receberam ao longo da sexta-feira sobre o que consideram falta de tato do ministro da Fazenda não foi pequeno. Além disso, Levy conseguiu dificultar, no entendimento do Palácio, a articulação que vem sendo feita junto aos movimentos sociais pelo ministro da Secretaria Geral da Presidência, Miguel Rosseto, que anda rouco de dizer que o governo não está tirando direitos trabalhistas.
O Palácio do Planalto também teve o cuidado de não repetir com Levy o desastre midiático já vivido pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, quando teve que desdizer o que afirmara sobre a regra de reajuste do salário mínimo.
Com o ministro da Fazenda, não houve vazamento quase instantâneo da “irritação” da presidente e nem da troca de telefonemas que levaram aos “esclarecimentos”. Pode parecer pouco, mas no jogo de poder, isso faz toda a diferença.
A descrição feita por outra autoridade é que os ministros que chegam ao governo da presidente Dilma Rousseff passam por um período de adaptação. “Primeiro eles acham que vão mandar em tudo.
Depois aprendem que quem manda é a presidente”, explica. Para isso, é preciso que encontrem os limites para sua atuação. Levy tem combinado de antemão com a presidente Dilma os pontos mais importantes de suas intervenções, modelo vem funcionando bem.
Mas se há um recado do episódio da semana passada é que o Palácio do Planalto pode até ter aprendido a não expor os ministros mais importantes do governo ao absurdo do desmentido público, mas ninguém, nem Joaquim Levy, está livre de prestar “esclarecimentos”.
Fonte: Valor Econômico