Por Lucinda Pinto e Vinícius Pinheiro | De São Paulo
Solange Sour, da ARX: BC pode não conseguir interromper ciclo de aperto A trégua na trajetória de alta do dólar na terça-feira foi insuficiente para esfriar a discussão que está dominando as mesas de renda fixa nesta semana: o risco de o Banco CENTRAL ter de reforçar o ciclo de aperto monetário, diante do novo nível do dólar. Ontem, um movimento de correção abriu espaço para um recuo tanto da moeda americana quanto dos juros futuros. Mas, ainda assim, as apostas em uma Selic mais alta no fim do ano não foram eliminadas.
Segundo cálculos do mercado, já tem sido considerada uma taxa básica de juros de 14,25% no fim deste ano, isso quando se olha os contratos de FRA de juros – que indicam a projeção da taxa em um período específico futuro – relativos ao segundo semestre. Para 2016, a projeção é de 13,75%.
Entre economistas, antes do movimento mais recente de apreciação do dólar era majoritária a ideia de que o Banco CENTRAL faria apenas mais uma elevação de 0,25 ponto percentual da Selic, para 13% ao ano. “Mas é possível que o BC não consiga parar o ciclo de aperto monetário se as expectativas piorarem muito”, diz Solange Sour, economista-chefe da ARX Investimentos.
Ela não vê a alta dos juros como “arma” para conter uma desvalorização ainda maior do real neste momento, mas sim um instrumento para fazer frente ao quadro de inflação. “Não vai ser um aumento de 100 ou 150 pontos-base na Selic que vai atrair mais capital no curto prazo.”
Para o economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, a contrapartida da postura do Banco CENTRAL no câmbio – permitindo que a moeda flutue livremente, sem reforço das intervenções via swap ou mesmo com declarações por parte do BC – é fazer uma alta mais forte nataxa de juros. Diante disso, o especialista revisou sua estimativa para o rumo da taxa Selic de 13% – cenário que contemplava o fim do ciclo de aperto monetário em abril – para 13,5%, com uma alta de 0,50 ponto no próximo encontro seguida de uma última dose de 0,25 ponto.
“Se o Banco CENTRAL quer tirar o pé do câmbio, ele tem de apertar mais os juros”, diz Weeks. Ele afirma que há um efeito relevante sobre a inflação proveniente da desvalorização do câmbio, de cerca de 8% no mês, que contaminará também o ano de 2016 e que não pode ser ignorado. Em seu cenário, o IPCA deve subir 8,2% este ano e 6,10% no ano que vem.
Para Paulo Vieira da Cunha, ex-diretor do Banco CENTRAL e atual chefe de pesquisa macroeconômica do ICE Canyon, com essa instabilidade no câmbio “a inflação vai chegar fácil a 10%”, diz. Assim, ele acredita que a desvalorização cambial vista até aqui pode ser insuficiente para equilibrar as contas externas. E, assim, a cotação pode “escorregar” um pouco mais e alcançar R$ 4,00 em algum momento, afirma.
Por isso, para Vieira da Cunha o Banco CENTRAL terá de prosseguir com o aperto monetário, mas dificilmente verá a inflação cair antes de meados de 2016.
Na contramão, a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, diz que uma alta maior da Selic não é a melhor forma de conter a recente apreciação do dólar. “Usar a política monetária para tratar de um movimento com características de curto prazo é complicado e pode piorar o equilíbrio da economia”, afirma.
Fonte: Valor Econômico